Planeta Inseto

O Instituto Biológico preparou uma semana inteira para que crianças e jovens conheçam, em visitas monitoradas, seus laboratórios. E no domingo, dia 25, abre suas portas para que a comunidade descubra, de forma lúdica e interativa, diversificados grupo de insetos vivos e sua organização! 

O Instituto Biológico (IB) é participante da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, coordenada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com o envolvimento de diversos órgãos em todo o país, desde 2004. E na edição comemorativa deste ano, que acontecerá dos dias 19 a 25 de outubro, o IB será palco de uma mostra lúdica e interativa: o evento “Planeta inseto: conheça este mundo”, que visa mobilizar a população, em especial crianças e jovens, em torno de temas e atividades de ciência e tecnologia, valorizando a criatividade, a atitude científica e a inovação.

O trabalho exposto sobre esse diversificado grupo de organismos, que tem perto de um milhão de espécies conhecidas, ganhará várias temáticas. O mais interessante é que boa parte das atrações acontecerá com insetos vivos. Entre os tipos mais diferentes, o público poderá conhecer de perto os chamados insetos sociais organizados. São aqueles grupos que têm sociedade e distribuem tarefas, como abelhas, cupins e formigas e que se dividem em operárias, soldadas e rainhas.

Uma segunda ala expositiva estará dedicada somente aos insetos explorados economicamente. Casos da abelha, produtora de mel, e do bicho-de-seda, utilizado na produção de tecido. Além disso, será retratada a categoria de insetos comestíveis, como larvas e besouros, que para alguns povos são importantes fontes de alimentação.

Outros aspectos a serem abordados são os minúsculos animais, como pragas de plantas ou, ao contrário, os que ajudam no combate dos males da natureza. Há também a classe dos que afetam a saúde humana, como por exemplo os mosquitos barbeiro e Aedes aegypti, transmissores do Mal de Chagas e da dengue, respectivamente.

A exposição seguirá com vídeos educativos sobre biodiversidade e mostra de pesquisas desenvolvidas pelo instituto. Para finalizar o passeio em grande estilo, o visitante poderá conhecer um jardim real de borboletas e até um “baratódromo”, onde acontecerá uma inusitada corrida de baratas. “Teremos aqui um verdadeiro jardim zoológico de insetos. Imperdível para a criançada conhecer este mundo de ‘microbichos’”, convida Antonio Batista Filho, diretor do Instituto Biológico há seis anos.

Dos dias 19 a 24, a visitação, voltada principalmente a escolas, só se dará por meio de agendamento. A marcação pode ser feita até o próximo dia 15 pelo e-mail planetainseto@biologico.sp.gov.br ou pelo telefone 5087-1703. Já no dia 25, como parte do projeto do próprio IB, “Portas Abertas”, o passeio estará acessível a toda a vizinhança, das 9h às 17h. Um programa imperdível para toda a comunidade! (Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252)

TOMBAMENTO

Por trás da exposição sobre o planeta dos insetos, há um grande trabalho científico. A cada ano, o octagenário Instituto Biológico, importante patrimônio tombado do bairro, tem fortalecido sua vocação cultural junto à comunidade. Ligada à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, a instituição, referência em pesquisa com animais e vegetais, está diretamente relacionada à vida e à história da vizinhança.

A comunidade organizou-se e durante 7 anos lutou com o poder público para conseguir o tombamento do instituto. A República de Vila Mariana e a Associação de Moradores da Vila Mariana promoveram um grande abraço na sede do instituto, em um pedido simbólico à preservação do patrimônio.

O reconhecimento da relevante representatividade do IB no pedaço aconteceu no mesmo ano, em 20 de março de 2002, quando foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) como bem cultural de interesse histórico, arquitetônico e urbanístico, o Conjunto Arquitetônico do Instituto Biológico. O processo contempla uma área de 122 mil metros quadrados que envolve onze edifícios, além das ruas internas e os 1.500 pés de café que servem para as pesquisas do Instituto.

HISTÓRIA

Tudo começou em 1929, a partir de um grupo de pesquisadores liderado pelo cientista e divulgador científico carioca José Reis (1907-2002). Estudante destacado do Instituto Oswaldo Cruz, o pesquisador foi convidado a reforçar a equipe do então Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal (IBDAA), que ainda estava em formação. Sua missão era dar apoio aos avicultores do estado paulista e combater a broca, que devastava as plantações de café.

Na época, o IBDAA havia recebido a concessão de um terreno na Vila Mariana para construir sua sede. Naqueles tempos, o bairro era bem distante do centro da cidade. A área, que tinha extensão até o Viveiro Manequinho Lopes, hoje dentro do parque Ibirapuera, era considerada ideal para agrupar os serviços de sanidade animal e vegetal, que antes ficavam espalhados em vários prédios da cidade: nas ruas Marquês de Itu, Brigadeiro Luís Antônio, Nestor Pestana e em uma sede regional em Santos.

