Vizinhança unida contra a violência

A violência no bairro tem preocupado as autoridades e os moradores da Vila Mariana. Basta caminhar pelas ruas para perceber seu reflexo: residências e condomínios cada vez mais equipados com cercas elétricas, muros altos, câmeras de vigilância e alarmes. Diante desse quadro, os moradores se confinam dentro de casa.

Na noite do dia 23 de abril, uma reunião extraordinária, promovida pelo Conselho Participativo, foi realizada no Colégio Arquidiocesano para debater o assunto. Com a participação dos conselheiros, do Subprefeito Luiz Fernando Macarrão e dos presidentes dos Consegs da região, o encontro discutiu pro-postas para tornar a região mais segura.

Na ocasião,  Macarrão  destacou a necessidade de “fortalecer o diálogo entre a subprefeitura e os Consegs para melhorar a segurança no bairro”, para, em seguida, os presidentes dos Consegs relatarem as práticas que estão sendo realizadas em suas regiões para conter os índices de violência, que não param de aumentar.

Os índices da criminalidade no bairro revelam que a sensação de insegurança não é apenas aparente. De acordo com as estatísticas da Polícia Militar, os crimes quase dobraram nos últimos dois anos. Nos quatro primeiros meses de 2012 foram registrados 350 roubos, entre comércios e pedestres. No mesmo período deste ano, o número alcançou preocupantes 610.

Além dos roubos a pedestres, furtos de veículos e arrastões em estabelecimentos comerciais do bairro, outro fator passou a preocupar moradores e autoridades: as constantes invasões de residências por grupos de sem-teto. Hoje, no bairro, são quatro imóveis ocupados: um casarão no número 365 da Rua Morgado de Mateus, duas casas vizinhas na Rua Humberto I, nos números, 999 e 1.005, e outra na Rua França Pinto, 356.

Segundo o Capitão do 12º Batalhão da Polícia Militar – 2.ª Companhia, Flávio Baptista, o quadro tem causado muitos problemas. “As invasões de residências no bairro têm agravado demais a segurança, e a polícia militar não tem amparo legal para interferir nesses locais. O principal problema é que junto com as famílias e crianças, também vêm oportunistas com o intuito de roubar;  isso já tem refletido no aumento de ocorrências de roubos no bairro”.

No Conselho de Segurança da Vila Mariana (Conseg), as demandas dos moradores refletem essa e outras preocupações. “Entre os temas mais abordados em nossa região, além das invasões, estão: furto de veículos e o alto índice de viciados em crack que andam pelo bairro. “A ação na cracolândia, no centro da cidade, fragmentou esse pessoal e muitos vieram para a Vila Mariana”, explica o Presidente do Conseg, Edson Sant’Ana.

Outro fator que atrai os criminosos são as faculdades e universidades no bairro, como explica o Capitão: “Essa região universitária se torna o principal alvo dos bandidos, pois eles sabem que os estudantes deixarão os carros estacionados nas proximidades. Hoje, as principais ocorrências relacionadas a furtos de veículos estão nessas áreas e nas proximidades do parque Ibirapuera”, embora destacando que a modalidade mais freqüente no pedaço é o roubo de celulares e aparelhos portáteis.

Diante dos fatos, medidas alternativas para tornar o bairro mais seguro conquistam os moradores, como é o caso do projeto Vizinhança Solidária, uma iniciativa simples, criada pela Polícia Militar em parceria com a comunidade.

O projeto foi criado há três anos e implantado pela primeira vez no bairro Itaim Bibi. “Ele nasceu como resposta aos recorrentes arrastões que estavam acontecendo em condomínios da-quela região. Mais tarde, comprovada a sua eficiência e a satisfação dos moradores, a medida de segurança passou a ser adotada em todas as regiões da cidade”, conta o capitão Flávio.

Na Vila Mariana, o projeto tem sido abordado frequentemente nas reuniões do Conselho de Segurança (Conseg) e tem conquistado cada vez mais adeptos. Um deles, é o vizinho Maurício Pedro Pinto, que conheceu o projeto e mobilizou os moradores da Rua Fabrício Vampré para implantá-lo em sua micro-região. “Fui de prédio em prédio conscientizando todos da impor-tância desse projeto para a nossa área, pois ela se encontra em um local mal iluminado e de pouca circulação de pedestres”, conta Maurício.

