Complexo Esportivo XI de Agosto
Quando se acreditava que as mais de 9 mil obras de arte do Museu de Arte Contemporânea (MAC) já estivessem com a mudança pronta da USP para o antigo prédio do Detran — onde foram gastos 80 milhões para a adequação do local —, eis que surge um impasse entre o reitor da USP, João Grandino Rodas, e a Secretaria de Cultura do Estado.
O convênio que oficializa a mudança da sede do MAC, prevista para o mês que vem, até agora não foi assinado. O mal-estar ocorreu quando Rodas foi informado de que a diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto, localizado ao lado do futuro MAC, pretende construir um complexo poliesportivo no terreno, doado à Faculdade São Francisco por Jânio Quadros, em 1955.
O reitor enviou uma carta endereçada ao secretário da Cultura, Andrea Matarazzo, informando que a mudança do museu para a nova sede só seria realizada se o projeto do XI de Agosto — denominado Clube das Arcadas — não fosse adiante. “Infelizmente, esse assunto está fora do âmbito do Governo do Estado. O prédio principal já está pronto para receber as peças e iniciar a montagem do museu, e as obras no prédio anexo devem terminar em outubro”, informou o secretário da cultura ao Pedaço da Vila.
O projeto em questão não é novo. “O terreno foi doado em 1955, pelo Governo do Estado”, conta o diretor do XI de Agosto, Gabriel Borges. A ideia, na época, era construir uma área poliesportiva para os alunos da Faculdade São Francisco em um espaço que, a princípio tinha 20 mil m2, mas que, com a abertura da av. 23 de Maio, foi diminuído para 18 mil m2. “Desde 1956, uma série de projetos de renomados arquitetos foram feitos para a construção da área poliesportiva, entre eles Ícaro de Castro e Paulo Mendes da Rocha, mas, por falta de recursos financeiros, não se concretizaram”, conta o diretor.
O clube é uma tentativa de viabilizar esse desejo: “Para isso, firmamos uma parceria entre o Centro Acadêmico, a Atlética (associação esportiva) e com antigos alunos da faculdade, para dar maior corpo ao projeto”, assinado pela arquiteta Barbara Bratke, vencedora de um concurso realizado em 2006.
Desde então, segundo Gabriel, o projeto foi modificado para melhor e, hoje, inclui: uma instalação esportiva com um campo de futebol e um de rugby, um prédio de três andares multiuso com ginásio e três quadras poliesportivas, uma piscina semi-olímpica, duas quadras de tênis cobertas e uma academia de ginástica.
Mas fica a pergunta: se o projeto do Clube das Arcadas já está sendo planejado desde 2009 — inclusive, com um site (www.clubedasarcadas.org.br) — por que só agora o reitor da USP se manifestou contrário à obra? “Deve haver algum impasse entre a Universidade e o XI de Agosto, e a solução não está ao nosso alcance”, responde o secretário, que acredita que a discussão não tem a ver com a tratativa para o custeio do museu, embora o reitor tenha se manifestando insatisfeito com o valor anual que a secretaria pretende repassar à USP. “A Secretaria estava em ótimo caminho para chegar a um valor anual. A negociação foi interrompida”, informa Matarazzo.
Enquanto isso, alunos e ex-alunos da Faculdade São Francisco comemoram cada nova conquista para a concretização do complexo e adiantam que o projeto está prestes a ser concluído para ser encaminhado à Prefeitura. “A área poliesportiva já tem a aprovação da Lei de Incentivo aos Esportes, o que firma a possibilidade de captar recursos para sua construção com dedução do Imposto de Renda”, conta Gabriel. A obra tem um custo estimado de 40 milhões, dos quais cerca de 13 milhões serão captados com base da Lei de Incentivo.
A entrada do Clube das Arcadas será voltada à av. Pedro Álvares Cabral. De acordo com o projeto, ele contará com um bar-restaurante com vista para o parque Ibirapuera, um pequeno centro comercial voltado para o novo MAC — o que gerou as maiores críticas do reitor da USP —, um teatro com 500 lugares e estacionamento subterrâneo.
Vale lembrar que, tanto o prédio de Oscar Niemeyer e o parque Ibirapuera, como também o Instituto Biológico, são tombados. “Qualquer projeto naquela região, seja de reforma ou de construção, deve necessariamente ser aprovado tanto pelos órgãos de patrimônio quanto pela Prefeitura, com relação a regras de zoneamento, e pela Secretaria do Verde. Toda aquela área merece ser preservada ao máximo”, opina o secretário da Cultura.
A Secretaria investiu dinheiro e trabalho para adequar o antigo prédio do Detran em um museu de arte e, caso Grandino Rodas não queira mais transferir o MAC para lá, Andrea Matarazzo afirma que ele não ficará vazio. “Tenho certeza de que um prédio com estas características, em um lugar como o Ibirapuera, não ficará vazio nunca. Se efetivamente a USP rejeitar o prédio, temos diversas alternativas, como a Pinacoteca Contemporânea. Há também diversos colecionadores que têm intenção de doar suas coleções ao Estado, afim de expor as obras no prédio. No momento oportuno, o governador Geraldo Alckmin tomará a decisão sobre o uso do prédio”, conclui Matarazzo.
Gabriel Borges garante que o Clube das Arcadas será aberto aos moradores da região: “Não temos definido como isso irá funcionar, o que existe é a intenção, isso é certeza!” A ideia de vender títulos à comunidade do entorno, divulgada pela imprensa, gerou outras severas críticas do reitor da USP.
O convênio até agora não foi assinado e o pior: parece que os demais terrenos da av. Dante Pazzanese estão comprometidos. Na área do Instituto de Engenharia será construído o prédio-sede da associação, a diretoria anunciou que o projeto está em fase de finalização; no Instituto Dante Pazzanese (onde hoje funciona um estacionamento) se tem a pretensão de erguer um complexo hospitalar; agora, a notícia do iminente complexo — o poliesportivo — do Centro Acadêmico XI de Agosto.
Em meio a tanto “progresso”, não há como deixar de questionar: Por quais ruas escoarão os carros dos frequentadores? Em que terra será absorvida a água da chuva? Que impacto tudo isso irá causar à vizinhança? Desacordos que certamente não foram avaliados pelos empreendedores.
UM POUCO DE HISTÓRIA ……………..
Em 1928, uma área de aproximadamente 239.000 m² foi doada ao Instituto Biológico. Chamava-se “Invernada dos Bombeiros” e compreendia as avenidas Ibirapuera, Brasil e Cons. Rodrigues Alves e a Dante Pazzanese. No governo Jânio Quadros, todo o terreno que ficava além da atual av. 23 de Maio foi retirado do IB e cedido para a construção do parque Ibirapuera, em comemoração ao IV Centenário de São Paulo. O destino original do futuro MAC, projetado por Oscar Niemeyer, era ser o Pavilhão da Agricultura, porém, em 1959, o Detran ocupou o prédio.
O terreno ao lado foi disponibilizado também por Jânio Quadros, em 1955, para ser a sede da Atlética XI de Agosto, centro acadêmico da Faculdade São Francisco. Em 1958, foi a vez do Hospital Dante Pazzanese receber seu naco de terra: transferido da av. Paulista, recebeu recentemente o terreno onde hoje funciona o estacionamento. Já a área de 12.325 m², que hoje é a sede do Instituto Engenharia, fora doada pelo governo estadual por decreto, em 1985, como parte de pagamento pela desapropriação do edifício Palácio de Mauá, no Centro.