A construção do prédio do antigo Instituto Biológico de Defesa Agrícola e Animal, criado em 26 de dezembro de 1927, só começou em 1928 e demorou 17 anos para ficar pronta. A obra se arrastou, durante uma época em que São Paulo esteve em pleno conflito com as forças do governo federal. Na revolução de 1930, a inacabada sede do instituto foi ocupada por 800 soldados; na de 1932, foi usada como acampamento gaúcho. Temendo que, em 1937, fosse novamente ocupada por Getúlio Vargas, o segundo diretor do instituto, Henrique da Rocha Lima, e muitos de seus pesquisadores decidiram se instalar como podiam nas áreas já construídas do prédio, formando um grande complexo de pesquisa, que no mesmo ano foi renomeado Instituto Biológico.

Não demorou para o trabalho ganhar projeção nacional e internacional. Além da atuação no setor de estudos e pesquisas, a instituição hospeda até hoje, nos fundos de seu amplo terreno, o maior cafezal em área urbana do país. O cenário verde é completado por um bosque de 60 árvores de pau-brasil, considerado o maior da cidade.

Em 2007, o IB comemorou 80 anos, por coincidência junto com o centenário de nascimento de seu principal fundador, José Reis. Nessa data especial, como presente, o instituto foi credenciado para oferecer um programa de pós-graduação – strictu sensu, em nível de Mestrado – na área multidisciplinar de “Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agro-negócio”. Atualmente, já está em formação a 4.ª turma do curso.

RESTAURO

Com cerca de 250 funcionários e 200 estagiários, o Instituto Biológico enfrenta nos dias de hoje um novo desafio. Depois das conquistas e descobertas no campo científico de animais e vegetais, somadas à árdua vitória do tombamento, a luta da vez é pelo restauro de todos os prédios do complexo do instituto. Um sonho que tem mobilizado a comunidade e se arrastado desde 2002. “Precisamos do restauro de toda a estrutura da edificação, desde a fachada, mantendo as linhas arquitetônicas originais em alguns pontos, até as partes hidráulica e elétrica”, destaca o diretor.

Elaborado pelo arquiteto Paulo Bastos, o projeto de restauração estava em análise na Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, mas fora devolvido ao autor para ajustes técnicos. Quando pronto, retornará à pasta para então ser encaminhado ao governador, até chegar aos trâmites do Ministério da Cultura. A proposta será 100% custeada pela lei federal Rouanet, de incentivo à cultura. Com isso, haverá captação de recursos na iniciativa privada mediante isenções fiscais.

A obra está orçada em R$ 25 milhões. Contudo, até se conseguir a verba necessária, existem muitas etapas burocráticas a serem cumpridas. Dessa forma, não se tem previsão alguma para a tão esperada revitalização do IB, cuja última grande reforma aconteceu na distante década de 40. “Continuamos esperançosos, pois o Instituto Biológico é um bem público de valor imenso, com uma rica história, e um patrimônio cultural do país. É preciso haver esse restauro”, defende Batista.

Segundo ele, o projeto de restauração não se limitará às transformações físicas. Possui também um caráter cultural. “Trata-se do aproveitamento de nossa área de ciência para criar um centro cultural científico, oferecendo oficinas de capacitação e abrindo nosso espaço de pesquisa e o bosque ao uso da vizinhança.”

Cabe lembrar que, no campo cultural, o instituto já conta com o Museu do Biológico. Voltado para escolas, oferece exposição permanente bastante variada, lúdica e divertida. Os jovens visitantes tomam contato com a ciência por meio de jogos, kits pedagógicos e dinâmicas. Todas as visitas ao local são gratuitas e podem ser marcadas pelo telefone 5572-9933 ou pelo e-mail mibio@biologico.sp.gov.br. O lugar ainda abriga um valioso centro de memória, com mais de 340 mil documentos.

E para não dizer que nenhum investimento recente foi feito no IB, oito de seus 32 laboratórios, localizados nas sedes da Vila Mariana e de Campinas, receberam importante modernização e a ampliação de 50 novos exames para detectar doenças que atingem animais. No total, gastaram-se R$ 5 milhões nos últimos dois anos com a aquisição de equipamentos de ponta e a implantação do programa de qualidade no setor de testes e estudos. “Com esse aporte, nos tornamos o maior Centro de Diagnósticos na área de sanidade animal e vegetal do Brasil. Um grande avanço atrelado à modernidade, capacitação e qualidade de nossas pesquisas”, afirma o diretor, entusiasmado.