Após algumas reuniões realizadas entre os vizinhos, no final do ano passado, Maurício procurou o presidente do Conseg VM, Edson Sant’Ana e o Capitão Flávio Baptista para implantar o projeto, que foi efetivado em fevereiro deste ano e com a participação de cinco condomínios, duas escolas e três estabelecimentos comerciais. O bairro tem hoje três adesões ao projeto: nas ruas Fabrício Vampré, Joaquim Távora e França Pinto.

A inscrição no projeto é muito simples e todos podem fazê-lo, como explica o Capitão Flávio: “É preciso apenas preencher um formulário de adesão aqui na Companhia, de caráter voluntário e sem custos financeiros, e em seguida a Polícia Militar faz uma vistoria técnica no local para identificar as falhas na segurança, que devem ser sanadas. Após essas mudanças sugeridas, uma segunda vistoria acontece e, se tudo estiver perfeito, ocorre a aprovação para participar do programa Vizinhança Solidária”.

Muito mais importante do que a vistoria no espaço físico, diz o Capitão, é a conscientização das pessoas de que a participação de cada um é imprescindível, pois um vizinho passa a cuidar do outro, fortalecendo uma rede em que todos se ajudam. Após a adesão ao projeto, os locais inscritos no Vizinhança Solidária são visitados pela Polícia Militar uma vez por semana.

Embora a adesão ao projeto tenha ocorrido há apenas três meses na Fabrício Vampré, a vizinhança já se sente mais segura, garante Maurício: “Hoje sabemos que estamos mais protegidos. E além da segurança, o projeto ajudou a estimular a relação de proximidade entre os vizinhos e o diálogo com as autoridades do bairro”. Para ele, a adesão ao Vizinhança Solidária é apenas o começo. “Agora que demos o primeiro passo, queremos colocar um sistema de comu-nicação via rádio entre os condomínios, estimu-lando o contato dos porteiros, especialmente à noite. Ampliá-lo na Vila Mariana, conscientizando a todos de que isso é muito importante, é uma medida que daremos prioridade, pois é uma medida alternativa, eficaz e barata”, destaca.

Edson Sant’Ana, que também é chefe de segurança da ESPM, adianta que o projeto também será implantado nas faculdades do bairro: “Em abril, realizamos uma reunião com representantes do Centro Universitário Belas Artes e Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (FAPCOM) para tratar do assunto”, informa.

Sant’Ana também destaca que é muito importante a participação da comunidade nas reuniões do Conseg, que ocorrem na última terça-feira do mês na ESPM: “O Conseg é uma instituição fundamental para a segurança no bairro, pois é o local em que os problemas dos vizinhos podem ser apresentados à Polícia Civil e Militar. “A consciência de todos sobre o problema de segurança e a participação às reuniões do Conseg são muito importantes para que as coisas aconteçam no bairro. Nada mudará se todos ficarem em casa, sentados no sofá, apenas reclamando de tudo e esperando que aconteça um milagre. Somente com a participação de todos é que conseguiremos melhorar a segurança na Vila Mariana”, enfatiza Santana.

Tomar cuidados básicos  é uma medida simples, que pode fazer a diferença, diz o Capitão Flávio: “É fundamental que a população se conscientize de que ela é importante para manter a segurança. Ficar em alerta para não se tornar vulnerável diante de um criminoso já ajuda muito. O papel de cada um é tão importante quanto o papel da Polícia Militar”, conclui.

Passo a passo para aderir ao projeto!

– O morador vai até o 12º Batalhão da Polícia Militar, preenche um formulário com os dados do condomínio ou da empresa (a empresa tem que estar legalizada, com alvará de funcionamento ou licença provisória)

– Em até oito dias um sargento vai até o local para fazer uma vistoria prévia, na qual serão identificados os pontos sensíveis de segurança, do condomínio ou comercio.

– Após essa vistoria de identificação dos pontos falhos na segurança, dá-se um prazo de 30 dias para que o condomínio/comércio solucione essas falhas, conforme as sugestões dadas pelo sargento que fez a vistoria.

– Depois, uma segunda vistoria é agendada. Se estiver tudo bem, o condomínio ou o comércio passa a fazer parte do projeto Vizinhança Solidária.

– Instala-se uma plaquinha informando que o condomínio/comércio faz parte do projeto Vizinhança Solidária.

–  A Viatura da Polícia Militar faz uma visita ao local semanalmente

12º Batalhão da Polícia Militar – 2ª Companhia, localizada à rua Sena Madureira, 980