Benê Mascarenhas
No Carnaval da Vila Mariana, a prefeitura regional colocou 40 blocos na rua, quase o dobro do ano anterior. Esta edição do evento marcou a inclusão de vias importantes do bairro no mapa da folia, entre elas a Av. 23 de Maio, a Av. Sena Madureira e a Rua Joaquim Távora — todas alvos de queixas da vizinhança . A chegada de mais blocos ‘arrasta-multidão’, as mudanças nos roteiros dos desfiles, as reclamações dos moradores e os impactos da festa são alguns dos assuntos da entrevista a seguir com o prefeito regional Benê Mascarenhas, que adianta: “Não tem como a Avenida 23 de Maio deixar de ser o Circuito do Carnaval de rua de São Paulo”.
Pedaço da Vila: Qual é a sua avaliação do Carnaval da Vila Mariana?
Benê Mascarenhas: O Carnaval este ano foi um sucesso e todos ficaram muitos felizes. Os blocos que desfilaram no bairro já afirmaram que querem voltar no ano que vem. Eu tenho recebido muitos telefonemas elogiosos dos artistas que participaram, dos organizadores dos blocos, das demais prefeituras regionais e da própria secretaria de prefeituras regionais. Não tivemos problemas. A segurança foi muito bem feita durante a festa. No Ibirapuera, por exemplo, palco dos grandes blocos, todos os foliões foram revistados para que ninguém entrasse no local da festa com garrafas de vidros.
Pedaço da Vila: Este ano, 40 blocos desfilaram pelas ruas do bairro. A PRVM participou do processo de escolha desses blocos?
Benê Mascarenhas: Neste ano houve uma descentralização na organização do Carnaval e as prefeituras regionais assumiram uma posição mais decisiva em suas regiões. Antes feita pela secretaria de cultura, agora a festa ficou a cargo da secretaria de prefeituras regionais. No ano passado, quando eu assumi a prefeitura regional, o desenho do Carnaval já estava definido e preferi não interferir. Agora foi diferente, pois tivemos tempo para debater e propor alterações. E a festa, desta vez, foi organizada pela minha equipe.
Pedaço da Vila: Como foi o teste da Av. 23 de Maio como o principal circuito do Carnaval de rua de São Paulo?
Benê Mascarenhas: O Carnaval na Av. 23 de Maio foi uma vontade do prefeito João Dória. Muitas pessoas se posicionaram contrárias e tentaram persuadi-lo a não fazer desfiles nesse local. Mas o prefeito bateu na tecla e ninguém conseguiu provar ser inviável. O Carnaval na Av. 23 de Maio incomodou os hospitais? Sim. Mas no segundo dia desfile já teve um entendimento. Colocamos faixas no trecho hospitalar e, ao passar por esses locais, os artistas diminuíram o som. Essas são situações que a gente vai ajustando. Hoje não tem mais como a Av. 23 de Maio deixar de ser o circuito do Carnaval de rua de São Paulo. A questão agora é aperfeiçoar: disponibilizar mais banheiros e melhorar os acessos e saídas dos foliões, já que há paredões nos dois lados da Avenida. Também precisamos encontrar maneiras para que o público possa passar de um lado a outro da via sem correr riscos ao pular a mureta de concreto que separa as duas pistas. Ainda precisamos melhorar a festa no local.
Pedaço da Vila: Muitos moradores se queixaram da quantidade de desfiles no bairro e da falta de informações da PRVM. Sem saber, ficaram presos em casa por conta dos blocos. O que aconteceu?
Benê Mascarenhas: Aconteceu que a produção do material informativo foi feita em cima da hora. A divulgação atrasou por conta de ações judiciais envolvendo a definição do patrocinador máster do Carnaval [AMBEV]. É uma cadeia: atrasou lá em cima, atrasa aqui. Mas instalamos faixas avisando sobre os locai de desfiles. Muitos blocos se inscreveram para desfilar, mas estavam aguardando os patrocínios. Alguns desistiram na semana da festa porque não conseguiram bancar a estrutura que precisavam. A prefeitura ainda precisa melhorar os critérios de inscrição de blocos para evitar esses problemas em cima da hora.
Pedaço da Vila: Outra via importante do bairro a entrar no Carnaval deste ano foi a Rua Sena Madureira. Como ela foi no teste?
Benê Mascarenhas: Essa mudança funcionou, mas tivemos confusão devido ao número de foliões, que superaram as expectativas. O acúmulo de multidão é difícil de controlar e as pessoas acabaram invadindo a outra pista da via, que não era permitido. Na Sena desfilaram os blocos Descubra e Filhos de Gil e os dois tiveram uma quantidade de público muito superior ao previsto. Isso também atrasou a dispersão. A inclusão da Sena Madureira na festa começou com a ideia de abrigar o Bloco Amigos da Vila Mariana, que não aceitou sair no local. Então, em entendimento com a CET, o Amigos ficou na Rua Joaquim Távora. O Carnaval no bairro cresceu e, para o ano que vem, queremos fazer um estudo sobre os locais de desfiles, pois teremos que deixar vias livres como alternativas ao fechamento da Av. 23 de Maio. E a Sena Madureira, por exemplo, é uma via importante no fluxo do bairro – quando fecharmos a 23 de Maio, ela precisa estar livre. O desenho do Carnaval do próximo ano vai depender de como será a programação dos desfiles na Av. 23 de Maio. Quando tiver desfile nela, não podemos ter na Sena Madureira nem no Ibirapuera.
