Da calçada à Praça

O lixo da calçada da rua Gandavo, ao lado do muro da Cinemateca, há tempos é motivo de constantes reclamações da vizinhança. A edição 31 do Pedaço da Vila, de 2004, por exemplo, promoveu uma reunião entre moradores com o então subprefeito Luiz Roque Eiglmeier para tentar resolver a questão. Na época, além do entulho, não havia mais calçada e Eiglmeier se comprometeu a pavimentá-la. O feito foi destacado na edição de novembro do mesmo ano, com a foto da passagem revitalizada, o que inibiu por certo tempo o descarte. Já em agosto de 2005, flagramos a polícia autuando um carroceiro que, à luz do sol, despejava no ponto viciado o que não lhe servia.

Outra gestão, o novo subprefeito, Fábio Lepique, foi alertado do problema durante entrevista em fevereiro de 2007. Na ocasião, ele prometeu aumentar a fiscalização. Colocou até uma placa no muro proibindo a ação, mas de nada adiantou e restou à administração retirar o entulho com mais frequência. A calçada, já deteriorada, recebe diariamente material de construção, mobiliários, placas, latas, vidros, colchões, restos de madeira etc.

Mês passado, o Pedaço da Vila voltou a destacar a sujeira da calçada. Só que desta vez, além dos moradores, recebeu total apoio do secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge Sobrinho – morador do pedaço. Freqüentador há anos da Cinemateca, instituição ligada ao Ministério da Cultura, o médico sanitarista Eduardo Jorge já tentara uma solução junto ao órgão, sem obter resultado. Leitor do jornal, aproveitou a matéria e enviou um e-mail, com ela anexada, diretamente a Gilberto Gil, solicitando novamente uma providência. Leia o e-mail na íntegra, a seguir:

“Senhor Ministro Gilberto Gil,

O Ministério da Cultura tem um equipamento maravilhoso aqui em São Paulo, a Cinemateca Brasileira em terreno cedido pela Prefeitura de São Paulo.

Eu a conheço há muito tempo. Em 1989/90, quando era Secretário da Saúde, cedi nosso prédio de manutenção para o início de sua transferência para o atual, a pedido da Prefeita Erundina. É hoje o local de restauro e conservação do acervo.

Sou usuário das salas de cinemas que têm ótima programação.

Assim, é com consternação que venho sugerir, mais uma vez, três providências:

1 – Recuperação das calçadas. Estão em péssimo estado;

2 – Substituição do muro por uma grade. Esta providência necessária e estética vai acabar de uma vez por todas o despejo de lixo e entulho ao longo do muro. Veja anexo a reportagem do jornal local – Pedaço da Vila. A nossa Subprefeitura de Vila Mariana tem que retirar este lixo dia sim dia não. Muro como este em cidade grande é terra de ninguém. É hostil ao próprio entorno que tanto aprecia a Cinemateca.

3 – Abertura para os moradores do bairro do enorme jardim/praça que fica oculto pelo muro. Não é razoável que em uma cidade que precisa de mais verde, mais praças, mais áreas de convivência, a Cinemateca mantenha esta enorme praça como uma praça privada. Um verdadeiro jardim secreto em plena Vila Mariana.

Com a admiração de sempre. Seu conterrâneo.

Eduardo Jorge”.

Dias depois, o secretário recebeu um ofício do gabinete do Ministro, datado do dia 18 de fevereiro. O documento informava que “o assunto foi encaminhado à secretaria de audiovisual para análise e providências cabíveis”.

Ciente da situação, a reportagem procurou o diretor da Cinemateca, Carlos Wendel Magalhães, para comentar as sugestões elencadas. Magalhães falou que tem buscado parceria com a Subprefeitura de Vila Mariana para resolver o descarte ilegal de entulho. E a principal proposta em consenso será demolir trecho do muro para a colocação de gradil e de um vigilante interno ainda neste 1° semestre. No entanto, segundo o diretor, as despesas teriam de ser divididas com a prefeitura. “Antes, existia despejo de lixo até dentro do terreno da Cinemateca. Mas depois que fizemos nosso paisagismo e praça, isso acabou. Agora, procuramos colaborar para a limpeza da calçada. Temos algumas dificuldades orçamentárias, mas a subprefeitura vai tentar arrumar as grades de proteção”, esclareceu.

Magalhães, contudo, diz discordar que a praça da instituição, um oásis verde com cerca de 3 mil m², tombado contra novas edificações, seja inacessível ao público. “Dizer que a Cinemateca é fechada é mito. Nossos acessos são livres, tanto o cinema, que tem programação eclética e prioriza os filmes nacionais, quanto a área de lazer contemplativo dos jardins. Temos duas entradas com boa identificação visual. O público é nossa meta. A praça fica aberta diariamente – de terça a domingo, das 9h às 23h. E faço um convite para a comunidade freqüentá-la, além de nossas duas salas de projeção. Trata-se de um espaço verde agradável para sentar e ler um jornal ou livro, e até degustar os frutos de nossas goiabeiras”, avisou.

O fato é que muitos dos moradores reclamaram de não receberem permissão para entrar na praça – que foi aberta ao público que não freqüenta as salas da Cinemateca somente mês passado.

O secretário do Verde ainda vê algumas restrições no uso da praça da Cinemateca. “Eu mesmo que sou freqüentador da Cinemateca já comi goiaba daquelas árvores, porém também já fui barrado várias vezes por seguranças em outras ocasiões. O uso é muito limitado. Incompatível com uma área pública em um bairro que precisa de áreas verdes para idosos, próxima de suas casas. É preciso tirar aquele muro horroroso e hostil. Colocar gradil como existe no prédio ao lado do Sesi, onde não jogam lixo! É um direito dos moradores freqüentarem a área verde de forma acessível e franca. Continuo apelando para o ministro Gilberto Gil”, observou Eduardo Jorge. Os vizinhos agradecem!