Francisca Cifuentes

A diretora do Parque Ibirapuera, mãe de quatro filhos e moradora da Vila Mariana, leva com mão de ferro seu trabalho. Diariamente percorre os cerca de 1,5 milhões de metros quadrados para conhecer de perto todos os problemas, participa das reuniões do Conseg para tornar o parque mais seguro s e dedica-se com afinco pelo “nosso parque mais amado de São Paulo”. Toda dedicação fez com que ganhasse o apelido de xerife do parque, reconhecimento pela excelente administração que realiza.

Pedaço da Vila: Qual sua formação e desde quando a sra. é diretora do parque Ibirapuera? Francisca Cifuentes: Sou engenheira agrônoma desde 1981 e diretora do Parque desde 20 de julho de 2005. Passamos, eu e mais 32 candidatos a administradores da parques municipais, todos técnicos de nível superior e com especialização em Gestão Ambiental, por um Processo Seletivo com 2 mil inscritos.

P.daVila: Como é o seu dia-a-dia de trabalho?
F.C.: Chego bem cedo e no caminho já vou tratando de assuntos da segurança com o líder. Na sede, leio o correio eletrônico e respondo ou encaminho respostas aos órgãos competentes, enquanto assino documentos e autorizações e revejo processos. Participo de reuniões com a CET, políticos,freqüentadores do Parque, empresários, Subprefeitura, Sabesp, secretaria do Verde e Meio Ambiente, CONSEG, Polícia Militar,Guarda Civil Municipal etc … Saio em rondas com a segurança, com a empreiteira de limpeza e manutenção, averiguando os problemas do Parque, fiscalizando as lanchonetes, o bicicletário etc. Faço interface com os equipamentos do Parque – Bienal, Mam, Mac, Museu Afro, Auditório, Planetário, Escola de Jardinagem, Veterinária, Viveiro. Fiscalizo algumas obras da Secretaria do Verde. Sem dispensar a atenção aos funcionários. Coordeno o projeto de apenados, pessoas que cometeram pequenos delitos e cumprem penas alternativas trabalhando no Parque. E não tenho hora para acabar …

P.daVila: Faça um Raio X do Parque Ibirapuera.
F.C.: O Parque Ibirapuera abrange uma área de 1.584 mil metros quadrados. Recebe, de segunda a sexta, 20 mil freqüentadores por dia. Aos sábados são 70 mil e aos domingos e feriados, 150 mil pessoas. São mais de 15 mil árvores e 142 espécies de pássaros!

P.daVila: Quais são os maiores problemas?
F.C.: Os problemas são muitos: pessoas que transitam no Parque com seus cães sem guia ou as que não recolhem as fezes de seus animais; outras que sobem nas árvores ou danificam o tronco com inscrições ou, ainda, que vandalizam as placas das árvores; jovens que pixam a Marquise e alguns Monumentos; adultos que usam os brinquedos dos parquinhos infantis; frequentadores que jogam salgadinhos para as aves dos lagos, sem necessidade pois, além de prejudicar a saúde deles, temos veterinários e tratadores que distribuem diariamente a ração adequada. Temos problemas também com os ciclistas que trafegam em alta velocidade, correndo o risco de atropelar alguém ou ele mesmo se acidentar e com ambulantes que obstruem os portões do Parque, deixando lixo e gordura nos acessos. Há ainda a prática de atos obscenos em determinados lugares do parque, entre outros problemas…

P.daVila: O prefeito Kassab anunciou que serão colocadas câmeras em todo parque, quantas serão, em quais pontos elas serão instaladas, quem irá monitorá-las e que tipo de delito a senhora acredita que elas irão inibir?
F.C.: Creio que as câmeras de monitora- mento eletrônico serão fundamentais para coibir atos obcenos, furtos e vandalismo. Temos uma proposta de colocá-las em todos os portões e principalmente em locais mais freqüentados como as quadras, pista de Cooper, Praça da Paz etc. Faço, também, parte do Conseg e tenho obtido muito apoio dos membros da diretoria na coibição de delitos que ocorriam no Parque e na presença mais constante da policia civil e militar em ações internas e externas ao Parque.

