Síndrome de Burnout

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) – Brasil, a Síndrome de Burnout está incluída na 11a. Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como um “fenômeno ocupacional”. Não é classificada como uma “condição de saúde”. É descrita num capítulo específico de “fatores que influenciam o estado de saúde ou o contato com os serviços de saúde”, cujo gatilho vem do estresse profissional continuado e ininterrupto.

Há cerca de 15 anos, ouvi falar em Burnout, em um Congresso Psicológico, num domingo, às 8 horas. Desconhecia que o trabalho poderia causar tamanha exaustão, até que comecei a perceber, no consultório psicológico e no hospital, vários casos que me chamaram a atenção.

A partir dali, sempre que um paciente ou amigo/parente, começava a falar dos sentimentos que vinham no domingo à noite, sob a expectativa de mais uma semana, e o quanto aquilo os estava esgotando, lembrava daquela aula em que o professor citava a sensação desastrosa que a música do Fantástico, ao término do programa televisivo, provocava nas pessoas. A citação do Programa é meramente ilustrativa, porém a realidade dessas pessoas, não!!!

Conheci um indivíduo que trabalhava em 4 locais, na área de saúde, sob estresse contínuo e que teve um infarto fulminante, deixando a família desesperançosa. Embora apresentasse bons hábitos alimentares, vida regrada, sem ter antecedentes familiares com mortes abruptas, me foi colocado o quanto essa pessoa, que darei o nome fictício de “João”, se dedicava ao trabalho, sem tempo nenhum para si. Cumpria uma agenda exaustiva. Embora apresentasse alguns dos sintomas típicos de Burnout, não teve tempo hábil para perceber esses excessos e “parar um pouco”, encontrando uma coesão entre o seu labor e sua vida pessoal e familiar. Que bom teria sido, se “João” tivesse dado um tempo para si. Talvez na atualidade ainda estivesse no nosso meio, produtivo sim, mas com alguns limites.

Bem, sabemos as necessidades financeiras que todos temos, não podemos nos dar “ao luxo” de renunciar a um emprego ou de algumas atividades laborais extras em certos momentos de nossas vidas. Mas não é disso que estamos falando! É dos excessos que nos colocam como marionetes. Temos que usar nosso livre arbítrio de forma adequada, ver o que é necessário e o que é demasiado.

Na prática diária vislumbramos pessoas que trabalham mais, têm menos tempo para a família e amigos, apresentam excessiva preocupação com seus gastos e tem dificuldade em dar um basta às pressões sociais.

As condições atuais de home office, na maior parte das vezes, induz os funcionários a iniciarem suas atividades antes da hora e encerrarem muito além do convencionado.

Acabam desistindo de tomar um solzinho, fazer uma caminhada, cantarolar, “curtir” o parceiro(a), abraçar um filho e assim por diante. A qualidade de vida vai se tornando cada vez pior. Quando se dão conta, vivem para o trabalho e se despersonalizam.

Certas profissões, como policiais, jornalistas, professores, bancários, área da saúde, saem à frente dos demais, em casos de Burnout. As exigibilidades profissionais, conduzem a quadros muito graves. Pensemos, por exemplo, naquele que enfrenta bandidos, no outro que salva vidas, no mestre que com parcas condições, tem que realizar pequenos “milagres” nas aulas. Além de outras especificidades, como lidar com o mundo corporativo, dar conta de artigos jornalísticos para “ontem” etc.

Para que nos atentemos aos sinais dessa Síndrome, citaremos seus principais sinais:
1. Cansaço mental e físico em excesso.
2. Dificuldade de concentração.
3. Perda de apetite.
4. Insônia.
5. Agressividade e irritabilidade.
6. Baixa autoestima.
7. Lapsos de memória.
8. Dores no corpo.
9. Dores de cabeça.
10. Negatividade.
11. Insegurança.
12. Sentimentos de fracasso.

Quase sempre, com o trabalho estressante, vem a exaustão emocional, aliada a um quadro de desumanização, ou seja, foco nas próprias tarefas e metas, independente de possíveis necessidades do outro – seja ele o colega de trabalho, um familiar ou o vizinho. No trânsito, prevalece aquela noção de que “tenho o direito de passar primeiro”.

Esse quadro compromete a relação familiar e social, afetando diretamente os indivíduos à sua volta. Alguns autores, como Benevides-Pereira AMT discorre justamente sobre quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. Aquilo que seria uma fonte de satisfação, não só pelo ganho, mas também pela consecução de algo útil, toma outro norte sob o consenso social e de realização.

Os pacientes referem que o prazer inicial que o trabalho trazia começa a diminuir. Isso vai, paulatinamente, trazendo grande desgaste e perda de energia.

As cobranças exacerbadas, a falta de limites e de respeito, podem alavancar inúmeras somatizações que vão, de um simples desarranjo gastrointestinal até quadros muito mais graves, beirando a cronificação de doenças mentais (depressão e ansiedade e algumas de suas variantes), além de mortes súbitas.

Muitos referem pesadelos, nos quais se veem trabalhando e trabalhando, sendo que, não incomum, os superiores hierárquicos estão ali, dando ordens em meio a aflição desses sonhos. A pessoa não relaxa, nem enquanto dorme.

O importante para inferirmos é: o que leva um indivíduo a tal ponto? Um paciente, outro dia, me disse que se sentia um artigo fixo da empresa, destes que recebem um número, numa plaquinha. Pensemos: quando nos transformamos em números?

Muitos de nós nos tornamos “cumpridores de metas e metas”. Mas e a nossa meta principal de olharmos para dentro de nós mesmos e nos sentirmos inteiros? Onde está? Responsabilidades têm que ser cumpridas, sim, sempre! Mas tudo o que passa de um certo limiar, pode acarretar danos psíquicos, às vezes, irreversíveis.

A Síndrome de Burnout requer não só assistência médica, como psicológica. O quanto antes for detectado o quadro, mais rapidamente o indivíduo conseguirá criar recursos de enfrentamento. Não necessariamente abdicará do seu trabalho, mas, com certeza, terá que se reinventar nas atividades laborais, pelo bem de sua saúde física e mental.

É essencial, que a pessoa fortifique suas relações afetivas, pessoais, familiares e sociais. Se possível, faça um relaxamento, uma meditação, lembre-se de momentos bons de sua vida, curta a natureza, pratique um hobby – dentre outros recursos que cada qual encontrará dentro de suas preferências.

Lembremo-nos de Charles Chaplin (1889-1977) que, de maneira bem- humorada, deixou sua marca, nessa fala: “Pensamos demasiadamente e sentimos muito pouco.

Necessitamos mais de humildade, que de máquinas. Mais de bondade e ternura, que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo pode se perder”. Que o trabalho deixe de ser um pesado fardo, para manter-se como um grande manancial de grandes realizações.

A decisão é nossa! Só nossa!

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Eliana Aparecida ConquistaCrp/SP 06/42479Eliana Aparecida Conquistah Consultoria em Psicologia CNPJ: 36.586.648/0001-39Crp/SP 06/8377J

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