QUEDA ANUNCIADA
Entra ano, sai ano, e os problemas são os mesmos na cidade: fortes tempestades que causam alagamentos, congestionamentos e quedas de árvores. Aqui na Vila Mariana, no dia 7 de fevereiro, foram doze árvores caídas que fecharam ruas, desligaram a eletricidade e trouxeram muitos transtornos à vizinhança. E aqui fica a pergunta: para quem reclamar?
Em todo o início de ano, já estamos acostumados, São Paulo recebe um volume grande de chuvas; este ano foi pior. Os índices pluviométricos nos meses de janeiro e fevereiro indicam que houve mais chuvas em relação ao ano passado em todo o estado de São Paulo.
Antes nossos problemas viessem apenas com as chuvas e os congestionamentos que elas provocam, mas não é o caso. As árvores estão doentes e muitas delas vêm caindo na cidade. São Paulo tem hoje quase um milhão de exemplares entre diversas espécies: são jacarandás, tipuanas, sibipirunas, ipês, bauínias, paus-brasil, palmeiras e fícus — algumas nativas da Mata Atlântica. No nosso pedaço e em toda a região da subprefeitura VM, temos cerca de 5 mil árvores. A maioria delas podadas e, segundo dados de 2010, cerca de mil removidas.
Mas elas estão caindo. Análises de técnicos e engenheiros agrônomos feitas em 17 mil árvores, há dois anos, apontou que 2 mil estavam doentes e foram removidas do convívio urbano. No entanto, quando foram plantadas o cenário da nossa capital era outro. Tínhamos uma maioria de casas e pequenos comércios na cidade. As calçadas eram mais largas e havia menos carros. Nossas árvores envelheceram e a cidade cresceu, limitou-as. Sistemas de fiação e gás encanado começaram a dividir espaço e, não raro, ambos se atrapalham. Os canos prejudicam o crescimento das raízes e os fios se envolvem entre os galhos e a folhagem, o que pode causar incêndios e falhas periódicas na energia elétrica.
As chuvas fortes, acompanhadas de ventanias encanadas pelos edifícios, dispostos em fileiras pelas ruas, auxiliam na queda das árvores. Mas não é só. Cupins, poda mal feita, pinturas nas árvores, impermeabilização do solo, agrupamento de lixo industrial nos canteiros e falta de espaço nas calçadas incidem no aparecimento de doenças e, por fim, no despencar das árvores.
Em nosso movimentado pedaço, a queda de árvores quase sempre significa o atingimento de automóveis, edifícios e passantes. A rede elétrica é desligada e toda a microrregião é afetada. No fim de janeiro, muitas árvores caíram por toda a cidade. Somente no dia 23, foram dezoito. No dia 7 de fevereiro uma forte tempestade levou ao chão o número absurdo de 55 árvores em apenas um dia. Na Vila Mariana, outro recorde: 12 árvores por dia. Ruas como Eça de Queiroz, José Antônio Coelho, Joaquim Távora e Humberto I tiveram quedas. Um taxista sofreu perda total de seu carro com o impacto de uma delas na Eça de Queiroz. Seu passageiro escapou de algo mais sério, mas sofreu um corte no braço.
Os moradores estão reclamando e não é de hoje. Há abaixo-assinados e pedidos protocolados na subprefeitura, Eletropaulo e prefeitura, mas restam dúvidas ainda acerca dos trâmites para que essas situações sejam resolvidas.
Tomemos como exemplo a “árvore mais torta” do bairro, situada na rua Áurea, próxima à redação do jornal, quase na esquina com a avenida Conselheiro Rodrigues Alves. O exemplar está inclinado quase em quarenta e cinco graus e avança sobre a rua com seus carros parados, um ponto de táxi, uma drogaria e o antigo Edifício Áurea, o primeiro do pedaço.
Vale destacar que pedir a poda parcial ou radical não resolve e pode até piorar a situação, com o crescimento dos galhos novos. Cimentar também não é a melhor escolha. Os moradores precisam pedir uma vistoria à subprefeitura. Oficialmente, em até quarenta dias um técnico vai ao local e faz um diagnóstico. Se for constatada a má saúde do exemplar, o técnico solicita a subprefeitura que entre em contato com a prefeitura, e em trinta dias é anunciado no Diário Oficial a remoção total da árvore e raiz. “Já pedi para a subprefeitura e nada, já faz quase um ano. Tem duas ou três linhas de ônibus que passam lá, e gostaria que tomassem providências”, diz a leitora Maria Yolanda Barros, nossa vizinha de 71 anos.
Outros moradores e comerciantes desabafaram. Luis Soriano, dono de uma pizzaria da Eça de Queiroz, diz que, com a queda da árvore, quase em frente ao seu comércio, e a paralisação da energia elétrica, arcou com um prejuízo de 800 reais em produtos e não pode trabalhar nesse dia.
Já Eduardo Feijó diz que há uma “contínua queda de galhos com interrupção da energia elétrica por muitas horas”, na rua Pelotas e que um grupo de moradores já protocolou pedidos na subprefeitura além de abaixo-assinados. Outro vizinho indignado, José Luís Carmanhães, proprietário do Sabor e Conveniência, também na Pelotas, desabafa: “Até quando a autoridade competente desta cidade irá aguardar para decidir o que precisa ser realizado há tanto tempo? Só no dia 7 de fevereiro caíram sete árvores na Vila Mariana, porém a lista de podas ou remoção já prevê dois anos de espera. Na rua Pelotas, temos árvores condenadas, ocas com cupins, com podas solicitadas, com abaixo-assinado protocolado na prefeitura, mas continuamos a aguardar uma ação para a realização da poda ou remoção”.
A solução é complicada, pois os trâmites quase sempre envolvem diversos departamentos: a princípio três, prefeitura, subprefeitura e Eletropaulo. Contudo, quando a árvore cai, mais agentes entram em cena: bombeiros, defesa civil, polícia militar, CET…
Árvores não votam. Muito menos as caídas. Mas nós votamos e temos que lembrar o Poder Executivo de fazer seu serviço. Aos nossos vereadores, temos que cobrar sua influência junto às autoridades. E já é hora! Coincidentemente, o recorde de queda de árvores na cidade é de 55 em apenas um dia, exatamente o mesmo número de vereadores. Neste ano de eleição, que tal pensarmos nisso?
Parece mentira… Há mais de 4 anos, tentamos resolver o problema da árvore que fica na rua Áurea, quase esquina com a av. Cons. Rodrigues Alves (foto ao lado). A Secretaria do Verde informou, na época da reclama-ção de um leitor, que o trabalho era da subprefeitura, que, por sua vez, passou a culpa para a Eletropaulo, que dificultaria o desligamento da energia elétrica, pois a poda e a remoção durariam cerca de 6 horas.
Para concluírmos essa matéria, entramos em contato com a Eletropaulo para pedir uma explicação pela demora do agendamento. E qual foi nossa surpresa, durante o fechamento desta edição, recebermos a resposta da empresa, de que, finalmente, foi agendada para dia 1.o de abril (e é verdade!) a interrupção da rede elétrica para a remoção da árvore em questão, além de outra, também na rua Áurea.