Memórias de seu chiquinho

A Subprefeitura está reformando a calçada do Largo Senador Raul Cardoso. Já era tempo, afinal, foi ali, onde hoje é a Cinemateca Brasileira, que em 1887 começou a funcionar o Matadouro Municipal. Ele foi um grande marco para o progresso da região, pois foi onde muitos imigrantes italianos conseguiram seu primeiro emprego. 

Os tripeiros, que compravam miúdos no Matadouro Municipal, saíam pelas ruas com suas carroças para atender à comunidade. Eles compravam terrenos só para servir de pasto para os seus cavalos, que eram guardados nas ruas Humberto I e Rio Grande.

Meu pai chegou em 1909 e, após algumas tentativas com subempregos, passou a trabalhar com alguns familiares, que já estavam aqui, estabelecidos na Rua Humberto I, como vendedor de miúdos de boi. Esse comércio era muito lucrativo, o que fez com que muitos italianos se interessassem pela atividade — na sua maioria, eles vieram do Sul da Itália, das mesmas províncias, formando assim uma grande família, com laços muito fortes de amizade.

Lembro-me do Córrego do Sapateiro, que passava em frente ao Matadouro e que, devido à matança dos animais, deixava a água vermelha de sangue. O córrego passava na frente da casa de meu pai e corria para a região chamada Invernada dos Bombeiros, que em 1927 

foi doada ao Instituto Biológico e que hoje é o Parque Ibirapuera.