Benedito Mascarenhas Louzeiro
Benedito Mascarenhas Louzeiro, 51 anos, nasceu em Riacho Frio (Piauí) e chegou em São Paulo em 1985. Aqui, fez carreira na comunicação. Na entrevista a seguir, Benê Mascarenhas, como é conhecido, fala sobre o seu primeiro mês de trabalho, destaca as prioridades do momento, apresenta os caminhos que serão tomados pelas políticas públicas locais, como parcerias com empresas privadas e o Governo do Estado, e afirma que a sua gestão andará de mãos dadas com os moradores
Pedaço da Vila: Antes de assumir a Prefeitura Regional da Vila Mariana o senhor fez carreira na área de comunicação. Fale sobre sua trajetória profissional.
Benê Mascarenhas: Eu cheguei aqui em São Paulo em 1985 com o ensino médio completo em Riacho Frio, no Piauí. Entrei para faculdade, em Mogi das Cruzes, e paralelamente comecei a trabalhar na área administrativa da então Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Quando terminei a faculdade, fui trabalhar para a assessoria de Imprensa da EPM e do Hospital São Paulo. Fiquei ali por muitos anos, participei da criação da TV Unifesp, hoje extinta, e do jornal da Paulista, veículo de circulação interna. Em 1997 deixei a função e fui trabalhar no Ministério da Educação, na área de Relações Institucionais da representação do MEC em São Paulo. Fiquei ali por muitos anos até ir para a Secretaria do Estado de Educação , também na área de relações institucionais. Exerci o cargo por onze anos e o deixei no dia 31 de dezembro de 2016 para assumir a Prefeitura Regional da Vila Mariana, no dia 1 de janeiro deste ano.
Pedaço da Vila: Em que circunstância ocorreu o convite para essa função?
Benê Mascarenhas: Ela foi resultado do trabalho que desenvolvi durante o tempo em que estive com o Prefeito João Dória e com o vice-prefeito Bruno Covas. Eles me procuraram para saber se eu tinha interesse de trabalhar na Prefeitura. Eu respondi que sim — até aquele momento eles não me revelaram qual seria a função. As conversas avançaram e então me apresentaram a possibilidade de assumir a Prefeitura Regional da Vila Mariana. Como moro no bairro desde que cheguei a São Paulo, fiquei muito honrado. Em função disso, da minha trajetória profissional e da relação política com os dois, eles me convidaram e eu estou aqui para tentar fazer o melhor possível, até porque eu sou morador e irei usufruir dos benefícios que a gestão porventura deixar.
Pedaço da Vila: E recebeu liberdade para fazer a sua gestão?
Benê Mascarenhas: Graças a Deus! Em nenhum momento o prefeito e o vice-prefeito me pediram para tomar cuidado com interesses de A ou de B. O interesse maior aqui é o da população. Claro que na administração pública a gente tem os parceiros, e eles são vereadores, deputados, secretários. E eu não sou bobo de desprezá-los. Até porque quem aprova os orçamentos e as leis é o Legislativo. Se a gente não souber lidar com o Legislativo vamos minguar aqui. Eu quero apro-veitar essa relação política que eu tenho para viabilizar os projetos e, os da região, a gente só vai conseguir viabilizar com recursos de orçamento, e bastante vultosos. A região da Ricardo Jafet, por exemplo, precisa de uma grande obra, que o orçamento da Prefeitura Regional não é o suficiente para concretizar. Como é que vamos fazer? Por meio da relação com o Parlamento e da relação com os secretários. E vou correr atrás disso, independentemente da bandeira partidária. Se os moradores da região querem contribuir – principalmente os parlamentares – a gente tem que ir atrás deles. E sou uma pessoa que sempre teve uma boa relação com todos eles. Quando eu estava na Secretaria de Educação do Estado eu tinha uma relação com o Parlamento, deputados e vereadores, eu vou utilizar isso muito bem.
Pedaço da Vila: A Subprefeitura passou a se chamar Prefeitura Regional. Mudou apenas o nome ou também sua área de atuação?
