A alegria pede passagem
No que depender do crescimento ano após ano, esta edição do Carnaval de rua de São Paulo pode se tornar um marco e redefinir os rumos da folia paulistana. Maior e mais ambicioso, o evento colocará 516 blocos nas ruas e almeja reunir 12 milhões de foliões entre os dias 23 de fevereiro e 10 de março.
A programação da festa está distribuída em 29 das 32 subprefeituras. A Vila Mariana reúne 45 blocos e é o terceiro bairro com maior número de participantes. Em primeiro lugar está a Sé, que reúne 149 blocos, e, em segundo, com 102, Pinheiros. Ao contrário das edições anteriores, a organização e a estrutura da festa ficaram agora sob a responsabilidade da prefeitura.
O desenho da folia, conduzido até o ano passado pela Secretaria Municipal de Cultura, foi centralizado em 2019 na Secretaria Municipal de Subprefeituras, que tem a missão de estabelecer um padrão para a festa. E, para melhorar a organização, teve o apoio da recém-criada comissão do Carnaval de rua de São Paulo, formada por representantes dos blocos da cidade.
Esta edição chega com muitas mudanças. A maior delas é a retirada da Av. 23 de Maio, inserida na edição do ano passado como corredor de megablocos. Segundo o recém-empossado subprefeito da Vila Mariana Fernando Cobra Arbex, os megablocos foram concentrados na Av. Pedro Álvares Cabral, para onde foram remanejados alguns dos gigantes que desfilaram na Av. 23 de Maio em 2018, como o bloco de Invertidos. Neste ano, o local concentrará 10 dos 45 desfiles que estão previstos para acontecer no bairro entre os dias 23 de fevereiro e 10 de março.
A região do parque Ibirapuera foi a escolhida como o principal cartão-postal do Carnaval de rua de São Paulo e palco mais cobiçado pelos artistas de grande alcance popular. Entre outros que vão puxar seus megablocos na Av. Pedro Álvares Cabral estão os cantores Alceu Valença, Elba Ramalho, Preta Gil, Bell Marques e o sertanejo Michel Teló. A estimativa é que esses grandes blocos arrastem um público superior a 100 mil foliões cada um.
O desembarque de grandes blocos no Carnaval da vila também está reposicionando a folia realizada na Av. Eng. Luiz Gomes Cardim Sangirard, próxima ao cemitério da Vila Mariana. Nesta edição, o número de desfiles no local saltou para 4. Essa mudança tem preocupado os pequenos blocos da vila.
O vizinho Gilberto Castilho, fundador do bloquinho Amoribunda, cujo desfile virou tradição no local, teme que esse aumento no número de blocos que não são do bairro possa descaracterizar o Carnaval da vila. “Há o risco de sufocar os pequenos blocos, que têm um perfil local e familiar e que se preocupam com os impactos na vizinhança”, diz ele. “Neste ano teremos vários blocos de grande porte e os problemas que eles causam respingam no pequeno bloco do bairro”, ressalta ele.
A preocupação de Castilho é compartilhada pelos demais bloquinhos do pedaço. Seus fundadores lembram como exemplo o já histórico caso da rua Domingos de Morais, que foi ‘fechada’ aos pequenos blocos da vila após um catastrófico desfile do bloco do Sidney Magal, o BlocON, realizado em 2016. O número de participantes extrapolou e a estrutura de segurança não deu conta para impedir empurra-empurra e confusão.
Membro-fundador da comissão de blocos de Carnaval de rua de São Paulo e fundador do tradicional bloco Amigos da Vila Mariana, o carnavalesco Jorge Vespero Garcia diz que os problemas na rua Domingos poderiam ter sido evitados, já que os pequenos blocos avisaram. Neste ano, houve um esforço da organização para evitar que os blocos do bairro fossem abafados pelos gigantes. “O pré-carnaval foi priorizado para os desfiles dos pequenos blocos e o perfil familiar será mantido”, assegura Vespero. No desfile do Amigos da V ila Mariana deste ano o tema faz uma homenagem aos pets. “A folia na região cresceu e hoje tem uma importância muito grande no Carnaval da cidade”, ressalta Vespero.
