Joga direito aí, seu porco ensebado!

Foi com esse xingamento simpático que começou uma briga entre o Levy e um moleque que jogava bola com a gente no fundo do Biológico, já dentro do Ibirapuera. O pau quebrou. O Levy logo falou que “porco ensebado” era a tia do moleque e pronto. Estava armada a confusão.

Só prá vocês entenderem: depois de muitos anos nós fomos saber que “porco ensebado” era um monumento inaugurado em 1952 no Ibirapuera. Uma escultura de Ricardo Cipicchia que representa a delicada cena de dois meninos tentando pegar um porco ensebado escorregando pelas mãos deles. Hoje, quase todo Vilamarianense conhece esse monumento. Essa e tantas outras imagens, estátuas e monumentos sempre estiveram presentes nas nossas cenas e no nosso cotidiano na Vila Mariana. 

Eu e o Levy sempre andamos muito a pé pelo nosso bairro quando éramos moleques e depois, quando compramos carro, rodamos o bairro de cabeça pra baixo. Temos muitas histórias com monumentos e estátuas. Tem monumentos que enaltecem os colonizadores de São Paulo, tem o monumento aos imigrantes portugueses com a estátua de Pedro Álvares Cabral, projetado pelo arquiteto Agostinho Vidal. Tem estátua em homenagem a Chico Mendes dentro do Ibirapuera, tem Cristo Crucificado, tem “marco de divisa”, tem montagens mais modernas como a “aranha” no MAM ou a âncora no Ibirapuera.

No largo Ana Rosa, nos anos 50-60, bem no centro, de frente para o Cine Cruzeiro, tinha a estátua da “Diana a Caçadora”. A gente achava ela linda. Nua. Imponente. A escultura foi feita em granito em 1944 pelo artista Lelio Coluccini a pedido do prefeito Prestes Maia para ser colocada no largo. Lá ela ficou, linda e impávida até os anos 70, quando as obras do metrô mexeram na composição arquitetônica do largo Ana Rosa e a nossa “Diana” querida foi transferida para o Ibirapuera, o que nos deixou bastante irritados.

Naquela praça Tulio Fontoura em frente ao Ibirapuera tem uma estátua lindíssima de Mahatma Ghandi doada pelo governo da Índia em reconhecimento à Associação Palas Athena, que divulga o pensamento de Ghandi. A estátua é de Gautam Pal, um dos principais escultores indianos, feita em bronze e pesa aproximadamente 400 quilos e foi inaugurada em 1954.

A Vila Mariana tem monumento em homenagem a Ayrton Senna, que antes estava na entrada do viaduto com seu nome e agora está na Praça Ayrton Senna ao lado do Círculo Militar e tantas outras. 

A Vila Mariana tem suas histórias que são verdadeiros sepulcros. Um dia, nada mais do que de repente, apareceu um Cristo Crucificado. Nossa editora, Denise Delfim me contou que foi um senhor que fez uma promessa e, para pagá-la, colocou alguns crucifixos na cidade. Um deles foi esse  na Praça Afrodísio Vidigal, bem na esquina da Vergueiro com Domingos de Moraes. Com o tempo foram depenando o pobre Cristo da promessa e aos poucos ele foi desaparecendo da paisagem urbana da nossa Vila, até que sumiu. Uma história com um lindo começo e um triste fim.

Nós da Vila Mariana temos orgulho em ter no nosso bairro uma das obras mais monumentais do mundo que é o “Monumento às Bandeiras”, o nosso famoso “Deixa que eu empurro”, uma homenagem aos Bandeirantes e que foi inaugurada em 1953 no Ibirapuera, na Praça Armando Sales de Oliveira. Uma obra espetacular do escultor Vitor Brecheret que foi iniciada em 1920. 

A verdade é que a gente tem que olhar, prestar mais atenção e procurar conhecer melhor os monumentos e estátuas do nosso bairro pra, se um dia alguém gritar “PORCO ENSEBADOOOOO”, você não saia brigando pela Vila como o Levy.