Benê Mascarenhas: No projeto do João Dória está previsto mais autonomia para a Prefeitura Regional, que ainda é pequena. Ela tem um orçamento cuja a maior parte está comprometida com a folha salarial. O restante é destinado às ações como operação tapa-buraco, manutenção de bueiro, poda de árvores, pinturas de guias. A Prefeitura e a Secretaria de Prefeituras Regionais estão estudando uma forma para que a Prefeitura Regional tenha uma atuação mais autônoma em relação ao poder central. Mas tudo o que estava em andamento na gestão anterior terá continuidade, mas dentro das possibilidades. Atender as demandas dos conselhos e da sociedade tem sido o grande desafio da gestão.
Pedaço da Vila: No primeiro mês como Prefeito Regional da Vila Mariana, quais foram as suas prioridades?
Benê Mascarenhas: Nesse período a prioridade é o trabalho de zeladoria urbana, pois a nossa região tem uma demanda intensa. Estamos fazendo as ações que o prefeito tem exigido muito de nós, como operação tapa-buraco, poda de árvores, regularização dos comércios. O distrito da Vila Mariana é diferenciado, não temos tantos problemas como as regiões periféricas, como a questão habitacional, invasões, alagamentos. É claro que temos alguns pontos que alagam aqui, mas não são tão intensos. O que sobra muito para fazermos é o trabalho de zeladoria. Eu brinco com o pessoal que não temos que ficar inventando muito. Se a gente conseguir atender a demanda que já existe, já estamos dando uma bela contribuição. A minha preocupação neste momento é atender a demanda que a sociedade traz aqui todos os dias.
Pedaço da Vila: A falta de funcionários sempre comprometeu o trabalho da subprefeitura. Você afirmou que a sua missão é oferecer um atendimento de excelência aos moradores. Como pretende alcançar esse objetivo?
Benê Mascarenhas: Essa é uma missão pessoal porque eu também sou usuário da Prefeitura Regional. Como morador já busquei muito o auxílio aqui na Praça de Atendimento. A nossa equipe é formada por 224 funcionários, mas está incompleta. Ainda não temos a equipe de assessoria de gabinete fechada. Claro que iremos formar e estamos batalhando para montar a contento. Por enquanto foram nomeados os coordenadores e o chefe de Gabinete, o Luís Felipe Miyabara (38 anos). E, claro, temos os funcionários que permaneceram da outra gestão. Eu estou procurando mantê-los o máximo possível, só que eu quero trazê-los para o comprometimento com a sociedade. Tenho reforçado a todos que estamos trabalhando para o munícipe. Quero que os moradores, mesmo que saiam insatisfeitos com o resultado do que vieram buscar, saiam satisfeitos com o atendimento que receberam. Isso é o mínimo que a Prefeitura Regional da Vila Mariana deve oferecer aos munícipes.
Pedaço da Vila: Nesse primeiro mês o senhor abriu diálogo com algumas instituições locais. Esse diálogo será constante na sua gestão?
Benê Mascarenhas: Com certeza. O Poder Público não conseguirá atender todas as demandas sem dar as mãos a essa sociedade civil organizada. Já estou fazendo contato com o Conseg e o CADES (Conselho do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável), já me reuni com os representantes da PM do bairro, da CET, da GCM e com os representantes de algumas instituições. Procurei o diretor do Hospital do Rim, quero procurar a Universidade Federal de São Paulo, o Hospital do Servidor Público e outras instituições para trabalharmos a região de mãos dadas. Quero aproveitar a colaboração dos moradores. Irei visitar algumas associações de moradores da região.
Pedaço da Vila: E como irá trabalhar a relação da Prefeitura Regional com os Conselhos Participativos Municipais?
Benê Mascarenhas: Na primeira reunião do Conselho Participativo Municipal, ocorrida em janeiro, eu disse aos conselheiros que eles têm mais representatividade aqui do que eu, pois eles foram eleitos pelos moradores e eu não fui. Eu vim aqui por uma indicação. Hoje mesmo eu recebi os representantes do Conselho, que me fizeram alguns pedidos que, a meu ver, serão benéficos para a região. Nada melhor do que aproveitar o conhecimento e as experiências locais desses conselheiros. Bobo seria eu se não utilizasse os conhecimentos dos conselheiros. Eu quero todos comigo para trabalharmos uma gestão conjunta.
Pedaço da Vila: O senhor é vice-presidente do Diretório Municipal do PSDB e o bairro é reduto de eleitores do partido e de instituições do Governo do Estado. Sua gestão usará essa relação para firmar parcerias?
