ALEXANDRE MODONEZI

O subprefeito de Vila Mariana não é filiado a nenhum partido. Formado em Economia e Filosofia, com especialização em Ética Institucional, aos 36 anos, tem uma extensa experiência profissional. Foi assessor parlamentar, professor de Filosofia em uma escola pública em Capão Redondo, além de trabalhar em empresas privadas. Chegou à Subprefeitura de Vila Mariana como coordenador de Administração e Finanças, passou a chefe de gabinete e, com a saída de Fábio Lepique, foi convidado pelo secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, a ocupar a cadeira de subprefeito.A seguir, ele fala sobre seus filósofos preferidos, bairros protegidos e adianta que resolverá o problema dos entulhos da calçada da Cinemateca.

Pedaço da Vila: Qual sua formação e experiência profissional?

Alexandre Modonezi: Sou formado em Economia e Filosofia pela Universidade Mackenzie. Minha experiência profissional começou na Câmara Federal em 1998, quando atuei como assessor parlamentar até o ano de 2001. Entre 2002 e 2004, trabalhei em empresas dos ramos de alumínio e agropecuária. No primeiro semestre de 2005, fui estudar Filosofia no Canadá, na Universidade de Vancouver. Em seguida, ingressei na Secretaria Municipal de Esportes, como assessor técnico de gabinete e relações internacionais. Durante esse período, dei aula de Filosofia para alunos do ensino médio, na rede estadual paulista. Atuei como coordenador de administrador e finanças (CAF) na Subprefeitura da Vila Mariana, entre abril de 2006 e maio de 2007, depois passei a ser chefe de gabinete. Em abril de 2008, fui convidado pelo secretário das subprefeituras, Andrea Matarazzo, a assumir o cargo de subprefeito.

P.daVila: Conte-nos um pouco sobre a sua experiência como professor.

A.M.: Foi uma das experiências mais gratificantes, pois consegui ótimos resultados depois de ter conquistado meus alunos com a troca de papéis no uso de celular. Quando comecei a dar aulas, já tinha informações que os alunos não respeitavam os professores, recebendo e fazendo ligações do celular. Resolvi então fazer o mesmo. Pedia para meus amigos me telefonarem no meio da aula. Pedia licença e atendia o telefone. Os alunos começaram a reclamar, dizendo que não tinha cabimento um professor parar a aula para atender telefonemas. Foi quando as coisas começaram a melhorar. Consegui mostrar, na prática, os direitos e deveres que devem ser iguais, tanto para alunos como para os professores.

P.daVila: Quais são seus filósofos preferidos e por quê?

A.M.: Tomas Hobbes – ele consegue retratar a questão do homem ao lidar com seus reais interesses. Retrata o ‘ser’ como é, ou seja, com suas aspirações e fraquezas, motivado pela vaidade e desejos. Nos dias de hoje, a visão de Hobbes defende a necessidade da existência dos ‘Estados’ para a organização da sociedade. Charles Taylor -ele tem uma linha de pensamento atual ao trabalhar com o multi- culturalismo, o novo, o contemporâneo. Taylor retrata o choque entre diversas culturas dentro de uma sociedade. Emmanuel Kant – sua linha de pensamento segue a linha da ética, em qualquer que seja a situação. E John Rawis – que ensina que o ideal da justiça é a eqüidade, o seu objetivo é permitir que todos tenham um tratamento eqüitativo, o que não quer dizer igual, mas justo.

P.daVila: O senhor é especializado em Ética Institucional, como ampliá-la verdadeiramente em uma gestão pública?

A.M.: Agindo conforme a ética Kantiana, ou agir de maneira correta, com princípios, critérios iguais a todos e obedecendo a lei.

P.daVila: O Sr. Defende as estruturas humanizadas, que só é possível quando, dentro das secretarias normativas, houver agências de desenvolvimento. Explique.

A.M.: Quando o homem tem a função de administrar uma empresa ou um departamento, não pode esquecer que na maior parte do tempo está administrando ‘gente’. Isso quer dizer que é preciso trabalhar a questão humana para alcançar os resultados desejados. Quando temos essa consciência, todos ficam motivados e entendem o real motivo do trabalho, sentem-se parte do contexto. Não devemos esquecer de um conceito básico, e que não é utopia: administramos ‘gente’ para ‘gente’. Por isso, acredito que seria de extrema importância a criação de agências de desenvolvimento, pois elas possuem a visão técnica e externa de uma administração, mas ao mesmo tempo estão totalmente ligadas aos órgãos pelas quais são contratadas. É como se fosse uma ANATEL, ou seja, uma agência reguladora com corpo técnico competente para auxiliar na gestão de empresas e das ‘pessoas’ que nelas trabalham.

P.daVila: O pedaço da Vila Mariana é uma região de ligação de passagens. O aumento do número de carros na cidade reflete diretamente em nossas vidas. A situação piora com a construção de novos edifícios em pequenasviasjá saturadas. Há estudos sobre o impacto de fluxo de tráfego decorrente a novos empreendimentos imobiliários?


A.M.: A lei de uso e ocupação de solo não prevê estudos normativos de pólo gerador de tráfego para edifícios residenciais isolados, somente para grandes empreendimentos imobiliários. Com o aumento do fluxo de veículos na cidade e na Vila Mariana, em especial o pedaço da Vila, os efeitos do trânsito acabam sendo mais drásticos do que em outras regiões. A readequação do Plano Diretor seria uma ótima alternativa para o problema do trânsito. Para isso, a Câmara Municipal está promovendo a revisão dos projetos de combate aos pólos geradores de trânsito, a fim de encontrar soluções mais próximas da realidade.

P.daVila: Fale um pouco sobre os bairro protegidos.

A.M.: Os bairros protegidos são bolsões, estritamente residenciais, que existem em diversos países, como EUA e Canadá. Na região da Vila Mariana, existem cerca de 40 associações de bairro promovendo estudos e discussões para a viabilização desse projeto. Por outro lado, o Ministério Público tem questionado a viabilidade da existência desses bairros. Já a CET tem, inclusive, propostas deferidas sobre o assunto.

P.daVila: Há décadas o bairro sofre com o entulho jogado na calçada da Cinemateca. O que a subprefeitura está fazendo para resolver o problema?

A.M.: A calçada da rua Gandavo, onde se localiza a Cinemateca, é um local viciado de descarte de entulhos. A fim de diminuir o problema, funcionários da Subprefeitura realizam a remoção do lixo três vezes por semana e desde então a situação é mantida sob controle. Para evitar futuros transtornos, a Subprefeitura solicitou, além de que seja intensificada a fiscalização no local, a colocação de uma grade em um trecho do muro, a fim de atender uma reivindicação antiga dos moradores.

P.daVila: Como a população pode se defender diante de especuladores imobiliários, políticos desonestos e a falta de leis voltadas à proteção de seu entorno?

A.M.: A melhor maneira da população se defender é participar das organizações de bairros como associações ou conselhos. Um exemplo positivo é o Conseg Paraíso (Conselho Comunitário de Segurança), que tem participação expressiva dos moradores da região, ponto fundamental para fazer valer os direitos de cidadão. Infelizmente, o caso do Conseg Paraíso não acontece com a maioria das associações ou organizações comunitárias, onde a participação das pessoas é inexpressiva. Um exemplo são as reuniões de condôminos, onde muitas vezes a participação é nula. A efetiva participação da população nas reuniões das organizações civis, é o ponto chave para a conquista de muitas benfeitorias nos bairros.