JOSÉ ANTONIO CRUZ

São inúmeras as reclamações que chegam à redação do Pedaço da Vila sobre o estado das árvores na Vila Mariana. Para ajudar a esclarecer nossos leitores, o engenheiro agrônomo, diretor da Divisão Técnica de Proteção e Avaliação Ambiental (DPAA), ligada à da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, concedeu-nos a seguinte entrevista:

Pedaço da Vila: Fale sobre as árvores da região da Vila Mariana.

José Antonio Cruz: A Vila Mariana é um dos bairros de São Paulo considerado bem arborizado, tanto que grandes áreas são Patrimônio ambiental e/ou Imune ao corte. Isso significa, em outras palavras, que são duplamente protegidas por legislação estadual e municipal. Há forte presença de tipuanas, jacarandás-mimoso e sibipirunas, de antigos plantios; e hoje podemos ver a introdução de ipês, bauínias e, de modo geral, espécies de porte médio, diferente das anteriores, de grande porte.

P.daVila: Qual a situação dessas árvores?

J.P.C.: A área é extensa e detém árvores de diferentes idades e rusticidades. Há fícus idosos e saudáveis, tipuanas vegetando e algumas com cupins, outras descaracterizadas por podas de livramento de fiação (feitas por concessionárias de energia elétrica), mudas jovens necessitando de podas de limpeza e/ou condução, outras com o canteiro junto ao colo, totalmente cimentado e com estado fitossanitário comprometido, e claro, as saudáveis e aprumadas.

P.daVila: Quais são os problemas que uma árvore pode apresentar?

J.P.C.: A senilidade, as doenças e as pragas são questões naturais – por assim dizer -, e deveriam ser tratadas assim que surgem. No entanto, há casos que, se a população fosse mais sensibilizada com relação ao verde e se sentisse parceira do poder público em sua manutenção, poderíamos evitar: o estrangulamento do colo por cimento, podas inadequadas e fora de época, feita por munícipes e, portanto, irregulares. Também prejudica a árvore a  fixação de placas, cartazes, cestas de lixo e congêneres no tronco. Vale destacar que a manutenção de canteiro vegetado melhoraria a absorção de água e manteria o frescor e a permeabilidade da terra. Uma coisa que raramente se vê é alguém regando as árvores de rua – nor-malmente, a calçada recebe mais água do que a árvore. Até a varrição das folhas das árvores poderiam ser, em parte, devolvidas a seus canteiros, para formar cobertura morta.

P.daVila: Como detectar os problemas e qual é a intervenção adequada?

J.P.C.: A manutenção das árvores é um ponto fundamental. Se não for realizada de maneira adequada pode causar sérios problemas, como a queda do exemplar arbóreo. Infelizmente, um dos exemplos mais encontrados de manutenção inadequada é a utilização de poda drástica e da poda de rebaixamento, que acabam com o formato da copa e comprometem a estabilidade. Após análise dos engenheiros agrônomos é possível detectar a intervenção mais adequada. Cada caso requer um tipo de intevenção. A queda de árvores é um problema comum nas grandes cidades e pode ser ocasionada por maus-tratos, doenças fitossanitárias ou pela idade. A Secretaria do Verde abriu algumas frentes em relação a isso. Foi iniciada uma experiência piloto com a contratação de equipes para promover a manutenção das chamadas árvores consolidadas. Estas equipes ampliam os canteiros das árvores, retiram ervas daninhas, fazem podas de correção e melhoram as condições de desenvolvimento destas árvores. Ao mesmo tempo, em caso de constatação de infestação por cupins ou outros tipos de parasitas, informam às subprefeituras para providências. Foi também iniciada uma campanha contra a poda radical, responsável, muitas vezes, por fragilizar a árvore e abrir portas para infestações por fungos, cupins e outros parasitas, podendo provocar o adoecimento da árvore e muitas vezes levar à queda. A secretaria elaborou o Manual de Poda de Árvores, que foi transformado em diretriz para as podas realizadas pela cidade. Foi aberto um canal para que as pessoas denunciem podas radicais, ajudando assim a preservar as árvores.

P.daVila: Quantas árvores este ano foram removidas na Vila Mariana?

J.P.C.: De Janeiro a agosto foram podadas 4.226 e removidas 728 árvores, segun-do a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras.

P.daVila: O que é o Programa Identidade Verde?

