Fernando Cesar de Souza
Com a mudança de governo, o Dr. Fernando Cesar de Souza foi indicado para ser o delegado titular do 36º Distrito Policial. Natural de Santos, iniciou a carreira em 2001 como investigador de polícia. Há 18 anos como policial civil, 11 como delegado, trabalhou em algumas delegacias de Santos, depois no Grupo de Operações Especiais e, na Grande São Paulo, no Denarc, na área de inteligência policial. Antes do 36º DP da Vila Mariana, trabalhava no Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), da 2 ª delegacia de crimes contra a administração pública, no Centro de São Paulo, departamento especializado em crimes contra administração, Fazenda e saúde pública.
Pedaço da Vila: O senhor é delegado titular do 36º DP há três meses. O senhor já havia exercido essa função?
Fernando Cesar de Souza: Sim. Fui delegado titular na 2ª delegacia de crimes contra a administração e na unidade de inteligência do Denarc da Grande São Paulo.
Pedaço da Vila: As atribuições eram semelhantes à do 36ºDP?
Fernando Cesar de Souza: Não. Nas demais eram especializadas. Aqui é geral. O foco maior aqui é o crime patrimonial.
Pedaço da Vila: Qual foi a sua primeira impressão da segurança na Vila Mariana?
Fernando Cesar de Souza: Logo que cheguei, formei a minha equipe e verificamos de pronto que o grande problema aqui é o crime patrimonial: furtos e roubos de celulares, veículos, residências e comércios. Estamos combatendo fortemente. Recentemente esclarecemos um roubo a apartamentos de um condomínio na rua Mário Amaral.
Pedaço da Vila: Se comparada aos demais bairros, a Vila Mariana é segura?
Fernando Cesar de Souza: O bairro é relativamente seguro, até porque ele é de alto padrão. É tranquilo, mas temos que controlar, pois um bairro de alto padrão é muito visado pelos criminosos. Em geral, eles são de outras regiões, não são da Vila Mariana. Temos aqui a comunidade da Mário Cardim, que estamos cuidando com ações inteligentes para coibir, principalmente, a receptação de metais. Estão furtando muitas janelas, portões… Realizamos algumas ações na comunidade, prendemos balanças, interditamos comércios e está dando um bom resultado.
Pedaço da Vila: Há um perfil dos criminosos que agem na vila?
Fernando Cesar de Souza: A maioria é da Zona Leste e da Grande São Paulo. Eles vêm de metrô ou moto. O criminoso patrimonial, que é o nosso maior problema aqui, ele é, em regra, reincidente. Ele não para de roubar até ser preso. Praticam ações isoladas. Eu só identifiquei uma quadrilha, a que promoveu a ação no condomínio [ da rua Mário Amaral ]. Ela era formada por criminosos da Zona Norte, tinha ligação com o PCC, e foi toda desbaratada.
Pedaço da Vila: A quadrilha possuía algum padrão de atuação?
Fernando Cesar de Souza: Não. Foi um caso específico. Tiveram informações privilegias de que as vítimas guardavam valor em dinheiro dentro de casa e foram atrás. Eram comerciantes árabes, chineses, coreanos. Eles ainda têm essa mania de guardar dinheiro em casa.
Pedaço da Vila: As ocorrências aumentaram durante o Carnaval?
Fernando Cesar de Souza: Em regra, as ocorrências foram de furtos de celulares e alguns roubos no Ibirapuera, onde teve a maioria dos blocos da região. Mas nenhuma violência extrema, apenas roubos intimidando as pessoas. Houve uma grande incidência porque era muita gente. Não houve casos registrados de violência.
Pedaço da Vila: Há crimes violentos na vila?
Fernando Cesar de Souza: Em regra, não. No começo do ano tivemos uma tentativa de latrocínio em frente ao bar Veloso [ Largo da Caixa D’água ]. Foram tentar roubar um carro, a vítima reagiu e foi baleada com um tiro na perna. Ela sobreviveu e o caso está em apuração.
Pedaço da Vila: A partir desse ‘mapa criminal’ do bairro, qual tem sido a sua linha de atuação?
Fernando Cesar de Souza: Assim que cheguei aqui, eu fiz uma parceria com o Dipol [Departamento de Inteligência da Polícia Civil] e consegui um mapeamento completo da criminalidade na Vila Mariana no último ano. Através da análise desses índices começamos a atuar. Eu criei um setor de inteligência e análise criminal aqui – com um investigador exclusivamente para isso – para coletar imagens de câmeras dos crimes que acontecem, dos criminosos que são presos… Esse setor está dando muito certo, tem uma média de cinco esclarecimentos de crimes por semana.
