O que os adolescentes de hoje têm a nos ensinar?

Na definição de adolescência, vemos que a origem da palavra vem do Latim, “adolescentia”, que significa período da vida humana entre a infância e a fase adulta. Vamos encontrar, ainda, quem defina adolescência como uma fase natural da vida, marcada por transformações biológicas e comportamentais. Alguns pesquisadores descrevem a adolescência como um processo de construção social e histórico, como sugerido no artigo “Adolescência como uma construção social”, de Ana Bock, 2007.

Continuando nossa busca por entendimento dessa fase, encontramos que a Organização Mundial da Saúde circunscreve a adolescência à segunda década da vida (de 10 a 19 anos) e considera que a juventude se estende dos 15 aos 24 anos. Esses conceitos comportam desdobramentos, identificando-se “adolescentes jovens” (de 15 a 19 anos) e “adultos jovens” (de 20 a 24 anos).

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) considera a adolescência na faixa dos 12 aos 18 anos de idade completos, sendo esta a referência, desde 1990, para a criação de leis e programas que asseguram os direitos desta população.

Saindo dos dados e informações (mas já percebendo que a complexidade começa pelas definições e pela demarcação do período em que acontece, segundo diferentes fontes) e tentando entender melhor o que se passa nesse período, estamos acostumados a enxergar as pessoas que estão passando por essa fase como intempestivas, impulsivas, rebeldes, difíceis, tímidas demais ou extrovertidas demais, fechadas dentro de casa e abertas demais aos riscos fora dela, enfim, a expressão de extremos, com os quais nós, pais, educadores, parentes, vizinhos (ou qualquer que seja nossa posição em relação ao convívio com um deles) temos enorme dificuldade em lidar.

Será que não é o fato de não entendemos esse período que nos traz tantos desafios em relação a eles? Será que entender um pouco melhor o que se passa nessa fase não facilitaria esse convívio?

Só vamos conseguir discernir o aprendizado que podemos ter com esses intempestivos seres humanos, se nos voltarmos para um melhor entendimento dessa fase.

A neurociência nos traz importantíssimas informações atualizadas sobre o assunto.

Antes de mais nada, precisamos conhecer um conceito dessa área que traz luz sobre o que podemos aprender com os adolescentes. Esse conceito é o da “plasticidade cerebral” ou “neuroplasticidade”, que consiste na capacidade de reorganização da estrutura neural do indivíduo ao viver uma experiência nova, ou seja, a capacidade das sinapses, dos neurônios ou de regiões do cérebro, alterarem suas propriedades através do uso ou estimulação.

Traduzindo um pouco melhor esse importante conceito, percebemos que o cérebro pode se modificar, aprimorar e reorganizar por meio de aprendizado, treino, experiências novas significativas. É uma capacidade extremamente importante para diversas áreas do desenvolvimento humano e teríamos muito a falar sobre ela.

Mas foquemos na neuroplasticidade da adolescência. O neurocientista da Universidade de Temple, Laurence Steinberg, trouxe, na Conferência “Learning and the Brain”, em Boston, já em 2016, que essa capacidade está mais ativa na criança, até os 5 anos e depois, novamente, na adolescência, quando o cérebro apresenta crescimento e desenvolvimento por meio de novos caminhos e conexões, de acordo com as novas experiências. Não que isso não aconteça em outras fases da vida, mas nessas duas fases, é muito mais ativa. É um momento em que o cérebro pode ser drasticamente modificado.

Sabe-se, também em função da neurociência, que na adolescência, dois elementos cerebrais importantes podem entrar em desequilíbrio. Veja só: o córtex pré-frontal – que controla coisas como planejamento, pensamentos sobre o futuro, balanço entre risco e recompensa e raciocínio lógico – está mais maleável durante a adolescência. Ao mesmo tempo, os hormônios sexuais liberados na puberdade afetam o funcionamento do cérebro, adicionando mais dopamina (hormônio que provoca a sensação de prazer e aumenta a motivação) para o sistema. Toda vez que um adolescente se sente bem sobre algo, ele recebe um jato de dopamina. E quando há o desequilíbrio – esperado na adolescência – entre esses dois componentes cerebrais, o balanço entre risco e recompensa fica prejudicado. É por isso que os adolescentes procuram experiências agradáveis, apesar dos riscos. É por isso que os “jogos de desafios”, tão comuns nas redes sociais de hoje e tão arriscados em suas consequências são tão bem aceitos por eles.

