A vez e a voz da vila
No dia 8 passado foi apresentada à comunidade a Associação de Moradores da Vila Mariana (AVM), a nova entidade de representação popular do bairro que ‘oficializou’ a sua fundação durante a primeira Assembleia Geral Ordinária, realizada no auditório do Instituto Biológico.
“Esse momento é histórico para a Vila Mariana”, considerou o presidente da AVM, Giuliano Saraceni Issa, diante de uma plateia de 50 pessoas formada pelo subprefeito VM Fabrício Cobra Arbex, lideranças comunitárias e moradores do bairro.
Giuliano lembrou que a AVM começou a ser trabalhada há um ano. Nesse período foram muitos encontros para definir as diretrizes de trabalho. A sua atuação compreende a área delimitada pelas avenidas Brigadeiro Luis Antonio, República do Líbano, Ricardo Jafer e ruas do Paraíso e Luis Góis.
É uma área histórica da cidade, apontou Giuliano. “Ela possui uma geografia singular e reúne o Largo da Caixa D’água, marco na formação da Vila Mariana, as nascentes da Bacia do Sapateiro, que alimentam os lagos do Ibirapuera, e uma série de patrimônios arquitetônicos ícones do bairro, como o Instituto Biológico e a Cinemateca Brasileira”.
O presidente explicou que a AVM é uma entidade política, porém, apartidária. “Independentemente da opção partidária de cada um, o nosso propósito aqui é engrandecer o bairro em diferentes aspectos: culturais, ambientais, sociais… Vamos atender a todas as demandas da comunidade, das pequenas às grandes”.
Nesta primeira gestão, que se estenderá até 2022, a diretoria da AVM é formada por moradores com experiências em instrumentos comunitários da VM como Cades, Conselho Participativo Municipal, Conselho Gestor do Parque Ibirapuera, Conseg e supervisão de Saúde.“São pessoas capacitadas e comprometidas com o bairro”, definiu o presidente.
Na Assembleia foi colocado em debate a cobrança de taxa do associado. Em votação aberta, ficou definido que o associado irá colaborar com um valor de, no mínimo, R$60 anuais, R$5 por mês. “O valor, considerado muito baixo, irá estimular a participação de todos”, justificou Giuliano. A cobrança da taxa do associado, no entanto, só será adotada em 2020, explicou ele. “Ela será adotada apenas no ano que vem. A contribuição mínima é de R$60, mas cada associado poderá colaborar com o valor que considerar melhor”.
O engajamento deu o tom do encontro. A diretora de comunicação da AVM, a jornalista Denise Delfim, ressaltou que o bairro precisa retomar a sua representatividade. E ela foi enfática: “As melhorias que desejamos para o bairro dependem de nós, moradores. Elas não vão acontecer se ficarmos apenas nos lamentando enquanto as características do bairro e sua história são apagadas”.
A união da comunidade por meio de AVM é um passo fundamental no caminho dessas mudanças, considerou Denise. “Após muitas batalhas fundamos a Associação de Moradores da Vila Mariana. Agora, o mais importante é unirmos nossos conhecimentos e amor pelo bairro para termos voz e representatividade. Até então estávamos num vazio”.
O presidente da AVM disse que os moradores não podem mais continuar paralisados diante dos problemas do bairro. “Esse é o momento de chamarmos a responsabilidade e contribuir. De agora em diante, temos que seguir juntos para conseguir melhorar a qualidade de vida no bairro”.
Giuliano afirmou que o fortalecimento da AVM permitirá resolver os problemas mais rapidamente. “O bairro possui demandas urgentes em todas as área: ambientais, arquitetônicas, sociais, segurança… Para atendê-las, a AVM irá criar núcleos temáticos pelo bairro”, explicou.
Embora tenha sido oficializada agora, a AVM já está ajudando o bairro sob diferentes aspectos, informou Denise. “Na preparação da Festa Junina do IB; nos movimentos pelas revitalizações das praças Arquimedes da Silva e Soichiro Honda; no debate sobre a concessão do parque Ibirapuera — a AVM foi eleita suplente do Conselho Gestor do Parque Ibirapuera —, na mobilização contra a demolição da vilinha da Cons. Rodrigues Alves (veja entrevista), no movimento IPTU Justo, entre outras ações”.
