100 anos da Igreja Santa Generosa

A primeira paróquia da Vila Mariana, a Santa Generosa, construída no antigo Largo Guanabara em 1915, foi desapropriada em 1967 para a passagem da Avenida 23 de Maio e do metrô. Com a ajuda da comunidade, o Cônego José Mayer Paine liderou a reconstrução da Igreja num terreno próximo e em apenas três anos. Neste mês, para celebrar o centenário da Santa Generosa e os sessenta anos de paroquiato do Cônego Paine, uma grande quermesse será realizada para confraternizar com a comunidade a permanência da igreja na história do bairro

No dia 4 de abril de 1915, em um domingo de Páscoa, foi iniciada a construção da nova paróquia de Vila Mariana, a Santa Generosa, instalada no antigo Largo da Guanabara, onde hoje está o viaduto que leva o nome da santa. No ano de centenário da igreja, padres, paroquianos e apoiadores preparam uma grande festa, “Santa Generosa de todas as Nações”, com o mesmo espírito de confraternização que não deixou a igreja sumir da história do bairro.

O primeiro pároco da Santa Generosa foi Padre Marcello Franco, que inaugurou a matriz parcialmente, em 1924. As obras prosseguiram até 1943, quando o segundo pároco, o Cônego Pedro Gomes, recebeu um aviso da Prefeitura, informando que, por conta das obras de urbanização da cidade, a matriz deveria ser desapropriada do local. Padre Fábio Fernandes, há dois meses como o novo pároco da igreja, conta que ela foi construída pelo primeiro arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva. 

“A igreja nasceu de uma capela e era suntuosa, belíssima e arquitetada em estilo gótico. Porém, em 1945, cogitou-se a desapro-priação do terreno para abrir caminho para obras de urbanização na cidade” — o metrô e a Avenida 23 de Maio. 

Em 1945, as obras da igreja foram paralisadas; contudo, com a chegada do novo pároco Cônego Alberto Baccilique, e a não concretização da medida de desapropriação por parte da Prefeitura, as obras da igreja foram retomadas, e ela foi inaugurada em 1950.

Tudo parecia bem, até que em 1967 o novo pároco, Cônego José Mayer Paine — substituído recentemente pelo padre Fábio — recebeu a notícia da desapropriação e rapidamente a igreja começou a ser demolida. Segundo o Cônego Paine, “foram 25 anos de tensão desde o primeiro anúncio de desapropriação, até a concretização da demolição”. A irmã de Paine, Maria Aparecida Paine, recorda que tudo ocorreu muito rapidamente. “Foi uma luta! Eu e meus irmãos viemos para São Paulo para ajudar”, conta.

A busca por outro terreno para abrigar a paróquia foi conduzida pelo cônego, à frente da Santa Generosa há 60 anos. Sem muito tempo e desprovido de dinheiro, ele bateu de porta em porta para levantar fundos para ajudar na construção da nova igreja. “Ele não teve nenhuma ajuda do governo, contou apenas com o apoio e a solidariedade dos paroquianos e da comunidade”, destaca padre Fábio. “Muito do que foi prometido não foi entregue pela Prefeitura”, observa Maria Aparecida.

No dia 27 de setembro de 1970, erguida onde funcionava o salão e a casa paroquial, a nova matriz da Paróquia Santa Generosa foi inaugurada pelo então arcebispo, o Cardeal Agnelo Rossi. “Essa igreja foi construída sob os olhares do céu. Hoje, mais do que nunca, agradecemos ao Senhor o que ele fez para nos dar uma igreja de Santa Generosa, no mesmo bairro e com as mesmas pedras. Aqui está a nova Paróquia de Santa Generosa”, agradeceu recentemente o Cônego Paine. 

Da antiga igreja foram aproveitados 40 vitrais italianos, lustres e a porta central. Algumas casas, entre as ruas Tomás Carvalhal e Afonso de Freitas, foram adquiridas para servir à paróquia como centro social e casa paroquiana. A santa padroeira da igreja, Generosa, era de Cartago, na África. “Provavelmente era uma jovem virgem e escrava. Não existem precisões históricas sobre ela, porém, por deduções do contexto de sua época, ela era pobre e morreu no século II d.C., martirizada durante a segunda perseguição de Valeriano aos cristãos”, conta Padre Fábio. E complementa: “Muitas relíquias de Generosa estão em nossa paróquia”.

