Não se sinta só nas comemorações de final de ano

E afinal, o que é festejar?

Pode ser um brinde, um abraço, uma mesa farta – ou não – um bate papo amoroso, uma festa lindíssima, ou apenas uma reunião de poucos, mas bem expressiva e alegre, entre tantas designações…

O fato é que essa celebração tem significados diferenciados para as pessoas de uma maneira geral.

Dependendo da idade, do momento daquela pessoa, da crença, da cultura do local, de questões familiares, as festas têm simbologias próprias, com maior ou menor importância.

No Japão, por exemplo se faz celebrações póstumas àqueles que faleceram, em respeito aos mortos. E isso é visto de maneira absolutamente normal e esperada.

A Páscoa na Turquia, é celebrada marcando o fim da quaresma, período de jejum religioso e nenhuma carne é consumida.

E assim, cada povo e local traz à tona, em dadas situações, rituais específicos.

E no final do ano, como isso corriqueiramente é visto?

As festas de final de ano costumeiramente abarcam no mundo ocidental, o Natal e o Ano Novo.

Dia 25 de dezembro, nas religiões cristãs, se comemora o nascimento de Jesus Cristo, como o “Messias” que veio ao mundo para trazer uma mensagem de amor e, portanto, os festejos tradicionalmente se reportam a simbologias de consagrações religiosas, presépio, ceia na passagem (dia 24 para 25), almoço no dia, troca de presentes e, teoricamente, seria uma homenagem e comemoração absolutamente feliz e despretensiosa.

Porém, nem todos os lares conseguem toda essa condição e harmonia. Nem sempre é um problema socioeconômico, muitas vezes está mais ligado à própria relação das pessoas.

O ser humano é complexo; às vezes, está tão ligado à parte comercial do Natal, que se esquece que o principal é a reunião. Não é o que se come na mesa, mas o que se diz, como interage. Nem sempre os familiares têm ideias semelhantes, gostam das mesmas músicas, falam de assuntos pertinentes ao momento. Ou seja, muitos cumprem um protocolo de conduta, por ser Natal.

E perguntamos: o que isso pode significar na sua vida? Se o propósito é propagar uma celebração de amor, onde se perdeu essa intenção? Alguns afirmam que é pelo excesso de comercialização de presentes, outros pela falta de religiosidade. Porém em atendendo nossos pacientes, vislumbramos indivíduos, muitas vezes, sem fé na vida, cumprindo rituais, apenas. Já não estavam bem antes e simplesmente se fecham para aquilo que poderia dar algum prazer, alguma alegria.

Na verdade, muitos bebem mais do que deviam, falam coisas desnecessárias, se alimentam desgovernadamente, cultuam pensamentos negativos e destrutivos.

Fernando Pessoa (dez/1934), em “Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum”, cita que o entendimento dos símbolos e rituais exige do intérprete, que possua cinco qualidades: simpatia, intuição, inteligência, compreensão e, por último, que seria uma “graça”, o que ele definiria como a “Mão do Superior Incógnito”, como uma Conversação do “Santo Anjo da Guarda”.

Nesse sentido, essa simbologia do Natal pode ter ou não significância ou entendimento para alguns e não ter para outros.

Se pensarmos no Réveillon, consagrado mundialmente, há também muitos rituais, como fogos de artifício, pular 7 ondas, comer lentilha, usar branco, etc…

Mesmo aqui, tem que haver uma crença, um desejo no qual intento atingir fartura, paz, união e tudo mais o que o coração assim o deseja.

Uma virada de ano pode culminar em muitos sentimentos de renovação, projetando novos objetivos e traçando ideais.

Contudo, também podemos nos reportar àquilo que não realizamos, que deixamos de “ganhar”. Tantas perdas concretas; sejam monetárias, afetivas, por morte etc – o que pode nos paralisar mediante as festas de final de ano.

Nesse instante, pensamos naqueles que, mesmo estando juntos em família ou com amigos, sentem-se sós.

Qual de nós que, em algum momento, estando rodeados de pessoas, nos sentimos isolados por dentro? Acho que é uma experiência até bastante comum.

Nem todo mundo se sente feliz em reuniões, ao contrário, às vezes estão representando apenas um papel na sociedade. Estar bem consigo mesmo pode ser com poucas pessoas, ou até mesmo, só!

Conheci, há anos, um terapeuta que passava a noite do dia 24 de dezembro conversando com pessoas vulneráveis e de risco, por telefone. Quando indaguei se ele não sentia falta da família nesse momento, me surpreendi com a resposta: Não! – ali ele era a representatividade da família para quem não tinha mais nenhuma esperança de vida…

Bem sabemos, na área psicológica, o quanto é difícil para muitos indivíduos lidar com as festas de final de ano.

Na experiência terapêutica, não é incomum vislumbramos um vazio existencial em nossos pacientes. É como se o mundo todo estivesse feliz, menos eles próprios. Para quem se sente assim, é fundamental buscar ajuda.

Cada um vive o sentimento no seu próprio simbólico e pautado em suas crenças pessoais.

Sugiro que olhemos para dentro de nós mesmos e tentemos enxergar como nos vemos nessas passagens (Natal e entrada do novo ano). Peço que não tenham medo, que o façam observando as coisas boas que foram realizadas. Tenho certeza de que haverá muitas. Depois, aquelas não tão boas, mas que, com certeza, nos servirão de aprendizado e evolução.

Se perceberem que há mais aspectos negativos do que positivos, não esmoreçam! Novas etapas, novas conquistas e, com certeza, muitos desafios estão para surgir.

Se não tivermos uma família por perto, tentemos um afago de um amigo, um ombro de um vizinho…

Sempre tem alguém do nosso lado, talvez esperando ser chamado para ajudá-lo.

Não se detenham em pedir ajuda e, se ainda assim não derem conta, um auxílio psicológico, da igreja mais próxima, de um médico (se necessário) poderá tirá-los de emoções mais devastadoras.

Com pessoas ao redor – ou sem – busquem uma força, uma energia, que pode vir numa transcendência ao Alto (Deus, Alá, Jeová…), ou simplesmente através de um telefonema, um WhatsApp, ou mesmo uma carta.

Antes de brindarmos, façamos uma saudação a nós mesmos e, com certeza, conseguiremos passar aquele AMOR citado pelo Meigo Rabi da Galileia que nos deixou um legado, a ser seguido:

Amar ao Próximo como a ti mesmo

A decisão é nossa! Só nossa!

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