Como surgiu a favela da rua Mário Cardim

Até meus 8 anos morei na rua Humberto I. Em 1925, mudamos para a casa que meu pai mandou construir em um terreno de 2.500 m2, na travessa da rua França Pinto, altura do no 1300. No terreno, que ia até a atual Sena Madureira, passava o Córrego do Sapateiro – que deságua no Lago Ibirapuera. Ali vivi até me casar, quando fui morar na rua Rio Grande ao lado da casa de Jânio Quadros. Compramos as casas no mesmo dia!

Logo na esquina de minha nova casa, na rua Mário Cardim, havia o depósito da Loja China – uma famosa loja no Centro. O proprietário, José do Rego Costa, acabou comprando também o imenso terreno de Costabille Galucci – parte onde hoje é a rua Loureiro Batista. Ali, construiu noventa e seis casas.

A loja China vendia de tudo: de artigos de festas a importados. No depósito também eram alojados fogos de artifício. Lembro-me que em 1927 aconteceu um terrível incêndio no local. As labaredas eram imensas e antigas árvores foram queimadas – só não foi pior, pois o Córrego do Sapateiro atravessava toda rua. Aliás, o Córrego do Sapateiro era um problema para a vizinhança quando chovia. Ele foi canalizado pelo prefeito Prestes Maia – na minha opinião o melhor prefeito que esta cidade já teve!

O terreno da rua Mário Cardim, com o que sobrou do depósito, foi vendido nos anos 60, ao INPS. Feito o negócio, o depósito foi totalmente desocupado e a área abandonada. Não demorou muito para que algumas famílias invadissem o local para morar – foi quando nasceu a favela.