Benê Mascarenhas: Com certeza. Um dos meus pedidos, durante a minha nomeação, foi para fazermos uma interlocução não apenas com a parte da educação, mas também com a saúde, com o Instituto Biológico e com todos os órgãos da região. Temos a Assembleia Legislativa que é outro poder, mas que está dentro da nossa jurisdição. Eu tenho uma excelente relação com a Assembleia, do tempo em que estive na Secretaria de Educação do Estado. E eu vou usar isso também. Eu quero buscar todos os parceiros, Estaduais, Municipais e Federais. Vou correr atrás para concretizar os projetos. Na Prefeitura Regional existem muitos projetos para o bairro, mas não temos recursos para viabilizá-los. Se dermos as mãos para os outros poderes constituídos só temos a ganhar. E é o que vou fazer todos os dias.
Pedaço da Vila: Dentro do programa Cidade Linda o prefeito João Dória pintou de cinza muitos grafites da cidade. No bairro apagou o gigante mural da Avenida 23 de Maio. Qual é a sua visão sobre essa política e qual será a posição da Prefeitura Regional em relação à arte urbana na região?
Benê Mascarenhas: Dada a importância e a complexidade que o tema gerou, a Avenida 23 de Maio está sendo administrada pelo Gabinete da Prefeitura. A Prefeitura Regional da Vila Mariana tem auxiliado no trabalho de limpeza. Se alguém pichou, a gente vai e pinta. Todas as decisões em relação a Avenida 23 de Maio foram tomadas pela Prefeitura. Claro que o João Dória sempre esteve em contato comigo, me posicionando e me demandando para manter a cidade limpa de pichações. Agora a situação já deu uma melhorada e diminuiu um pouco essa queda de braço [entre prefeito e grafiteiros]. Também tem uma proposta para implantar um jardim vertical na Avenida 23 de Maio. É um projeto tocado pessoalmente pelo João Dória.
Pedaço da Vila: A ação de apagar os grafites gerou muito debate…
Benê Mascarenhas: Está havendo uma confusão entre o que é grafite, mural e pichação. Claro que aqueles que querem prejudicar dão uma divulgação totalmente errada. O espaço para o grafite e para o mural não será perdido na cidade e o diálogo está aberto. Na noite passada eu já estava deitado para dormir e fiquei pensando num lugar para fazer uma proposta nesse sentido. Vou conversar com o secretário de cultura [André Sturm] e com o João Dória porque eu decidi que quero grafitar uma parede do meu gabinete. Quero mostrar que não temos nenhuma posição contrária à arte legal, a arte do grafite e do mural. Grafitar o meu gabinete é um desejo pessoal.
Pedaço da Vila: E qual será a sua posição em relação à pichação?
Benê Mascarenhas: Nesse sentido vamos atuar com intensidade e retidão, mas sem agressões. A pichação e a sujeira acabam com a imagem da cidade. Eu sempre me pergunto: Será que esses pichadores fazem isso nas paredes de suas casas? Acho que não. Então porque fazer no patrimônio público? A população tem que entender que a gestão da Prefeitura quer transformar São Paulo num local agradável. A cidade não pode ser terra de ninguém. Ela é de todos e todos têm a sua parcela de respon-sabilidade para cuidar dela.
Pedaço da Vila: A maioria dos moradores da região mal conheceu o rosto dos subprefeitos que o antecederam, já que raramente saiam da subprefeitura. Na sua gestão você vai sair para a rua e se aproximar dos moradores?
Benê Mascarenhas: Eu tenho feito isso desde o primeiro dia da minha gestão. Eu gostaria de fazer mais ações na rua, mas no momento não temos a equipe completa e há muita demanda no Gabinete. A minha ideia é fazer uma Prefeitura Regional itinerante. Eu quero levá-la para as comunidades locais — principalmente aos finais de semana para resolver as demandas. Estou bastante aflito porque ainda não consegui concretizar isso. Mas, em breve, faremos. Quero a Prefeitura Regional mais próxima dos moradores. Eu estou participando de todas as ações do programa Cidade Linda na região. Vou para a rua, pego na enxada, corto grama, planto árvores. Eu gosto disso!
Pedaço da Vila: Falando nisso, a queda de árvores já está virando uma indesejada ‘tradição’ no bairro. O que a Prefeitura Regional fará para resolver esse problema?