A participação de uma associação de moradores é fundamental para ajudar o poder público, afirmou na Assembleia o subprefeito da Vila Mariana Fabricio Cobra Arbex. Ele parabenizou a comunidade pelo engajamento e disse estar “aberto para ajudar a concretizar todas as demandas que considerarem importantes”.
O subprefeito também se ofereceu para intermediar nas pautas que envolvam as instâncias superiores do poder público, como as secretarias municipais. “Podem contar comigo, serei o interlocutor junto a outros órgãos”, afirmou ele, que citou o dificultoso acesso da comunidade ao parque Ibirapuera como um dos pontos a serem melhorados.
O presidente da AVM afirmou que a associação irá potencializar os coletivos e iniciativas comunitárias existentes no bairro. Como exemplo, ele citou o coletivo Chácara das Jaboticabeiras, criado pelos moradores do entorno da rua dr. Fabrício Vampré para preservar a área e a vizinhança do constante assédio imobiliário.
Sob sua presidência, a Associação de Moradores da Vila Mariana se firmará como um centro de informações sobre o bairro, afirma Giuliano. “Além de defender o bairro, seremos um núcleo de pesquisas e conhecimentos. Queremos que os moradores nos apresentem projetos de melhorias para a comunidade”, incentivou ele.
Presente na Assembleia, o ex-secretário do Verde e do Meio Ambiente Eduardo Jorge disse estar muito feliz com a fundação da Associação de Moradores da Vila Mariana (AVM). Eduardo ressalta que a AVM chegou em boa hora. “É muito importante termos uma entidade que cuide do nosso bairro; temos muito a ganhar”.
Na Assembleia Geral Ordinária, a comunidade se apresentou disposta a colaborar. A arquiteta e paisagista Rissiane Pombo, moradora da rua Mário Cardim, revelou ter um projeto para revitalizar esse endereço. “Ele está se deteriorado e precisa receber atenção especial”,
disse, destacando o córrego do Sapateiro.
O vizinho Ricardo Fraga de Oliveira, conhecido no bairro após a mobilização O Outro Lado do Muro, contra a construção do condomínio de luxo Boulevard Ibirapuera na av. Conselheiro Rodrigues Alves, disse que é preciso preservar os mananciais e as áreas residenciais do bairro.
Fraga lembrou que o Plano Diretor de São Paulo (PDE), aprovado em 2014, e a sua Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do SOLO, aprovada em 2016, liberaram a construção de prédios em áreas relevantes para a história da vila, que abrigam exemplares arquitetônicos únicos, como a rua Domingos de Morais, e áreas de nascentes e mananciais, no miolo do bairro.
O desafio agora é tentar corrigir essas falhas por meio da elaboração do Plano de Bairro, apontou Fraga. É nele que a comunidade precisará especificar o que deve e o que não deve ser modificado na Vila Mariana.
Essa pauta já é debatida pela diretoria da AVM e o Plano de Bairro será elaborado com os associados, trabalhando em áreas específicas. “A subprefeitura irá nos ajudar e faremos um levantamento no bairro com a participação dos moradores”, garantiu o presidente da AVM.
Na Assembleia, o vizinho Hanna Garib lembrou que é preciso empenho e deu um recado de encorajamento. “A AVM começou a escrever uma nova história no bairro. Parabéns pela iniciativa. E não esmoreçamos diante dos problemas que irão aparecer nesse caminho. Lutemos!”, disse o ex-vereador.
Membro do conselho fiscal da AVM, Ney Luiz Picado Alvares observou que o bairro precisa recuperar os laços e o convívio nos espaços públicos. “Eu só ando a pé pelo bairro e sinto que esse convívio está se perdendo a cada ano. A vila não pode se transformar em espaços fantasmas, pelo contrário. Ela precisa ser ocupada com pessoas, com diversidade, com corações”.
A Associação de Moradores da Vila Mariana se reunirá uma vez ao mês no Instituto Biológico. No site www.vilamariana.org.br é possível conhecer todos os seus propósitos e projetos, ler o estatuto e se informar sobre datas, pautas e como se associar. Participe!