Antônio Batista Filho
Nesta edição de aniversário do jornal Pedaço da Vila, nosso presente vem do diretor geral do Instituto Biológico, com a notícia de que o governador Cláudio Lembo acaba de assinar a autorização para o restauro deste patrimônio histórico e arquitetônico da Vila Mariana.A seguir, conheça a história desta conquista, além das novidades programadas para 2007, ano em que o IB comemora seus 80 anos
Pedaço da Vila: Quando e como surgiu a proposta para restaurar o Instituto Biológico?
Antônio Batista Filho: Surgiu de uma idéia da Claribel Amatucci que, em 2002, preocupada com o revestimento externo do Instituto Biológico, procurou a diretora Márcia Rebouças para tentar resolver a questão. Elas e mais dois moradores do entorno, Osmar Barute e Patrícia Rosenta, resolveram ir ao Grupo Votorantim, empresa do Dr. Antonio Ermírio de Moraes, para apresentar a proposta. Foram recebidos pelo assessor João Câncio e retornaram com boa impressão. Após uma reflexão mais profunda, Márcia ponderou que seria mais oportuno que algo mais completo fosse feito. Temos problemas com energia elétrica e encanamentos, tanto neste como nos demais prédios que fazem parte do complexo arquitetônico. E eles concordaram que algo mais profundo deveria ser feito.
P.daVila: Desde quando não são feitas reformas?
A.B.F.: Foi feito um revestimento externo em 1975. Algo superficial que proporcionou ao prédio uma aparência melhor. Mas nunca houve intervenção estrutural deste porte. Praticamente não houve uma modificações desde a década de 40; por outro lado, internamente ocorreram profundas mudanças – os equipamentos nos laboratórios se multiplicaram, por exemplo. É necessária uma profunda intervenção, uma reestruturação.
Tempos depois foi apresentado um projeto pelos arquitetos Samuel Szpigel e Paulo Bastos. Nesta época, o grupo já era maior,com o envolvimento de Denise Delfim, do jornal Pedaço da Vila, César Angelucci, presidente da Associação dos Moradores da Vila Mariana (AMAVM)), Walter Taverna, primeiro-ministro da República de Vila Mariana, e da arquiteta e urbanista Rosana Helena Miranda. Algumas reuniões foram realizadas conosco até que o projeto seguiu para a Secretaria da Agricultura e Abastecimento, onde foi apoiado pelo secretário e encaminhado ao governador. Outro apoio importante foi do deputado Rodrigo Garcia e de sua assessora Ângela Barbosa. Todo processo foi finalizado 15 dias atrás, quando o governador Cláudio Lembo autorizou a AMAVM a captar recursos, através da Lei de Rouanet, para serem aplicados no restauro do Instituto Biológico.
P.daVila: Quanto a obra irá custar?
A.B.F.: Segundo o projeto apresentado pelos arquitetos, que envolve o prédio central do instituto e os complexos que seguem a linha arquitetônica do principal, o custo seria de 20 milhões de reais.
P.daVila: Incluindo a modernização dos laboratórios?
A.B.F.: Sim. E isso possibilita a melhora na qualidade, um fator fundamental para a existência de competitividade. O restauro pretende resgatar um patrimônio cultural valiosíssimo e apoiar a comunidade científica.
P.daVila: O projeto inclui tornar o Instituto Biológico um centro cultural científico?
A.B.F.: O projeto procura por um lado recuperar os laboratórios e por outro, criar um espaço cultural que atenda à comunidade, mostrando a evolução científica do instituto, e o que ele representou ao longo dos 80 anos. Nós temos até um museu que visa integrar escolas, educação ambiental… Há um potencial muito grande a ser explorado, permitindo a convivência entre ciência e cultura.
P.daVila: Existe a possibilidade da área externa do Instituto Biológico ser aberta à comunidade?
A.B.F.: Acredito que sim. Haverá maior segurança nestas áreas com o restauro, com a criação de espaços reservados. Há áreas em que são estudadas doenças: tuberculose, lepra, leptospirose… Deve-se, portanto, haver uma compatibilização que permita que a circulação de pessoas e o acesso a projetos culturais convivam em harmonia com os estudos científicos.
P.daVila: Soube da existência de um galpão que poderia ser aproveitado para atividades dirigidas à comunidade…
A.B.F.: Temos que cumprir etapas. Não podemos decidir construir um centro cultural se há um museu que não funciona, apesar de suas estruturas humana e física. O museu garante o prédio, uma mansão em área nobre. Devemos pensar naquilo que temos e que não foi resolvido antes de decidir expandir.