Benê Mascarenhas: No mês de janeiro caíram mais de 20 árvores no bairro. Já podamos 380 unidades e removemos 30. Anteontem realizamos uma ação inédita na capital, na República do Líbano. Foi um projeto piloto oferecido pela empresa AMG Ecologia Aplicada sem custos, que usa uma tecnologia alemã para identificar se a árvore está doente ou não. Trata-se de uma tomografia nas árvores feita por um eletrodo que examina o tronco e a raiz. E a imagem sai na hora. Isso pode ser um diferencial para trabalharmos essa questão. Hoje as ações são feitas pelo técnico e a olho nu. Com esse aparelho será tomada a melhor decisão e iremos salvar muitas árvores. A ideia do exame não é remover as árvores, e sim salvá-las. Se for para fazer no bairro todo, já entra numa outra linha de decisão que deverá ser tomada pela prefeitura e pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Claro que se houver a possibilidade de fazer em todas as árvores da Prefeitura Regional da Vila Mariana, eu vou ficar muito feliz. Vou brigar por isso.
Pedaço da Vila: Outro problema da região é o aumento no número de pessoas em situação de rua. Como está trabalhando essa demanda?
Benê Mascarenhas: Isso tem sido um problema na região. Entre as estações Ana Rosa, Vila Mariana e Rua Vergueiro, a situação estava bem crítica. Agimos ali e conseguimos tirar as pessoas. Debatemos o assunto com a Secretaria de Assistência Social, a GCM e a Policia Militar. A equipe de assistência social passou uma semana no local dialogando, mostrando a importância de irem para um lugar mais adequado. E a equipe social conseguiu fazer um belo trabalho. Eles saíram e em seguida a nossa equipe foi lá para recolher os pertences deixados. Não teve nenhuma resistência. E é dessa forma que eu quero atuar aqui, com diálogo sincero e transparente.
Pedaço da Vila: No bairro existem muitas praças e espaços deteriorados, sem convivência e sem manutenção, como o histórico Largo Ana Rosa. A revitalização dessas áreas está prevista no Plano Regional e no Plano de Bairro. Que política adotará para essas áreas ‘mortas’?
Benê Mascarenhas: Já temos um decreto pu-
blicado pelo prefeito para retomar o programa adote uma praça. Vamos fazer parcerias com a comunidade e com o setor privado para dar vida a essas áreas. Na região da Prefeitura Regional da Vila Mariana temos aproxi-madamente 400 praças. Temos alguns projetos em vista e logo iremos colocá-los em prática. Nós cobramos muito do poder público, mas quando chega a nossa hora de dar a nossa contribuição, a gente falha. Por exemplo: as pessoas pedem bancos numa praça. O poder público vai lá e faz o banco. No dia seguinte ele já está quebrado. O dinheiro não pode ser usado apenas para fazer a manutenção de algo que é sempre destruído. Quando eu cheguei aqui, ouvi que uma ação que tem uma aceitação muito grande na região é a dos equipamentos de ginástica nas praças. Porém, é um dos equipamentos mais depredados. A comunidade cuida, mas há pessoas que nem são do bairro e que tem loucura de deteriorar o equipamento público. Vamos todos cuidar? É esse comprometimento que eu peço à comunidade. Eu estou aberto às sugestões e quero fazer. Agora, o fazer está dentro das nossas limitações.
Pedaço da Vila: A Vila Mariana é um bairro muito importante na cena cultural da cidade e abriga inúmeros museus e espaços de conhecimento. Como irá trabalhar a cultura local?
Benê Mascarenhas: Hoje o bairro é, ao lado da Sé e de Pinheiros, um dos que mais tem demandas área de eventos culturais. A região do Ibirapuera já faz parte do calendário de grandes eventos da cidade. Os eventos de rua estão, praticamente, sendo concentrados aqui. Essa área cultural já é intensa e a tendência é aumentar. Tivemos muitos pedidos para desfiles de carnaval ali, mas por questão de segurança e do bem-estar dos moradores, não foram autorizados. Temos aqui o teatro João Caetano e já conversei com o secretario da cultura para que possamos dar mais vida a ele, como também na biblioteca Viriato Corrêa. O teatro é subutilizado. É bem localizado e em breve ficará entre duas estações de metrô. É de fácil acesso do público. Com fé em Deus a gente vai conseguir viabilizar isso aqui na região. Temos uma série de espaços e um potencial turístico muito forte. É uma questão de buscarmos formas para que a Vila Mariana também se destaque culturalmente.