No dia 16 de junho, cerca de 300 pessoas protestaram no parque Ibirapuera em defesa do Centro de Convivência e Cooperativa, o chamado Cecco do Ibirapuera, unidade de saúde mental do SUS que completa 25 anos e é considerada uma referência em metodologia antimanicomial.
Munidos de cartazes e fazendo coro de frases como “O Cecco é nosso, ninguém tira da gente”, os manifestantes alertaram que o equipamento de saúde pública, inaugurado no parque em 1989, e o Campo Experimental da Escola de Jardinagem correm risco de fecharem as portas com a concessão do parque à iniciativa privada.
Idealizadora dos Centros de Convivência e Cooperativa durante a gestão Erundina e diretora da unidade Ibirapuera por seis anos, Cristina Lopes explica que esses espaços oferecem um importante serviço à população e não podem ser condenados. "Não queremos apenas que fiquem de fora da concessão, mas também a garantia da continuidade desses trabalhos em seus espaços originais".
Hoje, a cidade dispõe de 26 Cecco's, sendo 12 deles abrigados em parques. "A tônica da nossa luta é pela manutenção desses trabalhos humanitários que garantem qualidade de vida, mobilidade e que têm por vocação a relação afetiva entre as pessoas e a natureza. Queremos que o casarão que abriga o Cecco e o Curso de Jardinagem sejam preservados para a continuidade dos seus trabalhos, que promovem diversidade e tolerância nesse momento tão difícil em que vivemos no país", ressalta Cristina.
Os funcionários estão apreensivos, diz um deles, que pediu para não ser identificado. “Durante uma reunião entre a prefeitura e os funcionários, o encerramento das atividades do Cecco foi dado praticamente como certo. Já que não podem construir mais nada no parque, que é tombado, querem aproveitar esses prédios”.
Hoje, a construção no parque só é permitida se houver a demolição de outro prédio da mesma proporção. “Eles querem aproveitar para derrubar essas construções e então construir novas para abrigar restaurantes e lojas”, lamenta outro funcionário. E enfatiza: “Um trabalho de 25 anos de excelência em saúde pública não pode ser condenado em função do lucro”.
As atividades do Cecco são abertas à população em geral e promovem a saúde e o bem-estar por meio de convivência e do contato com a natureza. O equipamento oferece oficinas de horta urbana, jardinagem, bordado, jardins, artesanato, dança... Parte da programação é feita em parceria com o Campo Experimental da Escola de Jardinagem, cujos galpões são usados como salas de aula.
Num gesto simbólico, os manifestantes promoveram um abraçaço na sede do Cecco. A ideia foi mostrar que, tanto o Centro de Convivência e Cooperativa como o Campo Experimental da escola de Jardinagem do parque Ibirapuera são espaços indispensáveis à população e que serão defendidos.
No site Petição Pública, um abaixo-assinado que conta com quase 1500 assinaturas pede o apoio da população para impedir o encerramento das atividades dos espaços.
UM NOVO MODELO DE GESTÃO
A concessionária que irá administrar o parque Ibirapuera pelos próximos 35 anos deve ser anunciada pela prefeitura em poucos dias.
Aos 64 anos, o maior e mais cobiçado parque da cidade possui 1,58 milhão de metros quadrados, 163 espécies de animais e 150 mil visitantes por fim de semana.
O custo anual de manutenção chega a R$ 29 milhões de reais e, de acordo com estimativa da prefeitura, hoje ele precisa de obras que somam R$ 22 milhões.
A nova gestão poderá explorar fontes de receita nos equipamentos existentes no parque, entre eles os estacionamentos, lanchonetes, restaurantes, a Oca, o Planetário e o Pavilhão das Culturas Brasileiras.
Nessa nova fase do parque, a fiscalização da administração será realizada pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA).
Desde o lançamento do edital, em fevereiro deste ano, a prefeitura tem afirmado que a entrada da população no parque permanecerá gratuita.
Concessão adiada
A concessão, que estava prevista para acontecer nesta quinta-feira (12), foi adiada pelo atual prefeito Bruno Covas (PSDB), que ainda não definiu uma nova data.
A suspensão do edital se deu em função de alterações para especificar as devidas obrigações da concessionária que assumir a administração.