P.daVila: Mas o projeto de restauro objetiva atividades culturais no IB…
A.B.F.: Existe a idéia de realizar algumas oficinas culturais. Não só no galpão, porque há também um projeto de aproveitamento de um espaço do cafezal. Isso deve ser rediscutido. A nossa idéia é decidir uma estrutura permanente em que sejam feitas várias atividades, inclusive com a Vila Mariana, por exemplo: exposição de quadros, exposições científicas dirigidas, eventos para terceira idade e para crianças. Seria uma área agradável no meio do café, segura. Esta estrutura suporta eventos internos, como o da colheita do café. Essa é uma ação completa cultural que pode ser implementada, com grande ganho institucional e por parte da comunidade.
P.daVila: Quantas pessoas já trabalharam no IB e qual o seu quadro de funcionários atualmente?
A.B.F.: Já tivemos 1250 pessoas, hoje são 250 funcionários. Cerca de 30 seletistas, pessoal de fora, e duzentos estagiários. Há cerca de 450 pessoas que rotineiramente convivem aqui, prestam serviço ao instituto.
P.daVila: Em 2007 o Instituto Biológico comemora 80 anos e pretende, a partir de fevereiro, iniciar um ano de comemorações. O sr. poderia adiantar alguma coisa?
A.B.F.: No dia 6 de novembro abrimos as comemorações relativas aos 80 anos. Em dezembro, lançamos a logomarca alusiva aos 80 anos e que será autorizada no ano que vem. Em 25 de fevereiro será realizado o “Instituto Biológico de portas abertas” com o tema “80 anos, restauro do Biológico”. Haverá comemorações que contarão com a presença da comunidade e com o apoio de sempre do jornal Pedaço da Vila. Ao longo do ano se sucederão eventos alusivos à data. Há também uma proposta de um curso de pós-graduação aqui no instituto. No meio do ano tivemos uma visita da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Essa coordenadoria é responsável pela pós-graduação no Brasil. Pediram ajustes que foram feitos e receberemos a resposta até o final do ano. Temos confiança de o curso será aprovado.
P.daVila: Com professores de fora?
A.B.F.: Não, serão 20 professores daqui compondo o quadro para oferecer esse curso. Vemos isso como uma renovação para o instituto. O Biológico ganhará muito em termos de produção científica e de troca de experiências. Contratamos uma empresa para começarmos a gestão da qualidade ISO, Certificação de Gestão. Estamos levando o Instituto Biológico para frente!
P.daVila: O envolvimento da comunidade foi importante até aqui?
A.B.F.: Sem dúvida. A participação da comunidade é fundamental. Ela tem o instituto como símbolo da Vila Mariana, já lutou pelo tombamento, que começou em 1995 e terminou em 2002 e agora pelo restauro. A comunidade participa da vida institucional, é uma aliada importante para a defesa e reivindicação junto às autoridades. Reivindicação que tem muito mais força do que se fosse feita por representantes do próprio instituto, teoricamente, pedindo algo em causa própria. A comunidade quer a manutenção de um patrimônio histórico que representa muito para o bairro, para a cidade e para o próprio país.
P.daVila: E a preservação da área verde…
A.B.F.: Recebemos o prêmio do governo do estado de melhores produtores de café e estamos nos tornando símbolo da colheita – aqui está o maior cafezal da cidade! Temos a idéia de promover para as escolas o “Dia do meio ambiente” para que as crianças possam entender e conhecer a árvore símbolo do Brasil: o pau-brasil. Isso com vistas a garantir a seguridade da área e a desenvolver um projeto cultural. Aqui temos 60 árvores formando um bosque de pau-brasil, talvez, o maior da cidade de São Paulo. O maior bosque de pau-brasil do país está no Biológico de Campinas, com 11 mil árvores plantadas.
P.davila: O IB faz 80, sua missão continua a mesma?
A.B.F.: A missão do Instituto Biológico é transferir e desenvolver conhecimento científico e tecnológico para o agronegócio visando a melhoria da qualidade de vida da população e preservação do meio ambiente. Atualmente o grande problema de mercado é sanitário e zoosanitário, podemos citar como exemplo a doença da vaca louca. É isso que o Instituto Biológico estuda e que ganha importância cada vez maior pela seletividade e exigência do mercado. Hoje qualquer produção deve ser sustentável, ambientalmente correta e o estudo de meio ambiente torna-se importantíssimo. É um órgão que continua com sua missão atual se reestruturando a partir destas ações para o futuro.