Pioneiro na retomada do Carnaval de rua do bairro, o Bloco Amigos da Vila Mariana irá desfilar na Rua Conceição Veloso, no entorno do largo da Caixa D’água. Pela primeira vez em sua história, o desfile não será domingo, Este ano será no sábado (23), das 16h às 20h. A mudança do dia da semana aconteceu após uma enquete com os foliões.
Os pequenos blocos de bairro, principais responsáveis pelo ‘renascimento’ do Carnaval de rua de São Paulo na última década, fortalecem seus laços locais para sobrepor as dificuldades, especialmente a financeira. Muitos carnavalescos pagam do próprio bolso. “Os nossos patrocinadores são os pequenos comerciantes do bairro, vizinhos e amigos”, diz Castilho.
Neste ano, os percursos dos pequenos blocos foram repaginados. As ruas Joaquim Távora e Sena Madureira ficaram de fora da folia. A primeira devido problemas num evento durante a Copa do Mundo; a segunda após problemas com o desfile, que invadiu o outro lado da rua e prejudicou o trânsito. O largo da Caixa D’água, ponto histórico do bairro, receberá 3 blocos, entre eles o do Amigos da Vila Mariana.
Muitos moradores cobram um diálogo mais próximo entre a organização do evento e a comunidade. A vizinhança do largo da Caixa D’água afirma que não foi avisada sobre os desfiles no local e promoveram um abaixo-assinado, com 250 nomes, entregue à subprefeitura VM .
Dadas as características do local, eles temem os impactos negativos no entorno. “Pelo volume de pessoas, o evento é impróprio para esse local; prejudicará a livre locomoção, além do excesso de barulho e sujeira”, alerta uma moradora da rua Dona Inácia Uchôa.
Perto dali, a praça Dona Rosa Alves e Silva, na Rua Guimarães Passos, será outro ponto de concentração de pequenos blocos. O destaque fica para o bloco do Pedal, que desfilará pela primeira vez no local. “Como o nosso bloco é sustentável, ficamos felizes em conseguir fazer a nossa festa na praça, pois ela é ampla e os foliões poderão trazer seus animais”, comemora a fundadora do bloco Filó Silva. A concentração do bloco do Pedal começa às 15h e vai até às 19h.
No desfile, a energia elétrica do som é gerada pelas pedaladas dos foliões nas bicicletas para adultos, crianças e cadeirantes, instaladas numa plataforma móvel. Além da bateria Tombom do mestre Jaime, o bloco será acompanhado pelo duo Pê Éfe.
Nesta edição, a folia para o público infantil também aumentou. No pedaço serão 4 blocos: no dia 23 de fevereiro, a Rua Diogo de Faria será tomada pelo bloco infantil Caraviva. Com muita música e brincadeiras, o desfile acontece das 16h às 19h.
No dia 24 de fevereiro, das 10h às 14h, é a vez de o bloco Folia de Bonequins fazer sua estreia na Vila. O desfile será na Rua Madre Cabrini e reunirá a banda de Bonequins, bonecos pequenos e gigantes e apresentações da Trupe Pé de Histórias. “Folia de Bonequins nasceu para legitimar e homenagear a sabedoria das crianças, inclusive a criança gigante que habita cada adulto”, diz a fundadora Beatriz Kovacsik.“
Ainda no dia 24, das 13h às 16h, a Rua Áurea receberá o Bloquinho da Vila, que desfila no pedaço pelo segundo ano consecutivo e promete animar a criançada com bandinha instrumental, artistas circenses e brincadeiras. Em 2018 o bloco reuniu 2 mil foliões na Rua Dr. Fabrício Vampré. “Este ano, parte da renda obtida com a venda dos kits será revertida à associação ahpas de apoio à criança com câncer”, diz o fundador do bloco Paulo Lázaro.
A festa dos pequenos também está garantida no último dia de Carnaval do bairro. No dia 10 de março, das 9h às 14h, a Praça Dona Rosa Alves e Silva receberá a criançada no desfile do celebrado bloco infantil Bloquinho. O repertório musical inclui Tim Maia, passa por Rita Lee e vai até canções do Sítio do Pica Pau Amarelo. A expectativa do bloco é reunir 5 mil pessoas.
O Carnaval 2019 da Vila Mariana pede passagem para seus blocos gigantes, blocos pequenos, sustentáveis, criativos… Para você programar a sua folia, o Pedaço da Vila apresenta a seguir todos os blocos e os horários dos desfiles que irão acontecer no bairro.