Joe Rosário
Joe Rosário é fisioterapeuta, doutor em medicina pela Unifesp e pós-doutor em psicobiologia. Foi estudar em Harvard Divinity School o poder da religião nos tramentos de saúde. Desde pesqueno aprendeu com grandes mestres da arte marcial o poder da energia e os tratamentos naturais para cuidar de si e de seus pacientes. A seguir, ele fala dessa sua experiência, de como a coluna pode refletir problemas mais profundos e explica o que é naturopatia: especialidade da medicina que promove tratamentos 100% naturais
Pedaço da Vila: O que o levou a unir a fisioterapia à psicologia?
Joe Rosário: Ao estudar profundamente o corpo humano percebe-se que tudo está interconectado. Um paciente com dor nas costas não é apenas um caso de dor nas costas, ou somente um problema físico/biomecânico de uma parte da coluna. O ser-humano é muito complexo, com vários níveis: o físico, externo e o emocional, que somatizamos. Todas as camadas se comunicam como se fossem uma cebola: o emocional influencia o físico — e vice-versa—; o raciocínio que influencia o emocional que influencia o físico… A parte física se subdivide e cada subparte altera as vizinhas, como por exemplo: a pele, o tecido conjuntivo, os músculos, órgãos e vísceras, ossos e sistema nervoso. Da mesma forma, o paciente que me procura tem uma parte física, emocional e mental. O importante é encontrar a raiz do problema. É um problema de origem mecânica, como uma má postura, é um problema emocional, como uma depressão levando a essa má postura? Ou é uma crença de que a vida é pesada demais, e que leva a depressão e a má postura? Não podemos esquecer outra coisa: o espiritual. Não importa entrar no mérito se existe alma, se existe espírito ou não. Só o fato de você ter a crença isso já faz diferença, e é preciso ser levado em conta. É o universo dele e eu preciso tratar esse universo, não o meu! Com a permissão da pessoa, pode-se corrigir algo que está incomodando. Então, por isso que a minha formação incluiu uma temporada de estudos na Harvard Divinity School, para entender algumas coisas. Participei de muitas aulas, inclusive sobre estudos de religiões.
Pedaço da Vila: Como as artes marciais o ajudaram na decisão?
Joe Rosário: Faço kung fu desde criança. A presença dessa filosofia chinesa me levou a um raciocínio que tende para as terapias naturais. Minha mãe sempre me tratou com remédios naturais, já trago isso do berço. E decidi fazer fisioterapia, e não medicina. Sei que os remédios são muito bons e que, em certos casos, eles são necessários; e que as cirurgias salvam vidas! Mas a realidade da indústria de cirurgias e dos remédios, sendo prescritos desneces-sariamente, me fez optar pela fisioterapia e acupuntura. Mergulhei na acupuntura para entender como a energia funciona no corpo humano, usando-me como laboratório! Trenei o kung fu interno — exercícios que trabalham as energias do corpo, como o Tai Chi Chuan e o Chi Kun. Tive um mestre japonês muito bom e fui duas vezes ao Japão para treinar com os mestres dele. Nos Estados Unidos, treinei com um mestre que não tinha nada de chinês, era um homem negro, ele era fantástico; aprendeu com mestres incríveis e me ensinou muito. Você vê coisas que a ciência ainda não consegue explicar e eu, como cientista, fui olhar e testar.
Pedaço da Vila: O que você viu eles fazerem?
Joe Rosário: É uma coisa até complicada de dizer, porque fica estranho contar… Eu estava lutando com o meu mestre e ele só encostou em mim, sem fazer força, e me empurrou de uma forma que fui arremessado por uns doze metros — não fui mais distante porque havia uma parede e Takagi Sensei não queria me machucar. Outro mestre, Nishino Sansei, doava energias de bem-estar para melhorar a saúde das pessoas. Ouvi depoimentos de que ele curou fraturas em uma hora! Dentre as coisas que pude presenciar e que me impressionaram: um campeão de judô que tentava se aproximar desse mestre numa luta e não conseguia: ele se aproximava numa distância de dois palmos e caia. Em outro caso, a energia do mestre controlava a pessoa, fazia ela dar cambalhotas, ele ia apontando e ela ia rolando. Isso aconteceu, eu vi, estava a um metro de distância! A energia, os canais de energia e a eficácia de tratamentos baseados nesse sistema já foram comprovados — a gente sabe muita coisa, mas, o que a gente não sabe é muito maior.