Pedaço da Vila: O Carnaval no bairro agora começará a ser definido pela Av. 23 de Maio?
Benê Mascarenhas: Não. Os blocos que já estão acostumados a desfilar no Ibirapuera vão continuar nesse local. Não temos nenhuma orientação sobre mudanças. Isso continuará assim se não houver uma ordem superior. O que não podemos é fazer a festa no mesmo dia nesses locais importantes e de grande fluxo. Para o Carnaval da Av. 23 de Maio funcionar bem, precisa ocorrer dentro da semana de Carnaval, que é um período em que a cidade está mais livre e não há tanto fluxo de pessoas trabalhando.
Pedaço da Vila: O entorno do parque Ibirapuera e a Av. 23 de Maio já estão definidos como locais permanentes dos megablocos?
Benê Mascarenhas: Na nossa região sim, inclusive para abrigar outros grandes eventos, como trazer o Alceu Valença para uma Festa Junina. Os blocos já chegam com a ideia do local do desfile. Quando se trata de um local que ainda não teve Carnaval, a gente consulta a CET. E, caso não seja adequado, sugerimos outros locais. A Domingos de Morais, por exemplo, abrigou o desfile do Sidney Magal há dois anos e tivemos muitos problemas. Por conta disso, os desfiles ali foram cancelados. No caso da Av. 23 de Maio, a ideia inicial era ocupar do Detran até o Centro. Mas, numa reunião na prefeitura, eu levei as alturas dos viadutos e mostrei que não tinha como um trio elétrico passar por debaixo do viaduto da Tutoia. Então os desfiles foram definidos para acontecer entre os viadutos Santa Generosa e Pedroso de Moraes.
Pedaço da Vila: No desfile do bloco Agrada Gregos, um grupo de foliões saltou o gradil e foi em direção ao lago do parque. O que será feito para evitar esses riscos no local?
Benê Mascarenhas: Isso aconteceu já no fim do desfile e, imediatamente, a organizadora do bloco parou a música, pegou o microfone e disse que, enquanto não saíssem de lá, o bloco não iria continuar a festa. E todos saíram. Foram umas vinte pessoas que entraram. Mas, quando é multidão, um vai e os demais vão atrás. Por isso já tínhamos exigido um gradil mais alto no local. Agora teremos que melhorar isso para evitar qualquer risco. Durante os desfiles na Av. 23 de Maio também instalamos gradis nos viadutos para que as pessoas não ficassem aglomeradas vendo o desfile.
Pedaço da Vila: A sujeira nas ruas do bairro também foi alvo de críticas dos moradores. Qual foi a dificuldade?
Benê Mascarenhas: A estrutura é pensada de acordo com o tamanho do bloco. A agência Dream Factory, que cuidou da conta do patrocinador oficial, foi também a responsável pela logística do evento; nela inclui gradis, seguranças, câmeras de vigilância, ambulâncias… Os blocos ganham tudo isso? Depende. Os blocos pequenos não pagam a estrutura. Já os blocos grandes precisam ajudar com banheiros, com segurança, ambulância, limpeza. A prefeitura regional fez a varredura final, mas muitos blocos também ajudaram na limpeza. Uma das dificuldades foi que os catadores de materiais recicláveis espalhavam o lixo pela rua. No bloquinho da Vila na Dr. Fabrício Vampré, por exemplo, a estimativa de público era de 300 pessoas e, no final, foram 1.100. Todos os blocos receberam um número muito maior de foliões do que aqueles que apresentaram como estimativa.
Pedaço da Vila: Muitos moradores estão preocupados com o crescimento do Carnaval no bairro e criaram um abaixo-assinado contra a ampliação festa. A PRVM está ouvindo a comunidade?
Benê Mascarenhas: Normalmente a gente pede aos organizadores dos blocos que dialoguem com a comunidade, síndicos e comerciantes dos trechos em que irão desfilar. A divulgação dos desfiles cabe aos blocos. Nós temos a preocupação com os impactos que o desfile irá causar no entorno e tomamos as providências necessárias. O que a gente se compromete com a comunidade é que, se não ocorrer entendimento entre o bloco e os moradores do entorno, mudaremos o local. Essa mudança, no entanto, vai depender da segurança e envolve a CET, GCM e PM. O que faltou este ano foi comunicação. Precisamos encontrar mecanismos para aperfeiçoá-la, a começar pela definição dos blocos e dos locais de desfiles com mais antecedência.