A Procrastinação do Ideal

Queridos amigos do Pedaço, sejam todos bem-vindos à primeira coluna de 2017. Apesar do título ser meio complicado, as reflexões não serão. Quero muito iniciar esse ano falando dos nossos sonhos, dos nossos planos, da forma como rumamos na direção deles, e os desvios que aparecem no caminho.

Começo com um exemplo particular, uma aspiração que tive na adolescência. Certa vez, lá pelos meus 15 ou 16 anos, vi uma entrevista do escritor Paulo Coelho falando sobre o Caminho de Santiago de Composta a e o quanto aquilo tinha sido transformador na vida dele. Na hora me bateu uma curiosidade, uma certa identificação com o propósito das buscas e comecei a nutrir um desejo de passar por aquela experiência também, como se o Caminho de Santiago fosse me trazer as respostas que trouxeram para o Paulo Coelho. No alto dos meus ignorantes 20 anos, tinha plena convicção de que minhas questões existenciais seriam respondidas apenas no Caminho de Santiago e que teria uma “iluminação” na Espanha…

Fiz planos, tracei rotas e comecei um treinamento físico para aguentar aquilo tudo, afinal, teria que andar mais de 500km em poucos dias. Desenvolvi uma afeição enorme pelo ato de caminhar. Andava muito. Ia andando para vários lugares, evitava condução mesmo em longos percursos, sempre tendo em vista o “tal” treinamento… e eis que algo deu errado: misteriosamente aquelas convicções direcionadas ao Caminho de Santiago foram perdendo força.

Nas minhas andanças, aqui mesmo em Minas e São Paulo (lugares onde morei e moro), minha mente e meus pensamentos se ligavam a várias reflexões que traziam respostas, intuições ou o simples prazer pelo ato de pensar. Conversando comigo mesmo, na Av. Paulista, na Cons. Rodrigues Alves, na Morgado de Mateus, fui percebendo que não precisava estar na Espanha para descobrir coisas a meu respeito. Notei que esse comportamento descabido de esperar por “condições ideais” para realizar algo estendia-se além da conta e fiquei triste quando vi o tempo que se foi… procrastinando.

Não ganhei na loteria para ajudar pessoas em necessidade, não fiz pós-graduação para começar a trabalhar, não tive plenitude financeira para casar e ter filho, e sequer tenho carteira de motorista para ir e vir dos lugares…, mas cada experiência dessas, mesmo que numa escala menor, já está gravada em minha alma…

Que tenhamos um 2017 cheio de paz. Abração.

Jean Massumi é massoterapeuta

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