Pedaço da Vila: Como a Psicobiologia é praticada em tratamentos?
Joe Rosário: A grosso modo, a psicobiologia estuda os processos biológicos do que está acontecendo na psique. Depois que terminei o mestrado na faculdade de Medicina da USP, fiz meu doutorado na Psicobiologia. Trabalhei com uma equipe que estuda a medicina comportamental, liderada pelo professor e psicólogo da UNIFESP José Roberto Leite — que tem um olhar sobre a vida muito bacana. Ele quer contribuir com a humanidade com tratamentos baratos, que possam ser feitos dentro da própria casa. Ele abraça a meditação, o yoga, o chi kun, a acupuntura, o reike. Queria aprender com ele, porque no meu trabalho de mestrado notei que existe uma memória muscular, uma memória postural. Vi pessoas até chorarem diversas vezes ao alterar a postura, lembrando de algo sem relação nenhuma com o assunto da sessão! Precisava entender o porquê dessas reações… Então trabalhei com o professor uma técnica chamada Imageria Guiada. É muito interessante ter a consciência de que o que seu cérebro imagina é a realidade para você. Pacientes que tiveram derrame, por exemplo, conseguem reconstruir a circuitaria nervosa danificada ao imaginar que o braço está movendo. É lindo! O cérebro é muito poderoso… O mundo é uma interpretação. Se você acredita, para você é, e você reage àquilo como se fosse. A vida são grandes interpretações e reações a elas. É aquilo que, como o Buda, muitos iluminados falaram: o mundo é uma ilusão. E ponto final. Estamos numa era em que as coisas mais básicas seguem numa involução. A transformação da sociedade de hoje é muito rápida, enquanto as emoções se transformam mais lentamente. É por isso que elas não funcionam como deveriam. Essa disfunção temporal precisa ser controlada de modo inteligente, pois suas consequências são a síndrome do pânico e a depressão.
Pedaço da Vila: Nossas emoções são retardadas?
Joe Rosário: A evolução humana aconteceu num ritmo e o da sociedade em outro. Vou explicar: nossas emoções funcionam muito bem quando vivemos na selva. Se chegar um animal, temos a reação do medo que produz adrenalina, que aumentará nossa capacidade física, tanto para correr quanto para lutar. E se a adrenalina for muito grande, iremos desmaiar. E o animal vai achar estamos doentes e não vai nos querer como jantar. Atualmente, vivendo na cidade, se você ficar estressado, pode até desmaiar que não ajudará em nada e o aumento da força muscular poderá até piorar a situação. A reação ao medo não funciona hoje adequadamente para a nossa sociedade. No mundo em que vivemos, é preciso uma adaptação inteligente. Por isso o cuidado com o que chamamos de emoções negativas — que estão aí para nos ajudar. O problema é que essas emoções não estão adaptadas à vida que levamos, não estão ajudando tanto — e aí vem o estresse, que é o medo constante de alguma coisa que nunca passa. Desse modo, será mais difícil tomar uma atitude inteligente e pensar com clareza. Por isso, você aprende na arte marcial que a primeira coisa que se deve fazer diante de um problema é ficar calmo, para pensar e dar a resposta, não ter uma reação. Neurologicamente falando chamamos isso de reflexo: ao encostar o dedo em algo quente, você tem a sensação térmica que vai até a coluna e volta automaticamente, não chega até o cérebro. Isso ocorre para que você tenha a reação de tirar o dedo. É uma reação sem pensar. No entanto, pode acontecer de você estar carregando essa coisa quente, que queimou seu dedo, mas você sabe que se você derrubá-la, o estrago vai ser muito maior. Aí é o cérebro que te faz segurar a coisa quente e aguentar aquela dor até poder largá-la. São duas maneiras de lidar com os acontecimentos estressantes. Meu mestre de Kung Fu, nos EUA, sempre dizia que devemos usar mais a cabeça, responder, em situações nas quais o natural é reagir. Isso é um grande ensinamento.
