Uma Mídia para a Paz
Todos os dias, querendo ou não, nossa vida é tocada pela mídia. Mesmo quando não lemos o jornal nem ouvimos rádio no carro ou lemos o noticiário ao checar nossos e-mails. Basta um papo rápido no elevador, no ônibus ou no escritório para saber a manchete do dia: quem matou quem, quem foi preso, quem roubou no Senado, que traficante fugiu da prisão, que casal se separou ou quantos bebês foram abandonados pela mãe.
Será que não acontece nada de bom nesse mundo? Você já parou para pensar que muitas coisas interessantes e importantes ocorrem no mundo e não viram notícia? Por que será que isso acontece? Bom, há inúmeros estudos sobre isso. A desculpa mais usada pelo senso comum diz que os jornais publicam tragédia porque é o que as pessoas querem ler e assistir na TV e, portanto, é o tipo de notícia que vende mais.
Seja como for, eu gostaria apenas de lhe perguntar: já que a mídia tem uma presença marcante no nosso dia-a-dia, qual o papel dela na sociedade no que diz respeito à transformação da cultura de violência que vivemos hoje para uma cultura de paz?
Esse é um tema ainda incipiente, mas absolutamente fundamental.
Lembro-me, por exemplo, de quando estive na ecovila de Findhorn (Escócia) e vi um garoto lendo um jornal que se chamava Positive News ou “Notícias Positivas”. Acabei pedindo para dar uma olhada e constatei que as reportagens falavam de coisas que a comunidade havia conquistado: a praça que havia sido revitalizada, a escola que estava oferecendo bolsas a alunos carentes, as apresentações musicais gratuitas da semana, relatos de plantios de árvores, a inauguração de mais uma ciclovia, entre outras boas notícias.
Não se trata de se alienar das coisas ruins que estão à nossa volta, mas sim de dar espaço para mostrar um pouco do outro lado. Ou você acha que não existe solidariedade, bondade, altruísmo no mundo?
Mês passado pude participar do júri do Prêmio Mídia da Paz, uma parceria entre o Instituto Roerich da Paz e Cultura do Brasil (ONG que apóia o Projeto Ecobairro), o Movimento Mídia da Paz e a revista Imprensa, com patrocínio do Hospital Samaritano. O resultado será anunciado em breve na imprensa. Durante esse processo, eu me perguntava o que seria uma mídia da paz: a que denuncia atos que vão contra a paz ou aquela que noticia conquistas da sociedade?
O prêmio, nesse sentido, é uma oportunidade de refletir sobre um tema que não diz respeito apenas aos jornalistas, mas aos leitores, telespectadores, ouvintes e internautas que têm o direito de saber que, na mesma avenida em que um banco foi assaltado acontecia também um mutirão de jardinagem para dar “aquele trato” na pracinha freqüentada pelos moradores da região. Afinal, quem foi que disse que um ato de paz não é importante o bastante para ser notícia?