É preciso termos a clareza de que desafiar os adolescentes, na educação e nas relações pode trazer resultados muito positivos. Não o desafio do conflito, mas o desafio da superação, da conquista, utilizando-o de forma saudável. Essa é uma dica importantíssima para educadores e pais. Daí o sucesso de gincanas e campeonatos de diversos tipos. Talvez dessa forma, os “jogos de desafios” das redes sociais não sejam tão procurados.

Buscamos, mas não encontramos dados bem atualizados para o Brasil sobre as preferências de redes sociais utilizadas pelos adolescentes. Sabe-se, no entanto, segundo artigos do final da última década, com alguma atualização, que Instagram e Tik Tok são os mais utilizados, seguidos pelo YouTube e Facebook, nesta ordem. Porém, não encontramos pesquisas efetivas que nos trouxessem os dados estatísticos a respeito.

Além dos “jogos de desafios”, outros elementos mostram-se extremamente perigosos nas redes sociais, em especial para adolescentes. Os ideais de autoimagem, as fotos retratando felicidade constante, viagens maravilhosas, corpos perfeitos, soluções milagrosas para corpos imperfeitos, a facilidade de se conseguir qualquer coisa, lícita ou não, tudo isso pode levar os adolescentes a lidar com a própria realidade de forma sentirem-se inadequados, gerando consequências gravíssimas na área da saúde mental.

Por outro lado, é preciso enxergarmos, também, outros aspectos da informação tão amplamente acessada pelos adolescentes e o que fazem com isso. A Geração Z é a que engloba quem nasceu entre 1998 e 2009 e é a primeira geração 100% digital. Nascidos em uma era política e financeira turbulenta, é a geração que abraça a diversidade absorvida na internet e lidera a mudança ao agir no mundo por meio de ações práticas.

Além disso, vemos uma geração mais preocupada com a ecologia, com o planeta, com o entendimento dos caminhos políticos. Querem votar, querem se manifestar, querem ser ouvidos em sua diversidade, posicionando-se de forma mais clara e exposta como nunca. Muitos, ao invés de mostrarem uma felicidade irreal, expressam e reivindicam atenção para a realidade suas angústias ou mostram a valorização das relações inclusivas.

A contestação, tão característica dessa fase, permanece e pode ser vista de forma muito clara e frequente. O mundo virtual é um mundo em que a imagem toma o primeiro plano. Todas as plataformas de interação social digital, mesmo as que usam recursos de linguagem escrita, são massivamente ocupadas por imagens.

A imagem e a fala prevalecem como expressão. Vídeos e áudios retratam suas aflições e conflitos. As reações são, muitas vezes, a expressão de polarizações utilizadas como referências, mas não necessariamente como posicionamentos efetivos e imutáveis.

Lembremos que os desafios precisam fazer parte desse período da vida. É por meio deles que o cérebro vai-se formando e construindo o adulto de daqui a pouco.

Aprendemos com eles, que o mundo virtual é um mundo em que a imagem toma o primeiro plano. E eles nos ensinam que não podemos acreditar na imagem, mas podemos fazer uso dela.

Talvez ainda tenhamos muito mais a aprender com os adolescentes, suas reivindicações, protestos e com o entendimento sobre a necessidade que eles têm de desafios. Principalmente pais e educadores com o poder de definir as formas de ensino, as formas de construção dos novos adultos atuantes nos próximos anos. Entendendo-se que, com “próximos anos”, estamos falando de adultos desta década. É um tempo muito próximo! Por isso, muita atenção ao que eles têm a nos dizer e à maneira que veem o mundo de hoje, construindo a visão do mundo de amanhã.

A decisão é nossa! Sempre nossa!!

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