Pedaço da Vila: Com toda essa profundidade de estudos, você abriu uma clínica chamada Dr. Coluna. O nome não é muito reducionista?
Joe Rosário: A minha formação básica é fisioterapia e as pessoas vêm me procurar pela dor — normalmente pela dor física. Hipócrates, o pai da medicina, já falava: procure na coluna a fonte dos males. Por quê? Porque é uma parte muito móvel do corpo: são 33 vértebras das quais saem raízes nervosas que passam todas as informações para o corpo. Por isso que eu acabei sendo reducionista, para simplificar. A dor é sua amiga e está dizendo que alguma coisa precisa ser modificada — e é isso o que a gente vai procurar. Eu inicio o tratamento com a parte física, biomecânica, faço os testes clínicos e procuro o que a pessoa precisa dentro da biomecânica. Aquele corpo me conta uma história e, a partir dela, vou fazendo perguntas e começamos a nos aprofundar, descobrindo fisicamente: acidente, tensão, os motivos dessa tensão…
Pedaço da Vila: Você é um naturopata. Há cursos de formação nessa área no Brasil?
Joe Rosário: É um curso recente … Os primeiros médicos eram naturopatas. O que eles tinham à mão para o tratamento? A natureza — não existia remédio! Os egípcios eram famosos por realizar cirurgias no cérebro. Não se sabe como eles faziam isso, mas já conseguiam entender a neurologia. Na medicina indiana ayurvédica, por exemplo, precisa de vinte anos para conseguir se formar. É um negócio muito sério, e o Ocidente começou a prestar atenção que existem certas plantas e exercícios que são usados para tratar a saúde. Assim como os remédios sintetizados, muitas plantas também causam efeitos colaterais. O exagero está sempre errado — até na água; se você exagerar terá problemas. A naturopatia remonta a esses tempos antigos, à Grécia, por exemplo. Hipócrates, o pai da medicina, trabalhava muito nessa base; depois da Idade Média, onde os charlatões foram cassados, muita coisa da naturopatia sumiu. Na Alemanha, a naturopatia se manteve forte, onde temos uma prática de exercício chamada Pilates. O Joseph Pilates, que criou o método, aprendeu muita coisa com a mãe, que era naturopata. Nos Estados Unidos, com a imigração alemã que levou a naturopatia para aquele país, ela também floresceu, com a acupuntura, a homeopatia, plantas e chás. A naturopatia trabalha com métodos naturais de tratamento, como a medicina chinesa, exercícios físicos de todos os tipos, incluindo a fisioterapia, o yoga, tai chi chuan. Além disso, você também aprende noções de psicologia e nutrição. O Reike é visto como uma outra ferramenta da naturopatia também. Eu me identifiquei muito com esta forma de tratamento, pois minha mãe já gostava muito disso. Quando eu ficava gripado, ela me dava alho cru para comer, pois tem alicina, que é um antibiótico poderosíssimo. A diferença do veneno para o remédio é a dose. Hipócrates já falava: faça da comida seu remédio para não fazer do remédio sua comida. A medicina preventiva é muito mais inteligente. Antigamente os médicos recebiam mensalmente pela saúde de seus pacientes…
Pedaço da Vila: Como você qualifica esse curso?
