Todo mundo sabe que São Paulo era chamada de “terra da garoa”. O frio daqui era úmido, garoava quase todos os dias e, no inverno, sempre geava. Meu pai tinha uma chácara próxima à Rua Sena Madureira, onde cultivava frutas e legumes. Era só ele ver o céu num tom de azul e cheio de estrelas, que já sabia se ia gear. Nessas noites, ele logo ia para a cama, para acordar mais cedo no outro dia. Levantava ao amanhecer para jogar água e descongelar a plantação. Meu pai sempre reclamava que os mamoeiros eram os mais prejudicados com a geada.

Eu e meus irmãos aproveitávamos o tempo para colocar um balde de água fora de casa, só para, de manhã, ao acordar, ver a fina camada de gelo que se formava em sua superfície. Nessas épocas frias, fazíamos uma fogueira e passávamos as noites ao redor dela, assando batata doce, fazendo pinhão, quentão e pipoca. Bons tempos…

Não entendo muito dessa história de aquecimento global, descongelamento das calotas polares etc. — essas coisas que a gente vê nos jornais. Mas posso dizer que antigamente as estações do ano eram definidas. Não havia essas mudanças bruscas de temperatura, como acontece hoje em dia. Eram três meses de calor e três meses de frio: Primavera e Outono eram Primavera e Outono. Também não existiam essas tempestades fortes de verão — que deixam a cidade embaixo d’água. Sou a prova viva de que o clima mudou muito com o passar dos anos. Às vezes me parece que temos as quatro estações do ano no mesmo dia!