P.daVila: Por que foi colocada a Zona Azul no Parque?
F.C.: A proposta de Zona Azul já vinha há algum tempo sendo debatida, antes mesmo da minha administração. Fizemos uma pesquisa nos portões para determinar o meio de locomoção e acesso ao Parque. Uma das apurações foi a descoberta de que os estacionamentos estavam sendo utilizados por pessoas que vinha de bairros distantes, estacionavam aqui e iam trabalhar deixando seus veículos ocupando vagas o dia todo e cerceando o direito do freqüentador que desejava usufruir do parque para caminhar, correr ou visitar os museus. Isso já era um ponto a favor do projeto piloto que deu supercerto e agora, exceto aos domingos de sol, é possível vir ao Parque e encontrar vagas e, pelos mesmos R$ 1,80 da Zona Azul convencional, estacionar por 2 horas. O horário também é especial, pois só vale das 10 às 20h durante a semana e das 10 às 18h nos finais de semana.O freqüentador aceitou superbem.

P.daVila: Ano passado, o Pedaço da Vila publicou uma matéria destacando os inúmeros problemas que ocorrem onde está o autorama. A situação continua a mesma?
F.C.: Sim, ele continua a ser problema. Aumentamos o policiamento do Parque, além da Guarda Civil Municipal e do Grupo de Segurança e Vigilância, ocorrem regularmente blitz da Policia Civil, da Policia Militar, da Subprefeitura e do São Paulo Protege. Mas ainda ocorre o desrespeito à lei do silêncio e a incidência de menores no local. Infelizmente, não obtivemos sucesso total.

P.daVila: A sra. poderia adiantar alguma novidade no parque?
F.C.: A grande novidade é a reabertura das lanchonetes através de licitação – uma na Praça da Paz e a outra no Planetário. Temos dois concessionários pagando preço público e dentro das normas da Vigilância Sanitária, com funcionários uniformizados e nutricionistas e com um cardápio planejado e diferenciado para atender ao público exigente e merecedor do Parque Ibirapuera. Também estamos junto com a USP realizando o mapeamento das árvores. E realizando um estudo sobre os cupins nas árvores com o Instituto Biológico. Outra novidade é o projeto de sinalização do Parque, implantado em parceria com o Banco Real e as lixeiras da coleta seletiva, que também estão sendo colocadas através deste mesmo projeto.

P.daVila: A sra. melhor que ninguém deve conhecer algumas curiosidades do parque Ibirapuera. Pode nos contar algumas?
F.C.: Você sabia que os nossos banheiros são mais limpos do que os do shopping? Que recebemos em média 40 ônibus por dia de alunos da rede pública por período, para visitar os museus e participar de oficinas? Você sabia que temos uma Universidade de Meio Ambiente e Cultura de Paz, no Portão 7, com vários cursos para a população em geral? Você sabia que reformamos todas as quadras de esportes com uma parcela da arrecadação da Zona Azul? Essas são algumas curiosidades…

P.daVila: O que é necessário para tornar o parque melhor para o frequentador? 
F.C.:
Estamos trabalhando para aumentar as caixas de abastecimento de água dos banheiros para evitar o caminhão pipa nos domingos e feriados. Já temos projeto para retirar o asfalto de algumas ruas, cujas raízes das árvores estão muito ofendidas e oferecem desconforto aos pedestres. Caminhamos com os processos de licitação dos serviços de restaurantes, de ambulantes e de água de coco. A organização de eventos está sempre buscando melhorar o nível da programação do parque, visando assim agradar o maior número de freqüentadores, das mais diversas tendências sócio-culturais. Contamos com o apoio do Conselho Gestor nas questões mais especiais do Parque e estamos preparando uma sede para poder reunir e trabalhar melhor com os gestores de apoio e com os voluntários. O Parque melhorou muito, porém temos várias metas a serem cumpridas.

P.daVila: Como a senhora encara seu apelido: a “xerife” do Parque Ibirapuera?
F.C.: Fico feliz porque isso significa que estou botando ordem na casa e seguindo sempre o rigor da lei. Os xerifes são os bonzinhos nos filmes de cowboy e em alguns anos, quem sabe, falarão sobre as marcas que deixei para o bem comum. Por enquanto, eu ainda sou a ‘bruxa má da floresta’!!! Obrigada pelo convite e sempre que possível estarei relatando os feitos do nosso mais amado parque de São Paulo: o Ibirapuera!