Homenagem a Vó Marinha
Queridos amigos do Pedaço, este é um daqueles textos que chamamos de “difíceis”. Difícil de escrever.
Mais difícil ainda de sentir antes de escrever. Homenagear uma grande amiga que partiu é tarefa doída, mas necessária. Especialmente porque essa amizade começou graças a esse jornal.
Me lembro perfeitamente do dia que ela me procurou pela primeira vez no consultório. Estava com muitas dores nas costas, pois passara por um período longo com dificuldades de locomoção e postura devido à uma fratura no pé. “São meus 15 anos” dizia ela, rindo da própria idade.
Tinha o jornalzinho na mão, e disse: “gosto muito das suas colunas e guardo todas”. Vinha semanalmente, sem falhas. O tempo foi passando. Mais tarde, esses “15 anos” pesaram e passei a atendê-la em casa.
Estreitamos a amizade. Visitava-a sempre que podia. Algumas pessoas me perguntavam: “Como pode haver uma amizade entre pessoas com tanta diferença de idade?” Minha resposta sempre foi: “Não sei”, mas, no fundo, questionava o significado da amizade para essas pessoas. Embora mais de 50 anos nos separassem, tínhamos valores semelhantes, preocupações semelhantes e um interesse sincero no passado e no presente.
Tenho evitado passar na frente daquele grande condomínio da Rua Bagé, era um caminho quase automático. Num daqueles apartamentos, cheio de plantas, lembranças e uma gavetinha repleta de recortes do Pedaço da Vila, vivia a Vó Marinha.
Foi lá que aprendi uma lição que levarei para a vida: Ninguém passa incólume ao amor. Receber carinho, cuidado, preocupação e bem querer de forma gratuita e desinteressada transforma qualquer ser. Mesmo se a recíproca não for verdadeira…
Até um dia Vó. Muito obrigado por tudo!