Tempos de reflexão
Assistindo aos noticiários sobre o tsunami e o acidente na usina nuclear no Japão, não pude deixar de me lembrar da 2.ª Grande Guerra Mundial. Na época eu tinha 22 anos, ainda era solteiro e pude começar a perceber as dificuldades que todos passavam com o racionamento de gasolina e alimentos. E, notem: em 1939 não havia nem 5% dos produtos que são vendidos hoje em dia!
Os italianos, os alemães e os japoneses que viviam na Vila Mariana eram muito perseguidos devido à guerra, pois eram considerados inimigos. Eles não podiam se reunir em locais fechados e, para viajar, precisavam de salvo-conduto — um documento assinado por uma autoridade que dava a liberdade de sair das cidades onde residiam. Eu achava tudo aquilo uma injustiça! A minha família descendia de italianos, mas era brasileira de coração.
Em 1942, o Brasil entrou na guerra e enviou as forças nacionais para o combate. Muitos pracinhas que foram lutar pelo Brasil eram meus clientes — alguns não retornaram…
Eu me casei em 1944, e lembro de minha esposa saindo às 5h da manhã para garantir o pão de farinha de fubá, a única farinha vendida nos empórios. Um cliente que trabalhava no negócio de farinha de trigo conseguia dois quilos por mês; trazia para minha esposa fazer a massa e dividi-la entre as nossas famílias.
Lembrei-me de tudo isso porque vi no Japão pessoas com dinheiro sem ter o que comer. É nesse momento que damos valor às pequenas coisas do dia a dia: como um copo d’água.