Convite para Refletir
Lamento, mas não vou ter com você, caro leitor, uma conversa sobre ovos de Páscoa. Como sou um simples colunista, devo levá-lo para além disso e ter contigo aquele tipo de conversa que foge dos “ti-ti-tis” e etiquetas das festas.
Nesta época, éticos de plantão e amantes da humanidade desfilam com suas faces de piedade, uma indignação chique, contra a comercialização que permeia esta comemoração, comum entre judeus, cristandade e digamos assim, pagãos. Fazem isso com um sorriso meio escuro, talvez fruto de um indefectível pedaço de chocolate que teimosamente adere aos dentes.
Quando digo que a festa é compartilhada por pagãos, quero esclarecer que segundo “Funk Wagnalis Standard Dictionary of Folclory, Mithology and Legend” (New York;1940) VOL1 Pags 334, 335: “A festividade cristã, que comemora a ressurreição de Cristo, sincronizada com a Pesach Judaica, e misturada (…) com ritos pagãos (…) crianças fazem rolar os ritos pascoais…Em toda parte vão à procura dos ovos, de muitas cores, trazidas pelo coelho de Easter (da Páscoa).” Não se trata de mera brincadeira de criança, mas é vestígio de um rito de fertilidade, acompanhado de orgias, sendo que os ovos, assim como o coelho simbolizam a fertilidade.
Por favor, não vejam em mim alguém que simplesmente não gosta de festas. Longe disso! Mas pensando bem, o comércio e a indústria talvez sejam os únicos segmentos com motivos para comemorar a data.
Alguém talvez objete: “Mas e as crianças? Será que elas não desfrutam dos presentes e da fantasia?” Provavelmente sim, por pelo menos uns dez minutos.
Visto que a páscoa (pesach) veio para propor a libertação dos judeus, talvez fosse apropriado para toda a humanidade, reavivar a figura de nosso libertador.
Tem gente que jura que Deus morreu. Muitos alegam que se Deus existisse, muitas das atrocidades pelas quais a humanidade tem passado, nunca teriam ocorrido. No fundo, vejo neles a cara da criança brava na sua carência humana gritando contra, o que ela supõe ser, a indiferença cósmica diante da dor, do abandono.
Para tais, Deus causa o sofrimento, ou fechou Seus olhos. Mentira: sofremos porque queremos assim. Honestamente, quantos de nós não se revoltariam contra uma intervenção divina, alegando um atentado à nossa tão declarada liberdade?
Portanto, quando os judeus foram libertos da escravidão do Egito e, depois, quando o filho de Deus sofre e morre por amor a quem não merecia, o que desejava Deus? Escravizar-nos? Não: a escravidão tem sido lamentavelmente a escolha de cada um de nós.
Perna de Cordeiro assada
Ingredientes: 1 Perna de Cordeiro novo
Especiarias: 1 colher de sopa de alecrim,1 colher de sopa de cardamomo esmagado
1 colher de sopa de mostarda em grão, 1 colher de sopa de coentro em grão
3 folhas de louro, 4 dentes de alho, 1 Litro de vinho branco seco, 1 xícara de xarope de romã, 2 colheres de sopa de sal, água quanto baste
Acompanhamento: 2 maços de azedinha ( pode ser substituída por 2 maços de escarola deixada de molho no suco de limão por 4 horas. Não esquecer de coar o líquido antes de utilizar), 1 cebola, 3 colheres de sopa de manteiga, 1 xícara de pinoli torrado ou nozes
Preparo:Num recipiente que comporte o pernil, junte todas as especiarias, o vinho e o xarope de romã. Cubra com água, salgue e deixe descansar na geladeira por 2 dias.
Retire a perna de cordeiro do líquido, enxugue com papel toalha (descanse o líquido). Besunte com bastante manteiga, cubra com papel alumínio e asse em forno médio por 2 horas. Retire o papel alumínio, polvilhe sal grosso, regue com o líquido que se formou até dourar. Sirva acompanhado do refogado de azedinha e pão ázimo(sem fermento).
Felipe Gutierrez: é arquiteto e chef de cozinha. Quotidianum Doces e Salgados, tel.: 5572.6938