O verdadeiro significado do nome da santa permeia todos os trabalhos realizados pela paróquia. Várias associações religiosas, como a Sociedade de São Vicente de Paula, Legião de Maria, São José, entre outras, trabalham no local em prol dos mais necessitados. “Para compreender a virtude da generosidade, precisamos praticar a humildade, que é a primeira virtude cristã. Todos nós temos quali-dades e devemos aceitá-las e sermos gratos por elas, mas também temos erros, misérias e pecados que temos que reconhecer.” A humildade, explica, vem de húmus, que significa terra, parte da nossa essência. “Costumamos encarar a santidade como algo idealizado e distante, pertencente apenas às pessoas especiais. No entanto, a santidade não é isso. Ela é o caminho da humildade, no qual você pode aprimorar as suas qualidades e corrigir os seus defeitos. É a nossa verdade diante de Deus”, ensina.

A segunda virtude cristã é a generosidade: “A generosidade é parte da humildade, é a capacidade que cada um tem de fazer o bem gratuitamente e além do que se é esperado. Um coração generoso é um coração grande, que faz as coisas sem interesse, por amor a Deus e ao próximo, e só quem é humilde é capaz de ser generoso”, revela o Padre, destacando que a paróquia não se chama Generosa por acaso. “A virtude que mais prezamos nessa paróquia é a generosidade, e isso é visível na relação fraternal que existe entre os paroquianos e a comunidade, incluindo as ações voltadas aos mais necessitados”, completa.

Neste ano, além de comemorar o centenário de fundação da paróquia e de suas associações beneficentes, celebra-se também os sessenta anos de paroquiato do Cônego Paine, que sempre lutou para manter a igreja no bairro. De acordo com padre Fábio, a festa deste ano, além de estar entre as comemorações do centenário e do paroquiato de Cônego Paine, ela ainda tem outros três objetivos: ho-menagear a padroeira Santa Generosa, angariar fundos para as necessidades materiais da igreja e confraternizar.

O tema da quermesse de centenário, União das Nações, é para mostrar que a igreja está aberta a todos. “Pensamos em Santa Generosa de todas as nações porque São Paulo é uma cidade multicultural, plural, capaz de acolher pessoas de diversos cantos do país e do mundo. Então, nada mais justo do que oferecer um evento com a culinária e a tradição que manifesta toda essa diversidade. A nossa igreja é frequentada por pessoas do mundo inteiro; temos peruanos, japoneses, chineses, africanos…”

A quantia arrecadada pela quermesse vai ajudar os trabalhos assistenciais realizados pelos paroquianos. “Embora eles sejam discretos,  são muito organizados e unidos. Hoje temos alguns grupos de pessoas que arrecadam mantimentos e remédios para cuidar da saúde dos necessitados. Também temos uma associação que dá apoio emocional, espiritual e material às mulheres gestantes”, revela padre Fábio, que aproveita para convidar nossos leitores para a festa, que acontece nos dias 25 e 26 deste mês. “Teremos pratos típicos, brincadeiras, manifestações culturais e sentimentos fraternos. Todos são bem-vindos!”, ele garante.

A fé do Cônego José Mayer Paine fez com que ele, em 1967, encarasse a desapropriação da igreja e levantasse, em apenas três anos, outra paróquia vizinha da antiga. Hoje, aos 94 anos, ele acompanha as missas, sentado ao lado do altar. Padre Fábio conta que, nestes sessenta anos à frente da Santa Generosa, o Cônego Paine sempre acolheu seus fiéis, dizendo: “As portas da igreja estão abertas, e o coração do pároco está escancarado”.

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Festa Santa Generosa de Todas as Nações

Sábado (25), das 10h às 22h; Domingo (26), das 10h às 20h

Local: Rua Tomás Carvalha x Viaduto Santa Generosa (Estação Paraíso do Metrô)