As confeitarias

Nosso país não tem a tradição de preservar memórias. Pouco restou de um passado não tão distante. De nossas cidades mais antigas, como Rio de Janeiro e São Paulo, há poucos resquícios dos casarões e bairros de outrora — a especulação imobiliária, a falta de cultura e de interesse dos governantes põem abaixo esses tesouros e ocupam seus lugares com prédios modernos, de gosto duvidoso, ou largas avenidas, viadutos, minhocões etc..

As confeitarias no Rio antigo eram similares aos cafés em Paris ou aos pubs na Inglaterra, e palco de encontros de políticos, artistas e de muita gente que badalava na capital da jovem República. A nossa Belle Époque despontava com as confeitarias. Escritores como Machado de Assis, Olavo Bilac, Aluísio de Azevedo, Lima Barreto, entre outros, frequentavam a Confeitaria Pascoal, na Rua do Ouvidor, parte do circuito cultural e gastronômico.

Em 1894 teve início a construção de uma confeitaria que iria se tornar celebre e que resiste até hoje, a Colombo, considerada a confeitaria das confeitarias, um patrimônio de arquitetura art nouveau, famosa por suas empadas e outros quitutes. Ali se reuniam todos os tipos das pessoas, discutia-se política, lançava–se moda, ouvia-se a música de Chiquinha Gonzaga, Villa Lobos e Noel Rosa, frequentadores da casa com os seus pratos prediletos. A mãe de Vila Lobos trabalhava nessa confeitaria como engomadora. Vila Lobos escreveu sua primeira peça para violão, chamada Panquecas, em homenagem às panquecas de sua mãe! 

A Confeitaria Colombo era um lugar de consumo de novidades e de produção de ideias. O tempo passou e, felizmente, a Confeitaria Colombo sobrevive no mesmo endereço há 122 anos! Em 1983 foi tombada pelo IPHAN, e sua arquitetura, móveis e decoração foram preservadas. Até hoje a casa ostenta um orgulho carioca — e por que não dizer nacional? — um espaço que perpetua um tempo, com seus espelhos de cristal belga, seus móveis em madeira e sofisticação. Neste mês, compartilho uma receita de seu cardápio.

Tartellete de chocolate e avelã

MASSA: 1 kg de farinha de trigo; 400 g de manteiga gelada em cubinhos; 250 g de açúcar refinado; uma pitada de sal; 4 gemas; 1 colher (sopa) de essência de baunilha; 100 ml de água gelada. Recheio: 500 ml de creme de leite fresco; 600 g de chocolate meio amargo picado; 250 de avelãs torradas, sem pele; 50 g de açúcar. Para decorar: 100 g de chocolate branco derretido

MODO DE FAZER: Misturar com a ponta dos dedos a farinha, o açúcar e a manteiga, até a mistura ficar com consistência de farofa: adicionar a baunilha, as gemas e a água, não sovar, fazer uma bola de massa e levar à geladeira por meia hora no mínimo. Abrir a massa nas forminhas e assar a 180c por 20′ ou até ficar dourada. Reservar.

RECHEIO: triturar as avelãs juntamente com o açúcar em um processador e reservar. 

Aquecer o creme de leite até quase ferver, despejá-lo sobre o chocolate picado e cobrir com o plástico filme e deixar descansar por 5 minutos. Mexer bem o creme de chocolate até ficar dissolvido, acrescentar as avelãs e misturar.

MONTAGEM: colocar o creme de chocolate com as avelãs na forminha de massa já assada. Com a ajuda de um saco de confeitar colocar o chocolate branco e decorar as tartelletes 

(rendimento: 10 unidades).

Maria Helena Serrano é chefe de confeitaria desde 1994.

Frequentou a École Lenôtre em Paris e é proprietária 

da Quinto Pecado Doces, fábrica e loja de doces e salgados. 

Rua Cel. Artur de Godoi, 12. www.quintopecadodoces.com.br

mariahelena@qpecado.com