O Natal na Vila Mariana
Nasci em 1917 e não em 1927, como saiu na minha coluna da edição anterior… Então, tenho ainda mais 10 anos de memória para contar como era o Natal e o Ano Novo no começo do século XX – uma época em que ainda não tinham nem inventado o Papai-Noel! Presépios e árvores de Natal enfeitavam as casas e as ruas eram todas decoradas com papel de seda. Todos os moradores tinham forno de barro no quintal, galinheiro e até chiqueiro – ainda era permitido – e a comida era toda preparada em casa. O abate dos animais começava dias antes. A família se reunia para a Ceia do dia 24, mas era o almoço do dia seguinte a melhor festa! Minha família era muito grande e se reunia na casa do meu avô, na Humberto I. A festa começava ao meio-dia e terminava só às 9 horas da noite. Parentes e vizinhos levavam seus instrumentos musicais para tocar durante todo dia e a comunidade trocava pratos de alimentos. As crianças recebiam de presente sapato e roupas novas… Depois, elas tinham o dever de percorrer toda a vizinhança para desejar boas festas. Para nós era um prazer, pois ganhávamos em cada congratulação uma moeda que guardávamos num cofrinho feito de barro. Para nós crianças, o vizinho era o papai-noel! Os postes elétricos de ferro eram os nossos fogos de artifício – era costume na passagem do Ano Novo tirar o máximo de barulho dos postes com um martelo . As várias fábricas na região entravam juntas na comemoração, apitando até o amanhecer. Todo mundo comemorava pelas ruas e era aquela barulheira! No Natal da Vila Mariana de antigamente comemorávamos de verdade o nascimento do menino Jesus. Hoje em dia, todo mundo só pensa nos presentes…