Joe Rosário: Os cursos de naturopatia no Brasil estão ainda engatinhando, são fracos… Esta-mos tentando criar uma especialização para ver se ele melhora, pois muitos são apenas cursos de massagens. A massagem é naturopatia? É, mas a naturopatia vai muito além. A Medicina do Ocidente trabalha com a dor, com o problema. Se a dor é no ouvido, vamos cuidar da dor no ouvido. E vamos começar a trabalhar com drogas e cirurgias cada vez mais poderosas para resolver esse ouvido. Ocorre que existem bons e maus profissionais em todas as áreas; boa parte dos médicos dá analgésico, anti-inflamatório e antibiótico. Terminaram esses três medicamentos, a medicina desse pessoal acabou — sem generalizar, pois existem médicos fantásticos. A dor, por exemplo, é muito importante, ela é sua amiga, está te dizendo que tem alguma coisa errada. Mas, é mais errado ainda quando você toma um analgésico, eliminando a dor sem eliminar o problema. Então, se era uma tensãozinha e você precisava apenas relaxar, ótimo; se não era, você corre o risco de forçar e aumentar ainda mais o problema e a dor voltará muito mais forte. Tratar as dores somente com remédios é como se você comprasse uma mansão maravilhosa e instalasse um sistema de alarme perfeito. Aí entra o ladrão, o alarme começa a tocar e você, incomodado com o barulho, vai lá e corta o alarme, mas deixa o ladrão lá dentro. Cortar o alarme é a coisa mais inteligente a se fazer? Não! Mas é o que fazemos o tempo inteiro. Na verdade, é preciso buscar a raiz do problema. Eu tenho um arsenal terapêutico para cuidar do paciente. Vou cuidar de todos os casos? Não, pois há casos que terei que passar para frente. Como pedra na vesícula, por exemplo. Meu paciente terá que fazer uma cirurgia para retirá-la, como recentemente aconteceu com a minha esposa. Há momentos em que será preciso de outros profissionais, não dá para ser o dono da verdade e saber tudo. Essa é outra ilusão.
Pedaço da Vila: E como mostrar ao homem Ocidental que sua medicina tradicional não é tão perfeita assim?
Joe Rosário: Mostrando que precisamos tentar tratamentos mais suaves, que não sejam tão agressivos e que tenham um efeito colateral bem menor — buscar uma forma mais natural de cuidar da saúde. Quando não tem outro jeito, tudo bem: cure-se pela alopatia, salve-se com uma cirurgia!
Pedaço da Vila: A religião pode ser uma aliada ao tratamento de saúde?
Joe Rosário: Se o paciente acredita em seu médico, já é uma grande ferramenta a ser usada. Certas coisas irão acontecer independentemente da crença do paciente, mas a crença ajuda muito! Há até terapias em nível de crença religiosa. A pessoa acredita em Deus? Ótimo, Deus vai te ajudar e vai me ajudar a ajudar você também. Essa é a nossa missão. Deus quer isso! No final das contas, a crença, que a gente poderia colocar como efeito placebo, funciona em 40% dos casos. Eu vou deixar de usar 40% de eficiência? Não, de jeito nenhum!
Pedaço da Vila: Isso engloba o campo magnético, aquele que você viu seus mestres de arte marcial utilizar?
Joe Rosário: Sim! Existem outros estudos muito interessantes. Há físicos que já conseguem detectar a saúde do coração pelo campo elétrico magnético, que é muito forte. Se pensarmos que somos um campo eletromagnético e que, quando nos aproximamos das pessoas, interferimos nele… Que cada pensamento interfere em seu campo eletromagnético, e, por consequência, no campo eletromagnético das outras pessoas… Então, se você tem bons pensamentos, poderá mudar as coisas para melhor? Há dois estudos antigos de Harvard feito com padres que mostra que sim. Um foi realizado com aidéticos e outro com pacientes pós-cirúrgico de doenças cardíacas. Dividiram os pacientes pós-cirúrgico em dois; e o grupo dos aidéticos também em dois. Nos aidéticos, a ideia não era para ver se isso eliminaria o vírus HIV, mas para melhorar os problemas relacionados à doença. Chamaram um padre para rezar para esses grupos, sem que eles sou-bessem. O padre rezou, à distância, para apenas um grupo dos cardiopatas e para um grupo dos soros positivos. Esses grupos que receberam a oração, melhoraram mais rápido!
Joe Rosário – Doutor da Coluna
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