Cientista patrimônio do bairro

Em 2007, a Vila Mariana comemorou 80 anos do Instituto Biológico e o centenário de nascimento de um de seus grandes cientistas Dr. José Reis que também foi um ilustre morador do bairro

O cientista e divulgador científico José Reis (1907-2002) nasceu no Rio de Janeiro e veio para São Paulo, no final de sua formação em Medicina, para fazer uma ampla carreira em diversas áreas da Ciência e da Educação. Em 1929, quando o então Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal ainda estava em formação, o estudante destacado do Instituto Oswaldo Cruz, foi convidado a formar o grupo de pesquisadores que daria apoio aos avicultores do Estado de São Paulo. 

 A Vila Mariana nessa época era distante do centro da cidade – aqui foi cedido um extenso terreno para a sede do IB, que ia até o Viveiro Manequinho Lopes, área ideal para agrupar os serviços e laboratórios de sanidade vegetal e animal que se encontravam dispersos em vários prédios da cidade: nas ruas Marquês de Itu, Brigadeiro Luís Antônio, Nestor Pestana e uma sede regional em Santos.

Contratado como bacteriologista, José Reis aplicou seus conhecimentos na classificação de microorganismos que causavam doenças às aves, principalmente galinhas. Com este aparato, percebeu que muitos criadores apresentavam dificuldades para desenvolver suas produções.

Reis passou então a escrever folhetos explicativos sobre técnicas básicas de avicultura tanto para pequenos quanto para produtores de maior porte. Foi o primeiro a apresentar o potencial econômico da avicultura ao Governo do Estado, na defesa de que: “apesar de pequenos criadores, eles são muitos e em grande quantidade”.

Se nos dias de hoje o meio rural ainda conta baixa escolaridade, é possível imaginar como era nos anos 1930, no interior do Estado. Certamente, José Reis sabia dessa dificuldade de leitura por parte dos criadores e se empenhou no desafio de comunicação. Produziu cartilhas sobre como criar aves saudáveis. 

e com um pequeno laboratório que servia para demonstrar alguns os aspectos científicos, visitou inúmeras chácaras e sítios mantendo contato direto com os avicultores.

Esta atitude de pesquisar intensamente em laboratório e nos livros e depois difundir de alguma maneira seus conhecimentos, era algo que desde menino José Reis já praticava. Quando criança, em meados de 1914, estudar era a norma diária, tanto que alfabetizou a empregada doméstica da casa onde nasceu. Como ele sempre afirmava: “aprender tentando ensinar”.

O fato é que o meio científico em que Reis iniciou seu trabalho tinha resistência de promover conhecimento fora dos círculos especializados. Mas Reis, sempre à frente de seu tempo, passou a desenvolver uma série de publicações e colunas para divulgar os assuntos científicos ao público em geral – atividade que foi o centro de toda a sua vida profissional.
Na Vila Mariana, o prédio sede do então Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, criado em 26 de dezembro de 1927 e que começou a ser construído em 1928, demorou 17 anos para ficar pronto, uma época em que São Paulo esteve em pleno conflito com as forças do governo federal: na revolução de 1930, foi ocupado por 800 soldados, e na de 1932, usado como acampamento gaúcho. Temendo que, em 1937, fosse novamente ocupado por Getulio Vargas, Henrique da Rocha Lima, 2º Diretor do Instituto e muitos de seus pesquisadores, entre eles José Reis, decidiram se instalar como podiam nas áreas já construídas do prédio, formando ali um grande complexo de pesquisa, que no mesmo ano foi renomeado Instituto Biológico.

José Reis, que veio morar na rua Joaquim Távora, atuava na divulgação científica e nas políticas de educação. Ele era admirador de um vizinho da rua Morgado de Mateus, o entomologista Manuel Lopes de Oliveira Filho, o Manequinho Lopes, “o conhecidíssimo e irreverente O.F.”,  que foi pesquisador científico do IB, chefe do Departamento de Matas, Parques e Jardins na gestão do prefeito Fábio de Silva Prado e que durante muitos anos manteve uma coluna no jornal Estado de S. Paulo sobre assuntos agrícolas e científicos.
Foi em 1936 que Reis torna-se conhecido internacionalmente ao publicar o Tratado de Ornitopatologia, um catálogo que é o resultado tanto da boa experiência com os avicultores do Estado, quanto de esmeradas práticas em laboratório. O trabalho, que contou com a colaboração dos pesquisadores Paulo Nóbrega e Annita S. Reis (sua esposa), reunia informações de vários países, teve grande repercussão no exterior e projetou o nome de Reis a várias instituições.

Em1941 trabalhou na reorganização da Secretaria de Agricultura e foi convidado a dirigir o Departamento do Serviço Público dos governos de Fernando Costa e Macedo Soares. Em seguida, criou a atual Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, a FEA-USP, da qual foi seu primeiro diretor e iniciou sua coluna na Folha da Manhã.

Atuando no meio acadêmico, Reis percebeu que os cientistas no Brasil estavam dispersos e, aos moldes do que havia nos Estados Unidos, sugeriu a criação da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -, instituição que veio a tornar-se uma das mais prestigiadas e atuantes no país.

José Reis cada vez mais se direcionava ao jornalismo de divulgação científica. Seu trabalho na Folha da Manhã se consolidava com a coluna “No mundo da Ciência”, todos os domingos.  Ele se destacava por escrever com beleza e compreensão sobre os mais diversos temas e fatos da ciência do Brasil e do mundo e em 62, foi convidado a assumir o cargo de diretor de redação da Folha da Manhã.

A partir daí, Reis promoveu uma das mais efetivas campanhas em prol da educação, criando uma série de palestras reunidas no bordão e no livro “Educação é Investimento”.

Seu empenho e paixão atravessaram os anos 1960 até perto dos anos oitenta. Promoveu, pessoalmente, as feiras de ciências e os concursos “Cientistas do Amanhã”. E na década de setenta, esteve presente em momentos marcantes para o desenvolvimento do país. Liderou, junto com a Dra. Alba Lavras, o movimento para a criação da carreira de pesquisador científico – fator fundamental para a solidez da ciência no Estado. Vale destacar que em plena época de regime militar, suas ações pela educação básica com foco científico, não tiveram restrições da censura.

José Reis continuou a publicar sua coluna Periscópio na Folha de São Paulo até 2002, data de seu falecimento aos 94 anos. Parte de seu material forma o acervo do Institutio Biológico e sua biblioteca foi incorporada ao Núcleo José Reis de Divulgação Científica da Eca-USP, que a partir de 2006 passou a sediar a Cátedra Unesco de Divulgação Científica.

O Instituto Biológico comemora 80 anos, em 2007 – ano do centenário de nascimento de José Reis – com o credenciamento pela CAPES para oferecer um programa de pós-graduação – “strictu sensu”, nível Mestrado – na área Multidisciplinar de “Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio. Feliz coincidência, considerada também uma homenagem do destino ao homem que norteou sua vida em prol da ciência e da educação. E que tinha como filosofia “ser mais necessário agora e aqui”.

3 comentários sobre “Cientista patrimônio do bairro

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