Paz Interior na Birmânia
Resumir uma viagem a Birmânia é tarefa difícil, as impressões foram tantas que se chega a ficar confuso, desligando o cérebro à procura da paz interior.
Chegamos a capital Yangon(ex Rangún) depois de um vôo muito agradável. No aeroporto fomos recebidos por nosso guia pessoal, um birmanes típico, de calças largas (“longhi”, como chamam lá ), que todos os birmaneses vestem, muito cômoda para o caloroso clima da região. Em meio ao trânsito totalmente caótico com caminhões e camionetes que funcionam como coletivos ( na parte de carga têm dois a três bancos longitudinais que vão da cabina a ” porta “, onde geralmente se penduram de 8 a 10 pessoas, mais as que viajam no teto ) e carros, que em outros países estariam num museu. Policiais de trânsito de uniforme branco tipo época colonial inglesa e gente cruzando as ruas às loucas – apesar de tudo ter sua ordem, ordem que só eles entendem… Em meio a essa confusão, chegamos ao nosso hotel, à beira de um lago, com um enorme jardim de plantas tropicais, uma piscina que mais parecia uma lagoa no meio da selva, flores por todos os lados e uma infinidade de pássaros. Lindo!
Yangon é uma cidade que não mudou desde a época colonial, com edificações que nunca foram renovadas, todas com pátina da Antiguidade. Romântica, mas muito pouco habitável para gente sem espírito de improvisação. Um espírito presente em toda Birmânia.
Visitamos vários pagodes, templos budistas, espetaculares pelo seu tamanho e beleza, edifícios que foram conservados e em contínua renovação. Os birmaneses são muito religiosos, os pagodes estão sempre cheios de gente que reza e executa os ritos religiosos, como varrer o piso, lavar as estátuas de Buda, cobrí-las com finíssimas lâminas de ouro (que se vendem em todos os templos) e colocar oferendas (cestas com frutas e flores) ao lado das estátuas.
Também visitamos bazares e mercados – um espetáculo! -, quadras e quadras de pessoas sentadas na rua vendendo todo tipo de frutas e legumes, flores, pescados, condimentos, macarrão e tortilhas, mini-restaurantes nas calçadas, gente comendo a toda hora com muito gosto, multidões andando e comprando. Conseguir avançar, só com muita paciência. E, o mais impressionante nesse incrível país: todo mundo sorrindo, cantando, com cara de felicidade, apesar da extrema pobreza.
De Yangon viajamos a Mandalay, a segunda cidade em importância de Myanmar, onde a maioria da população se movimenta de bicicleta, desde as simples, às com ” side-car” para acompanhantes, onde são transportadas duas ou três crianças ou enormes embrulhos de mercadorias, largas tábuas, canos, dezenas de cestos… Enfim, o que carregamos em uma camionete, é transportado por eles numa bicicleta, e tudo em meio a um trânsito infernal. São acrobatas das ruas, é muito bonito de se ver, mulheres e homens de saias com seus chapéus e turbantes típicos.
Visitamos uma oficina onde chapeiam ouro- lâminas muito mais finas que um papel, tudo manual, a marteladas- para decorar Budas e para criação de artesanato. Logo mais adiante, uma fábrica de títeres (bonecos) – especialidade da Birmânia, onde existem muitos teatros de marionetes. Estivemos em um espetáculo, e é impressionante o que eles conseguem fazer com as figuras, que em seus movimentos parecem seres humanos, acompanhados por um grupo musical folclórico.
Logicamente, também visitamos palácios de velhos imperadores e templos budistas antigos, alguns deles com estradas em meio a plantações de arroz e amendoim.
De Mandalay viajamos a Bagan – uma antiga cidade que em séculos passados foi capital imperial- por barco fluvial, uma noite e um dia, um passeio muito lindo nas orlas de pequenas aldeias: mulheres lavando roupas, crianças brincando na água, pequenos botes de pescadores e em todos os lados lanchas abertas transportando moradores com suas vestimentas típicas. Bagan se encontra em uma imensa planície verde, com muitos arbustos, onde há a maior concentração de templos existentes, são quilômetros e quilômetros, e em qualquer direção que se olhe são vistos “stupas”, nome que dão às capelas budistas, centenas delas. Algumas capelas quase em ruínas, outras muito bem conservadas, com murais pintados há muito séculos. Além de grandes templos cuja arquitetura parece saída de um conto universal e que até hoje realizam atividades religiosas.
De Bagan viajamos até o lago Inle, situado entre montanhas a 900 metros de altura. Visitamos uma cova na montanha onde se encontram 8000 estátuas de Buda, é muito interessante andar entre os infinitos Budas, de todos os tamanhos, distribuídos pelos caminhos das cavernas entre estalactites e estalagmites, em nichos ou sobre grandes pedestais, com uma iluminação que ressalta ainda mais a cor de ouro brilhante.
Nosso hotel no lago se encontrava, como todas as edificações do lugar, sobre palafitas. Habitações construídas com bambu, cada uma com seu terraço dando para o lago, muito confortável. O lago, com 23 quilômetros de comprimento e 10 de largura, é muito interessante pela vida que ali se desenvolve. Ilhas artificiais construídas pela compactação das plantas aquáticas e mantidas em seus lugares graças a estacas introduzidas no leito do lago, com plantações de legumes diversos e flores. As casas dos moradores na ilha também são construídas na água e todo mundo se locomove de bote, as ruas são vias de água, escolas ficam sobre palafitas, oficinas de artesanato de todo tipo, fábricas de tecidos e até templos sobre a água. Muito pitoresco é o “mercado”, uma enorme e caótica reunião de botes de vendedores que vendem de tudo, até lenha para cozinhar. Ali ficamos dois dias, com um frio impressionante pela manhã, e calor de tarde graças ao intenso sol.
Voltamos a Yangon e de lá para casa com muita nostalgia da Birmânia, um lugar inesquecível.