Pedaço da Vila: As demais DP’s de São Paulo possuem esse núcleo de inteligência?
Fernando Cesar de Souza: Não. Foi uma iniciativa minha aqui. Trouxe um investigador que tem um perfil adequado para esse tipo de trabalho e ele está se dedicando integralmente.
Pedaço da Vila: Esse núcleo também atua de forma preventiva?
Fernando Cesar de Souza: Sim. A Polícia Civil é investigativa, pós-crime. A sua função é esclarecer os crimes e combater a impunidade. A parte da prevenção é da PM. Eu acredito que, de forma indireta, com o combate aos criminosos e a retirada deles da rua, nós atuamos na prevenção também.
Pedaço da Vila: E os pedidos de prisões?
Fernando Cesar de Souza: A gente tem uma política constante de mandado de busca e de prisão temporária para tentar tirar esses indivíduos de circulação. Em regra, as penas são baixas, muitos ficam na audiência de custódia. A gente fica tentando linkar os crimes para aumentar a pena e deixa-lo preso por mais tempo. Por um crime só, dificilmente ele ficará preso. A gente só consegue manter ele preso mesmo provando que ele cometeu inúmeros crimes, o que é difícil.
Pedaço da Vila: Quem são esses indivíduos?
Fernando Cesar de Souza: É quem está roubando carros e comércios. Geralmente os comércios do bairro têm câmeras de segurança, o que facilita o nosso trabalho. As câmeras nos ajudam bastante e usamos muito essa tecnologia. Esse setor de inteligência que criei aqui cuida exatamente disso, desse banco de dados.
Pedaço da Vila: Nas reuniões do Conseg, há acusações de crimes por parte dos moradores de rua. Essa parcela da população gera demanda criminal?
Fernando Cesar de Souza: O direto de ir e vir é garantido constitucionalmente. A polícia só pode atuar depois de cometido algum crime. Temos bastante denúncias, sim, principalmente relacionadas a usuários de drogas, alcoólatras e pequenos furtos de portões, metais. Identificamos que eles estavam vendendo esses materiais roubados na favela Mário Cardim e fizemos uma ação nos ferros velhos de lá em parceria com a subprefeitura da Vila Mariana. O subprefeito Fabrício Cobra está ajudando muito. A gente sempre pede para melhorar a iluminação para evitar os pequenos crimes como roubos.
Pedaço da Vila: Há circulação de muitas drogas na Vila Mariana?
Fernando Cesar de Souza: Eu considero bem restrita ao entorno das faculdades, onde há um consumo grande. Onde tinha ponto fixo de venda de drogas foi combatido. A atuação da Policia Civil e Militar é difícil nessa área. O uso de drogas no local é tolerável. Tolerável entre aspas. É uma questão mais social até. Se a polícia for prender, vai passar o dia só fazendo isso. Não são pontos de tráfico, só de consumo. Um compra de um amigo, compra de outro… é pulverizado.
Pedaço da Vila: Muitos comércios do bairro vêm sendo assaltados à mão armada. Como estão as investigações?
Fernando Cesar de Souza: Eu tive uma reunião com o Capitão Schiavo justamente sobre roubos. Os índices desse tipo de crime tiveram um ligeiro aumento no primeiro trimestre. Estamos elaborando estratégicas conjuntas. Ele está aumentando o patrulhamento e eu estou direcionando as investigações para esses crimes patrimoniais, roubos e furtos de celular, veículo e do comércio. Estamos registrando uma grande incidência de roubos a comércios. Já realizamos ações e fizemos prisões. Prendemos uma quadrilha especializada em roubos de [relógio] Rolex que atuava no bairro. Um dos criminosos que roubou o Áurea Hostel, na rua Áurea, foi identificado. Estamos na fase de encerramento das investigações para pedir as prisões dessas pessoas.
Pedaço da Vila: Há muitos estelionatos na Vila?
Fernando Cesar de Souza: As pessoas do bairro ainda caem muito no golpe do bilhete premiado. Geralmente as vítimas são as pessoas mais idosas. Toda semana tem esse golpe. É um assunto que irei levar à reunião do Conseg.
Pedaço da Vila: O Conseg tem ajudado a polícia?
Fernando Cesar de Souza: A participação da comunidade nas reuniões do Conseg é muito importante. Nós temos ferramentas de inteligência, de análise criminal dos índices, mas as informações das pessoas são fundamentais. Às vezes a pessoa não faz o Boletim de Ocorrência e a gente não fica sabendo. É muito importante a participação dos moradores no Conseg. É pertinho, o espaço é grande, todo mundo pode participar. A Vila Mariana é um bairro bom e está sendo bem cuidada.