Fim da Picada!
No último boletim epidemiológico sobre a dengue, publicado pelo Ministério da Saúde, os índices da doença alcançaram marcas preocupantes, colocando o país em situação de epidemia. Ao todo já foram 745,9 mil casos notificados de dengue até a 15ª semana deste ano, 401,5 mil deles somente no estado de São Paulo, onde os casos bateram recorde desde o início do balanço oficial, em 1999. O número de óbitos em decorrência da doença chegou a 169, deixando o território paulista em alerta máximo.
“Apesar de ser uma doença conhecida de todos, nos últimos anos ela só tem aumentado, e seu avanço é resultado de múltiplos condicionantes”, explica a professora de ciências biológicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Esther Lopes Ricci. “Em primeiro lugar está o intenso fluxo rural dos últimos trinta anos, aumentando a população da cidade, que não dispõe de uma condição satisfatória de habitação e saneamento básico; 20% dessas pessoas vivem hoje em favelas, cortiços, casas invadidas, ou seja, em locais onde a coleta de esgoto é irregular, o que favorece a incidência da dengue.”
Outro fator que deve ser levado em consideração, aponta a professora, é a quantidade de embalagens descartáveis que não são eliminadas de maneira adequada. “O acúmulo desses materiais, como plástico, alumínio e isopor, em casa ou nos espaços públicos, aumenta a proliferação do mosquito transmissor da doença, pois são materiais capazes de reter a água. Além disso, a intensa produção de automóveis hoje também agrava esse quadro, pois aumenta o número de pneus expostos inadequadamente no meio ambiente”, revela.
Ainda de acordo com Esther, a maneira como se dá o combate à dengue apresenta limitações. “As atividades da Vigilância Sanitária, em nível municipal, necessitam de uma legislação que dê apoio às práticas para identificar e eliminar criadouros de mosquitos em pontos considerados estratégicos, como borracharias, ferro-velhos, casas abandonadas, terrenos baldios e cemitérios. Por outro lado, existe também a resistência da população em deixar os agentes entrarem em suas casas para fazer a inspeção.”
Um dos bairros da capital com o menor índice da doença, a Vila Mariana também tem registrado aumento nos casos, como revela o relatório da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa). De acordo com o balanço, os números de casos autóctones e incidências da doença no bairro não param de crescer. Em 2013 foram registrados 14 casos e 10,7 incidências; no ano seguinte os números subiram para 35 casos e a incidência foi de 26,8. Neste ano, a situação se agravou ainda mais, sendo que até o momento já foram contabilizados 129 casos e 98,3 incidências de dengue no bairro.
O Pronto Atendimento do Hospital Santa Cruz, por exemplo, tem registrado um grande aumento nos casos de pacientes com dengue nesses primeiros meses de 2015. “No período entre janeiro e abril de 2014 foram registrados 154 casos da doença; no mesmo período deste ano o número já chegou a 1.338”, compara o médico Roberto Nishio, responsável pelo Pronto Atendimento do centro hospitalar.
Para amenizar as filas nos hospitais, uma tenda foi inaugurada, no dia 8, no Hospital São Paulo. A instalação possui uma máquina de teste rápido de sangue, que possibilita a contagem de plaquetas para a identificação de eventuais agravamentos e potenciais evoluções para dengue hemorrágica. Os munícipes devem primeiro procurar a unidade de saúde junto à tenda; após uma triagem inicial, aqueles que têm suspeita de dengue recebem atendimento, orientação e tratamento específicos para a doença.
Na última reunião do Conselho de Segurança da Vila Mariana (CONSEG), muitos vizinhos se mostraram preocupados com o perigo que representam as casas abandonadas no bairro. Pelas ruas, a preocupação não diminui diante da quantidade de lixo acumulado ao redor de postes e árvores. Os casos têm se espalhado; somente na Rua Paulo Virgínio, uma travessa da Rua Bagé, cinco pessoas foram infectadas pela doença.
O alto número de residências abandonadas é um dos principais desafios no combate à dengue, como explica o chefe de gabinete da subprefeitura, Renato Galindo: “Todos os casos que recebemos, procuramos resolver o mais rápido possível, e encaminhamos a fiscalização para averiguar a denúncia. A dificuldade que temos hoje se dá por conta dos imóveis abandonados, pois precisamos localizar o proprietário. Quando o identificamos, intimamos para que libere o acesso dos agentes para fazer uma vistoria no local”.
“O cuidado da população é muito importante no combate à doença, mas, em muitos casos, essa prevenção se dá de maneira incompleta”, alerta Esther. Apenas esvaziar um recipiente não é o suficiente para combater a dengue, pois os ovos resistem ao ressecamento e podem ficar até 450 dias sem água. Então, se apenas retirar a água e depois voltar a chover, esses ovos irão eclodir. “O ideal é lavar o local com uma buchinha e, se for um material descartável, é necessário dar um fim adequado a ele.”
A principal medida adotada pelo Ministério da Saúde no combate à dengue, o chamado fumacê, tem sido muito questionada, uma vez que a sua aplicação elimina apenas o mosquito, e não os ovos, tornando-se apenas uma medida paliativa – já que a fêmea pode gerar entre 150 e 200 ovos de cada vez. Outro ponto muito debatido é a relação entre as esferas competentes no caso. O fumacê foi escolhido pelo Ministério da Saúde, que é Federal; os recursos para aplicá-lo competem ao governo do estado, enquanto a sua aplicação fica por conta do município.
A transmissão da dengue se dá quando o mosquito fêmea (Aedes Aegypti e Aedes Albopictus) pica uma pessoa contaminada pela dengue. Nesse momento o mosquito contrai o vírus, que permanece na saliva da fêmea, podendo picar mais de uma pessoa e transmitir a doença. Ele atua principalmente nas primeiras e nas últimas horas do dia, e a picada não é perceptível, pois o mosquito cospe saliva contendo substâncias analgésicas. A doença se dá quando as partículas de vírus são injetadas na corrente sanguínea da pessoa.
Neste momento, a colaboração de todos é essencial, seja dentro de casa ou na rua. “Temos que direcionar nossos esforços neste momento para que todos estejam cientes da importância de tomar os cuidados necessários para não deixar a doença avançar no bairro”, reforça Galindo.
Identifique o mosquito
– Possui um tamanho reduzido, algo em torno de 0,5 centímetros de comprimento;
– Sua cor é preta, porém possui manchas brancas ao longo de seu corpo e pernas;
– Diferente dos pernilongos convencionais, o ruído do mosquito da dengue é muito baixo, quase imperceptível;
– A fêmea se alimenta de sangue, principalmente sangue de seres humanos e primatas;
– Ao picar, o mosquito da dengue aplica um substancia anestésica que faz não perceber a dor da picada;
– Esses mosquitos costumam voar em uma altura de cerca de meio metro do solo. Sendo assim, as partes que eles mais atacam são os pés, tornozelos e pernas;
– O principal período de atividade do mosquito esta nos turnos da manhã e no final da tarde;
– Ao nascerem, as larvas do mosquito apre-sentam a cor branca, porém em questão de poucas horas passam a ser pretas.