J.P.C.: Dirigido pela Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, é um programa que atualmente envolve 17 subprefeituras que passam a atuar no mapeamento das condições das árvores da cidade. Até o final do ano, o projeto deverá estar implantado em todas as subprefeituras. O programa é dividido em duas fases. Na primeira — de implantação — os engenheiros e agrônomos treinam funcionários das subprefeituras a partir de uma “rua-piloto”. Na segunda fase — com o projeto já implantado – os funcionários treinados continuarão os trabalhos com o mapeamento em toda a área da subprefeitura. Essa iniciativa promoverá um minucioso diagnóstico das árvores da cidade, a partir do qual a pasta promoverá as intervenções necessárias, que podem variar de uma simples poda ou reforma de um canteiro, até a remoção ou transplante de uma árvore. Onze subprefeituras já estão com seus profissionais capacitados e começam, já na próxima semana, os trabalhos que iniciam o treinamento do pessoal. Os dados coletados nas ruas serão inseridos no Sistema de Gerenciamento de Árvores Urbanas (SISGAU). A expectativa é de que até o fim do ano o programa já esteja atendendo todas as 31 subprefeituras de São Paulo. Cada uma terá um prazo adequado para concluir o inventário. O primeiro passo é o cadastramento e diagnóstico das árvores, partindo em seguida para o plano de manejo, contemplando os serviços de poda e plantio de árvores, além de alargamento de canteiros.Na subprefeitura Lapa (onde houve o projeto-piloto) o Identidade Verde já atingiu mais de 40 vias, totalizando 3.532 árvores. Também foi possível detectar que um dos principais fatores de quedas de árvores é a limitação de espaço nos canteiros para o desen-volvimento de raízes sadias. Em cinco meses foram executadas 356 podas, 103 remoções e 20 plantios, além de 230 ampliações de canteiros (fonte Secretaria de Coordenação das Subprefeituras). O SISGAU pretende ao longo prazo cadastrar e viabilizar o manejo das vegetações de grande porte arbóreo de toda a capital. Desta forma, será possível conservar, renovar e ampliar as áreas verdes já existentes. Também conseguiremos minimizar os acidentes causados por quedas. Vale ressaltar que este trabalho é contínuo e, portanto, vai promover aos poucos grandes melhorias.

P.daVila: Com relação às raízes que quebram as calçadas, como resolver este problema?

J.P.C.: Em um primeiro momento, a ideia é evitar espécies que tenham raízes superficiais como caracte-rísticas; em segundo, um plantio bem feito, com cova de dimensões e conteúdo tecnicamente conduzidos, com solo que permita o aprofundamento das raízes durante seu crescimento. Na atual situação, em que temos desde interferência zero na calçada, até obstrução do tráfego nas mesmas, passando por diferentes dimensões de fissuras no calçamento, os técnicos da SVMA têm  priorizando a preservação do Verde e o aprimoramento das condições ambientais na cidade, o que nos leva a priorizar, muitas vezes, a permanência das árvores, quando os danos ao calçamento são de pequena monta e/ou a região é de raro tráfego de pedestres. A poda de raízes, também chamada de neutralização, não é recomendada, por servir de entrada de patógenos e desequilibrar a árvore, principalmente as de copa avantajada.

P.daVila: Como é tramitação das reclamações para que os problemas sejam resolvidos?

J.P.C.: Os munícipes devem entrar sempre com o pedido, com fotos das árvores, de preferência, junto às subprefeituras locais, sejam para remoção (transplante ou corte) ou poda, em área pública ou interna (na residência). Em primeiro lugar, deve-se solicitar pelo 156 ou nas Praças de Atendimento pelo SAC, que são enviados à divisão de áreas verdes da Coordenadoria de Projetos e Obras da subprefeitura. Depois, o pedido entra no cronograma de vistoria do engenheiro agrônomo e, após a vistoria, ele faz um laudo e envia para o subprefeito autorizar. Após a autorização dos subprefeitos, o serviço é publicado no Diário Oficial para ciência da população e, após 10 dias da data da publicação, o pedido entra no cronograma para ser executado. A poda é supervisionada pelos engenheiros agrônomos das 31 Subprefeituras, com base na Lei nº 10.385/87, que disciplina o corte e a poda da vegetação.

P.daVila: O que é levado em conta nessa vistoria?

J.P.C.: O engenheiro verifica qual é a espécie em questão, a idade, a longevidade e o atual estado da árvore, ou seja, se está acometida por alguma doença ou praga; e qual a intensidade e abrangência da enfermidade no seu interior. Com o resultado do estudo, o engenheiro poderá definir o tratamento e o grau de dificuldade que a equipe terá com a poda ou o corte. O atendimento é feito de acordo com a disponibilidade da equipe. Cada subprefeitura possui cerca de 4 equipes para atender a população. No período de chuvas (outubro a março), o efetivo dobra. Lembramos que existiam na cidade 33 engenheiros agrônomos, mas, no final do ano passado, 64 engenheiros foram contratados e já estão trabalhando na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. Eles auxiliam e treinam as equipes das subprefeituras

P.daVila: Se alguém quiser plantar uma árvore, qual o procedimento?

J.P.C.: A SVMA desenvolve a Campanha de Arborização Permanente, incentivando o munícipe a plantar árvores em sua casa, quintal etc. As mudas para plantio são distribuídas gratuitamente aos munícipes. Os interes-sados devem procurar o parque municipal mais próximo e buscar informações na Administração, onde serão orientados sobre como plantar e cuidar da árvore.  Nas calçadas, a prefeitura está autorizada a plantar, contudo, dentro da Campanha de Arborização, há orientações para o munícipe também plantar na calçada – o morador informa distância do mobiliário urbano, dos postes de energia etc.

P.daVila: Existe algum manual técnico que a secretaria disponibiliza aos munícipes?

J.P.C.: Na página da Secretaria do Verde, no item Publicações, está disponível para download o Manual Técnico de Podas de Árvores e o Manual Técnico de Arborização Urbana. Além disso, a Escola Municipal de Jardinagem, no Parque Ibirapuera, oferece gratui-tamente aos munícipes cursos e minicursos de Jardinagem que dão um excelente embasamento das questões ambientais, principalmente, em área urbana.